Folha de S. Paulo


Caminhão autônomo do Uber percorre estrada e entrega caixas de cerveja

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Caminhão autônomo faz entrega de cerveja nos Estados Unidos
Caminhão autônomo faz entrega de cerveja nos Estados Unidos

Os futuristas do Vale do Silício provavelmente não imaginaram que isso aconteceria. A primeira entrega comercial feita por um caminhão autônomo foi de 2.000 caixas da cerveja Budweiser.

Nesta terça-feira (25), a Otto, unidade de veículos autônomos controlada pelo Uber, anunciou a conclusão da primeira entrega comercial por um de seus automóveis, tendo transportado uma carga de cerveja de Fort Collins, Colorado, a Colorado Springs, um percurso de cerca de 200 quilômetros pela Rodovia Interestadual 25.

Para a entrega inicial, o caminhão da Otto saiu das instalações da Anheuser-Busch em Loveland, Colorado, bem cedo de manhã, antes de ingressar na rodovia interestadual em Fort Collins. O caminhão passou por Denver —dividindo a estrada com veículos comuns de passageiros —e navegou até seu destino em Colorado Springs sem incidentes.

Caminhão com cerveja

A Otto informou que havia um motorista treinado na cabine o tempo todo, a fim de monitorar o progresso do caminhão e assumir o controle caso necessário. O motorista não se viu forçado a intervir em momento algum, segundo a companhia.

"Vemos os caminhões autoguiados como o futuro, e queremos ser parte dele", disse James Sembrot, diretor de estratégia logística na Anheuser-Busch.

Ainda que a entrega tenha acontecido sem dificuldades, as duas empresas não informaram se haverá novas cargas.

A futura expansão do programa piloto permitirá que a Otto teste seus veículos em outros tipos de estrada e condições climáticas, que representam um fator importante para a seleção de percursos para os veículos autoguiados.

UBER E INVESTIMENTOS

Nos últimos anos, o Uber vem prevendo um futuro no qual passageiros poderão fazer corridas em carros autônomos que os transportarão até onde quiserem, sem necessidade de motorista. Mas a ideia de que os serviços comerciais de transporte rodoviário poderiam ser realizados por robôs é relativamente nova —e tem o potencial de causar controvérsia, dada a possibilidade de que esses robôs venham no futuro a substituir motoristas humanos.

"Acreditamos que essa tecnologia esteja se aproximando lentamente de estar disponível para uso comercial", disse Lior Ron, cofundador da Otto, em entrevista.

Em agosto, o Uber adquiriu a Otto, start-up criada em San Francisco por diversos veteranos das já antigas operações de pesquisa de veículos autônomos do Google.

Ainda que se possa defini-la como ocasião principalmente simbólica, a entrega de cerveja representa a primeira parceria comercial para a Otto, fundada menos de um ano atrás. Os termos do acordo entre a Otto e a Anheuser-Busch InBev, que controla a marca Budweiser, não foram revelados.

"Nós conduzimos testes com carretas, claro, mas não há coisa melhor do que efetivamente realizar uma entrega real, de ponta a ponta", disse Ron.

A entrega é indicativa das grandes ambições do Uber de se tornar uma imensa rede de transportes, na qual a empresa será responsável por transportar toda e qualquer coisa, de pessoas a refeições feitas na hora e caixas de cerveja, em todo o planeta, a qualquer hora, com a maior eficiência possível. Travis Kalanick, o presidente-executivo do Uber, disse que vê um futuro no qual o transporte será realizado de diferentes maneiras, com o uso de uma combinação entre veículos guiados por motoristas e veículos autônomos.

A Otto é uma aposta especialmente grande para o Uber, que pagou quase US$ 700 milhões pela start-up apenas alguns meses depois de a companhia ter começado a discutir publicamente suas ambições neste segmento.

Depois que o Uber abandonou seu dispendioso esforço para dominar o mercado chinês de serviços de carros, em agosto, vem investindo mais tempo e mais recursos para tentar ingressar no mercado de transporte rodoviário. O movimento anual do setor de transporte rodoviário dos Estados Unidos atingiu US$ 720 bilhões em 2015, de acordo com estimativas da American Trucking Association.

Boa parte desse total vem de grandes marcas que dependem pesadamente de caminhões para o transporte de seus produtos. A Anheuser-Busch, por exemplo, movimenta mais de um milhão de caminhões carregados de cerveja pelos Estados Unidos a cada ano.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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