Folha de S. Paulo


Especulação sobre governo Trump causa onda de valorização do dólar

Especulações sobre a política econômica a ser adotada pelo presidente eleito dos EUA, Donald Trump, levaram o dólar a uma onda de valorização em todo o mundo. Isso influencia a economia de países emergentes, como o Brasil, onde a já fraca recuperação da atividade pode ficar ainda mais lenta.

Os sinais iniciais, captados com o primeiro discurso de Trump após a vitória, sugerem que, no Brasil, a cotação da moeda americana deve ficar mais elevada e os juros vão cair em velocidade mais lenta, afirmam analistas.

O resultado dessa combinação é um estímulo menor à retomada da economia brasileira, que está há mais de dois anos em recessão. Nesta quinta (10), o dólar comercial à vista subiu 5% no Brasil, para R$ 3,36, a maior alta em oito anos (desde outubro de 2008) e Bolsa caiu 3,25%.

Como resposta ao que já foi batizado de "trumponomics" no exterior, o Itaú Unibanco reviu sua projeção para a taxa básica de juros no Brasil. Em vez de um corte de 0,5 ponto percentual na reunião deste mês, os economistas do banco preveem redução de 0,25 ponto, para 13,75% ao ano.

O ex-presidente do Banco Central do Brasil Carlos Langoni afirma que a provável moderação do BC brasileiro é resultado de um aumento antecipado dos juros nos EUA, que passou a ser cogitado desde a eleição de Trump.

EFEITO TRUMP - Bolsas

O republicano reafirmou no discurso de posse que uma de suas prioridades será investir maciçamente na infraestrutura interna dos EUA, o que estimulou as apostas de que os juros vão subir. Durante a campanha, Trump disse que gastaria US$ 500 bilhões em infraestrutura, cerca de 3% do PIB americano.

Mais gastos públicos, aos ouvidos dos investidores, é mais inflação. E inflação, tanto nos EUA quanto no Brasil, tem como resposta dos bancos centrais taxas de juros mais elevadas. Desde a eleição de Trump, os juros dos títulos americanos com vencimento em 10 anos negociados no mercado financeiro dispararam 15%.

Além de mais investimentos, Trump prometeu durante a campanha que reduziria os impostos para empresas e pessoas físicas, o que tenderia a aumentar o consumo. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 1,17%, com pontuação recorde (18.807 pontos).

"É uma visão um pouco 'naive' [ingênua, em inglês]", diz Langoni. "Se o aumento de gastos não é compensado com corte em outros gastos a expectativa de inflação sobe, os juros sobem e o crescimento econômico não se concretiza. Se fosse fácil assim, por que já não teriam feito?"

CÂMBIO - Variação de outras moedas em relação ao dólar, em %

Mesmo antes da vitória do republicano, a expectativa era de que os juros nos EUA iriam subir, na esteira de uma melhora da economia americana. Mas o ritmo esperado era moderado, o que ajudava o Brasil, que vinha ganhando tempo para ajustar suas contas e sair da recessão antes que os investidores voassem de volta para os EUA, atrás de juros mais altos.

Mas os investimentos em infraestrutura podem ter como resultado mais demanda por minério de ferro e aço, produtos vendidos pelo Brasil. Em relatório, o americano BofA/Merrill Lynch disse que o saldo para ativos de países emergentes pode ser positivo. Já o JP Morgan vê risco de uma política protecionista deprimir o comércio internacional.

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Entenda a economia sob Trump

Quais são as promessas de Donald Trump para a economia americana?

Uma das críticas sofridas pelo republicano durante a campanha era o fato de não dar detalhes sobre o que vai fazer para a maior economia global. No seu discurso de vitória, ele prometeu investimento maciço em infraestrutura.

Durante a campanha, Trump prometeu ainda cortar impostos e reduzir a regulação do setor financeiro e das legislações ambiental e trabalhista.

Além disso, afirmou que vai renegociar o acordo de livre-comércio com México e Canadá e impor tarifas mais duras para os produtos chineses

Se as promessas não são claras, por que as Bolsas americanas bateram recorde?

A aposta dos investidores é que setores como banco, empresas de energia e farmacêuticas serão grandes beneficiárias das novas políticas. A história mostra, porém, que é preciso muita cautela nesses momentos. Frequentemente as promessas de campanha não viram realidade após a posse do presidente

Como fica o Brasil?

A grande questão é o que sairá do discurso para a prática. Nesta quinta-feira (10), o dólar foi mais afetado porque a grande preocupação foi se as políticas de Trump para infraestrutura não vão gerar inflação, o que levaria o BC dos EUA a subir os juros mais rapidamente, atraindo para os mercados americanos investimentos que hoje estão em emergentes


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