Folha de S. Paulo


BNDES diz estar aberto a mudanças na sócia JBS

Fabio Braga - 17.JUL.15/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 17-07-2015: O presidente da JBS, Wesley Batista, 45, durante entrevista exclusiva para a Folha de S.Paulo. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, MERCADO)***EXCLUSIVO***.
O presidente da JBS, Wesley Batista

A diretora de mercados de capitais do BNDES, Eliane Lustosa, disse à Folha que o banco continua apoiando a internacionalização da JBS e está aberto a avaliar novas propostas da empresa.

Na quarta-feira (26), o BNDES, detentor de 20% das ações da JBS, rejeitou a nova organização societária da empresa, que transferia a sede para Irlanda, com ações na Bolsa de Nova York.

"Continuamos apoiando a internacionalização da companhia, mas entendemos que a proposta não era a melhor para a empresa", disse Lustosa, que assumiu o cargo a convite da nova presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques.

A diretora não detalha as objeções do banco à proposta, sob o argumento de sigilo. Em nota, o BNDES disse que a proposta implicava a "desnacionalização" da empresa e que seus acionistas teriam de se submeter à legislação estrangeira.

Para analistas, a operação, na prática, criava duas classes de acionistas, já que 85% receberiam ações da empresa nos EUA, enquanto 15% permaneceriam no Brasil.

Para a cúpula da JBS, mudar a sede para o exterior era a melhor forma de elevar o valor da empresa e ter acesso a empréstimos mais baratos, pois deixaria de correr o "risco Brasil".

Desde que o BNDES anunciou o veto à operação, as ações do JBS já caíram 15,2%. "Não estamos preocupados com variações de curto prazo no preço da ação, mas com o futuro da companhia no longo prazo", diz Lustosa.

NEGOCIAÇÕES

Técnicos do BNDES já vinham solicitando informações extras da operação desde que tomaram ciência do negócio antes da troca do comando do banco.

Os planos de reorganização da JBS foram divulgados ao mercado em 11 de maio, um dia antes de o Senado aprovar o início do processo de impeachment de Dilma e afastar a presidente do cargo.

O vice-presidente Michel Temer tomou posse e trocou a presidência do BNDES. Lustosa afirma que a nova diretoria do banco se reuniu com a JBS assim que tomou posse, na primeira semana de junho, para entender melhor a operação.

CAMPEÃ NACIONAL

A JBS é uma das "campeãs nacionais" apoiada pelos governos do PT. O BNDES investiu R$ 8 bilhões no negócio, ajudando a empresa a se tornar a maior processadora de proteína animal do mundo.

O TCU, no entanto, questiona a lisura das operações e estima que o BNDES possa ter perdido R$ 848 milhões por sobrevalorizar as ações da JBS. A companhia e o próprio BNDES disseram na época que o lucro do banco estatal no negócio chegaria a R$ 5 bilhões.

Segundo a Folha apurou, a decisão do BNDES foi técnica, e o Planalto não teria interferido, apesar da pressão política. O grupo é um dos maiores doadores de campanhas políticas do Brasil.


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