Folha de S. Paulo


Produção industrial avança 0,5% em setembro

A produção industrial brasileira teve leve alta de 0,5% em setembro em relação a agosto, divulgou o IBGE nesta terça-feira (1º). É a primeira alta desde junho e a sexta, não consecutiva, do ano.

O dado veio levemente abaixo do centro de expectativa de analistas consultados pela agência internacional Bloomberg, que esperavam alta de 0,6%. Na Reuters, a estimativa era de alta de 0,4% na comparação mensal.

A produção industrial tem oscilado neste ano, após um 2015 em que caiu em dez dos 12 meses do ano. Setembro teve alta, depois de julho (-0,1%) e agosto (-3,5%) de quedas.

No terceiro trimestre do ano, houve queda de 5,5% em relação a igual período do ano passado.

Na comparação anual, com setembro de 2015, houve recuo de 4,8% –dado que, ainda que negativo veio melhor que a estimativa dos analistas ouvidos pela Bloomberg, de retração de 5,1%, e pela Reuters, de contração de 5,2%.

É a 31ª taxa negativa nessa base de comparação. Foi a queda menos intensa desde de junho de 2015 (-2,6%).

No acumulado do ano, a queda na produção foi de 7,8%. Já nos 12 meses encerrados em setembro, o recuo é de 8,8%.

Produção industrial - Variação em %

O primeiro semestre teve taxas positivas, mas a melhora não era reflexo de uma recuperação mais estruturada, explica o economista chefe do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Rafael Gagnin.

Segundo ele, no início do ano, as empresas aumentaram produção, sobretudo devido ao dólar valorizado, que beneficiava setores exportadores e também encarecia importados.

Com a volta do dólar para patamares de R$ 3,20, a indústria, hoje com capacidade ociosa ainda grande, voltou à situação desfavorável.

"Em agosto, quando a indústria recuou 3,5% frente a junho, ficou claro que o primeiro semestre foi um respiro e não uma recuperação", disse.

"A indústria continua a pisar em ovos, em terreno ainda movediço. O terceiro trimestre começa pior do que foram os seis primeiros meses do ano".

Segundo Cagnin, não há fundamentos na economia que ensejem uma recuperação plena no curto prazo.

Ele explica que devido à capacidade ociosa e à grande quantidade de estoques, não há perspectiva de melhora no investimento privado.

As concessões, assim como os investimentos público, estão suspensos à espera de definições do governo federal.

A despeito da pequena redução, a taxa de juros continua alta, atrelada a cenário de desemprego elevado, renda pressionada e crédito mais escasso.

Com todos esses fatores, explica o especialista, as perspectivas se mantêm no campo pessimista.

"Realmente o ambiente ainda não é propício para a retomada. Por isso que a indústria tenta, mas encontra diversos obstáculos para recuperação", afirma.

SEGMENTOS

Os bens de capital, que são as máquinas e equipamentos, tiveram a queda mais expressiva, de 5,1%, em setembro, entre as três grandes categorias econômicas investigadas pelo IBGE.

O desempenho dos bens de capital é um dos principais indicadores de investimentos na produção industrial. Se as empresas não estão comprando máquinas, é sinal de que não estão investindo em sua produção.

Os bens de consumo tiveram recuo de 0,5% —houve queda de 1% na produção de semiduráveis e não duráveis e de alta de 1,9% nos bens duráveis.

Quatorze dos 24 sub-segmentos apurados na pesquisa tiveram queda, com destaque para produtos de fumo, cuja produção recuou 9,7% em setembro.

Também tiveram mau desempenho, por exemplo, máquinas (-8,1%), produtos farmacêuticos (-6,2%) e móveis (-5,1%).

Na outra ponta, os produtos alimentícios tiveram melhora de 6,4% na produção, seguidos de automóveis e carrocerias, com alta de 4,8%.


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