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Aderir a abertura de capital exige planejamento de investidor

Léo Burgos - 09.jun.2014/Folhapress
Aderir a oferta inicial de ações exige planejamento
Aderir a oferta inicial de ações exige planejamento

A expectativa de uma retomada nas aberturas de capital em Bolsa, com cerca de 20 operações até 2017, deve aumentar o incentivo para que o pequeno investidor participe dessas ofertas.

Algumas empresas que podem lançar ações nos próximos meses são a incorporadora Tenda e o Carrefour.

Especialistas recomendam, porém, que a adesão a um IPO (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) só ocorra se houver um plano de diversificação de investimentos e disposição para pesquisar sobre a companhia, potencial de crescimento nos próximos anos e o desempenho dos concorrentes que atuam no mesmo setor.

Além disso, a orientação para IPO é parecida com a sugerida para quem já tem dinheiro em ações: apenas uma parcela muito pequena dos investimentos deve ir para renda variável, e os recursos precisam ficar aplicados nesses papéis por anos.

Veja como participar de um IPO

William Eid Junior, professor e coordenador do GV CEF (Centro de Estudos em Finanças da FGV/EAESP), sugere que o investidor compare a rentabilidade esperada no IPO com os ganhos na renda fixa, que rende pelo menos a taxa básica de juros (Selic, hoje em 14% ao ano).

"IPO é para quem tem estratégia definida. Se eu estou comprando para o longo prazo, eu estudei o setor em que a empresa está, sei que ele vai ser vitorioso daqui a dez anos", afirma Eid Junior.

O problema para o pequeno investidor é justamente avaliar essas informações.

O principal material que mostra dados da empresa e os riscos a que ela está sujeita é o prospecto informativo, espécie de material publicitário da oferta pública, que é regulado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

"É preciso ler o prospecto, ver se faz sentido. Entender o que vai ser feito com o dinheiro captado, olhar quem são os gestores", sugere Andrea Minardi, professora do mestrado do Insper.

Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, diz que uma oferta primária pode ser mais positiva para o pequeno investidor que a secundária.

Na oferta primária, o dinheiro da venda de novas ações vai para o caixa da empresa. Na secundária, os atuais donos da companhia vendem os papéis para embolsar o dinheiro. Na prática, pode indicar que eles não consideram o negócio tão atrativo assim.

NO DIA SEGUINTE

Comprar uma ação em IPO para vender os papéis nos primeiros dias de negociação também é desaconselhado pelos especialistas.

"Não é porque é IPO que o preço sobe no primeiro dia", diz Minardi.

Em pesquisa conduzida pela professora, 60% das operações tiveram retorno positivo nos primeiros dias de negociação, considerando levantamento de aberturas de capital feitas entre 2004 e 2012, o período de maior crescimento desse mercado no país. Em 40% dos casos, os papéis se desvalorizaram.

Apostar que as ações devem subir depende de uma avaliação do preço do início de negociação. Para subir, ele, em tese, precisa ser considerado barato pelo mercado.

Ao aderir a um IPO, o pequeno investidor pode fixar o preço máximo que está disposto a pagar -se a ação for mais cara, ele fica de fora- ou acompanhar o mercado.

No entanto, mesmo que indique um preço, a avaliação da pessoa física não é levada em conta na formação de preços. Esse papel cabe aos investidores institucionais, como grandes fundos de pensão. E, aí, a expectativa de ganhar no início das negociações pode ser frustrada.


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