Folha de S. Paulo


Análise

Protecionismo e falhas do governo e da diplomacia afligem o Brasil

O comércio mundial anda a passos lentos porque a China desacelera, a Europa está em crise, as cadeias globais de valor pararam de expandir e os países desenvolvidos vivem cada vez menos de manufaturas exportáveis. O futuro imediato é cheio de riscos porque as grandes democracias industrializadas assistem a uma onda antiglobalização onde ganha voto quem promete protecionismo. Perdem todos, países ricos e países pobres.

Não são esses, porém, os problemas que mais afligem o Brasil. Quando se trata de comércio internacional, nosso principal problema somos nós.

O Brasil é o país do G-20 que menos participa de fluxos comerciais globais, e a culpa disso não é o protecionismo dos outros. As causas encontram-se aqui dentro.

Primeiro, a política. O fechamento da economia brasileira beneficia uns poucos "capitães da indústria" e uma pequena força de trabalho sindicalizada em polos industriais. Esses grupos são bem organizados e influentes, fazendo-se ouvir pela classe política em Brasília. Quem paga o pato é a grande maioria de trabalhadores brasileiros, cuja renda fica menor num cenário de economia fechada. Embora seja uma avassaladora maioria, esse grupo é desorganizado e não consegue demandar comércio mais livre.

Quem melhor tende a representar os interesses dessa maioria difusa é o presidente da República de plantão. Isso ocorre porque (quase) todo ocupante do Palácio do Planalto busca menos inflação, mais modernização econômica e mais renda disponível no bolso do eleitor mais pobre, as três coisas que o comércio livre provê.

Em seu afã por conquistar comércio novo, no entanto, qualquer presidente brasileiro sempre encontra três entraves. Primeiro, as forças protecionistas também são grandes financiadoras de campanhas e não hesitam em espernear. Segundo, os marcos regulatórios e a infraestrutura física para exportar e importar são lastimáveis, e só podem ser reformados por um governo bom de briga. Terceiro, os órgãos oficiais responsáveis por fazer diplomacia comercial vivem às turras, numa guerra intestina por competências. O resultado disso tudo beneficia uns poucos patrícios em detrimento da maioria.

Temer sabe disso e já redefiniu as competências pela diplomacia comercial. Com sorte, esse novo modelo vingará, resistindo à troca de governo daqui a dois anos. Falta agora destravar os gargalos burocráticos e neutralizar os obstáculos jurídicos a mais comércio internacional.

Se o governo tiver coragem, também precisará escrever um código de conduta para a diplomacia comercial pós-Lava Jato. Afinal, a operação expôs o lado podre do apoio à exportação de bens e serviços, e à ação de presidentes, ex-presidentes e diplomatas buscando comércio novo no exterior.


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