Folha de S. Paulo


Lucro do Banco do Brasil recua 18,9% no 3º trimestre, para R$ 2,34 bilhões

Marcos Elias de Oliveira Júnior/Wikimedia Commons
Agência do Banco do Brasil em Pau dos Ferros (RN)
Agência do Banco do Brasil em Pau dos Ferros (RN)

O lucro líquido ajustado do Banco do Brasil —que exclui efeitos extraordinários de receitas e custos—caiu 18,9% no terceiro trimestre deste ano, para R$ 2,337 bilhões, informou a instituição financeira nesta quinta-feira (10).

Em relação aos três meses anteriores, quando o banco lucrou R$ 1,801 bilhão, houve alta de 29,8%.

O lucro líquido contábil, que inclui a provisão extraordinárias com demandas contingentes e perdas com planos econômicos, somou R$ 2,246 bilhões, queda de 26,6% ante o terceiro trimestre de 2015 e recuo de 8,9% na comparação com os três meses anteriores.

O banco atribuiu o resultado ainda à criação da Cateno em 2015, parceria com a Cielo na área de cartões, e também a uma provisão relacionada a uma companhia do setor de óleo e gás que analistas do mercado acreditam ser a Sete Brasil, empresa de sondas para o pré-sal que teve de pedir recuperação judicial.

A carteira de crédito do banco recuou 6,9% em relação ao terceiro trimestre de 2015, para R$ 734 bilhões. Na comparação com os três meses anteriores, a queda foi de 2,3%.

O principal vetor da queda foram os empréstimos a empresas. A carteira do banco para pessoas jurídicas caiu 9,4% em relação a um ano antes, para R$ 263,539 bilhões. Quando se compara com o segundo trimestre, a redução foi de 4,1%. Houve retração nas concessões a micro e pequenas empresas (-18,3%) e também a médias e grandes (-6%).

O crédito para pessoas físicas cresceu 3,8% na comparação anual, para R$ 185,731 bilhões, mas caiu 0,9% em relação ao segundo trimestre. Os empréstimos consignados, considerados menos arriscados aos bancos por terem desconto em folha de pagamento, permaneceram praticamente estáveis tanto frente ao terceiro trimestre de 2015 quanto ao segundo trimestre deste ano.

A carteira de crédito imobiliário cresceu 17% e empréstimos pessoais aumentaram 1,8% na base anual. As linhas mais caras, cartão de crédito e cheque especial, cresceram 3,4% e 10,4%, respectivamente.

Na ponta contrária, o banco reduziu ainda mais o financiamento de veículos. Esses empréstimos caíram 18,3% na comparação anual e 12,1% na trimestral.

Com o resultado do terceiro trimestre, o BB revisou as projeções deste ano para sua carteira de crédito nas operações domésticas. Antes, calculava que poderia haver recuo de 2% ou crescimento de 1% no crédito concedido. Agora, estima queda na faixa entre 6% e 9%.

A maior revisão foi feita na carteira de pessoas jurídicas. O banco agora prevê recuo de 16% a 19% nos empréstimos a empresas. A estimativa anterior era de queda de 6% a 10%.

"A gente tem percebido uma demanda bem menor que imaginava", disse José Maurício Pereira Coelho, vice-presidente de relações com investidores do BB. Segundo ele, os créditos vencidos não estão sendo renovados pelos tomadores, por isso a carteira encolhe.

O banco disse, no entanto, que deve continuar com a estratégia de atender a nova demanda que venha a aparecer e não pretende trabalhar para "criar" nova demanda.

RECEITAS

A margem financeira do banco cresceu 13,9% em relação ao terceiro trimestre de 2015, ajudada pelo aumento da receita com empréstimos e pela recuperação de créditos. A margem é a diferença entre a taxa de captação de recursos e quanto a instituição cobra em um empréstimo.

A receita do banco com tarifas cresceu 5,8% na comparação anual, mas caiu 0,7% na base trimestral, afetada, entre outros fatores, pela queda de 10,1% em seguros, previdência e capitalização.

O banco atribuiu o forte crescimento da margem financeira ao movimento de reprecificação da carteira. "A gente percebeu que precisava ganhar mais dinheiro com o mesmo valor de carteira", disse Coelho.

"Esse esforço permanece." O BB, no entanto, começa a enxerga um limite para renegociar carteira e elevar o custo de crédito.

Do lado dos custos, as despesas operacionais do Banco do Brasil cresceram 9,9% em relação a setembro de 2015, para R$ 13,655 bilhões. A alta foi de 3% ante o segundo trimestre. A principal pressão veio das despesas administrativas, que aumentaram 7,3% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. Só os gastos com pessoal subiram 10,9%, para R$ 5,283 bilhões.

O índice de inadimplência medido por operações com atraso superior a 90 dias subiu de 2,06% no terceiro trimestre de 2015 para 3,51% nos três meses encerrados em setembro deste ano. Foi o sexto trimestre seguido em que o indicador aumentou.

"O mais provável que o pico da inadimplência aconteça no ano de 2017", disse o vice-presidente. Já o pico de despesas contra devedores duvidosos ocorreu no primeiro semestre deste ano, na avaliação do executivo.

Com o desemprego em níveis recordes e inflação pressionando a renda dos consumidores, a inadimplência tem aumentado nos bancos que operam no Brasil. Itaú, Bradesco e Santander Brasil viram seus indicadores subirem no terceiro trimestre deste ano.

Para Coelho, o cenário de inadimplência é o principal risco para o mercado de crédito hoje. Para que o banco pudesse reduzir taxas de juros cobradas dos clientes, seria preciso uma redução nesse risco, mais do que a queda nos custos de captação.


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