Folha de S. Paulo


Mercado aposta em queda mais lenta da taxa básica de juros

Daniel Marenco - 4.ago.2011/Folhapress
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Funcionários da Bovespa observam o painel no prédio da Bolsa, em São Paulo

Os investidores passaram a apostar que a taxa básica de juros da economia irá cair em ritmo mais lento do que o esperado na semana passada, quando o Banco Central deu a partida em um novo ciclo de redução da taxa Selic.

Divulgada nesta terça (25), a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC indicou que, na avaliação da instituição, as projeções do mercado são mais otimistas do que o cenário econômico permitiria.

Segundo a ata, existe espaço para "flexibilização gradual e moderada" das taxas de juros, mas as projeções do mercado são incompatíveis com a redução da inflação na velocidade desejada pelo BC, impondo "limites para a magnitude dessa flexibilização".

O BC vem atrelando a queda Selic à redução da inflação para a meta de 4,5% em 2017 e ao avanço das políticas de ajuste fiscal, como a criação do teto para o crescimento de gastos do governo.

Em ajuste ao comunicado do BC, as taxas de juros futuros voltaram a subir. Os contratos de juros futuros negociados na BM&FBovespa indicam a expectativa do mercado financeiro para a Selic.

Na semana passada, o Copom reduziu a taxa básica de juros da economia de 14,25% para 14%. A primeira redução em quatro anos foi considerada modesta por parte do mercado, que estava dividida entre redução de 0,25 e 0,50 ponto percentual.

Agora o mercado se divide sobre qual será a Selic ao final de 2016, 13,75% ou 13,50%. O Copom fará nova reunião no final de novembro.

O Itaú manteve sua estimativa de queda 0,50 ponto percentual e disse considerar que "os dados e as notícias devem evoluir de forma a respaldar o corte", segundo relatório do banco.

"É muito cedo para dizer que se consolidou a queda 0,25 ponto na próxima reunião do Copom", afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP.

Ela considera que a ata está "desbalanceada" entre as preocupações com a inflação, que estaria desacelerando, ante a debilidade da atividade econômica, que não teria motor para voltar a crescer.

Já o Banco Fator, que esperava queda de 0,50 ponto na taxa em novembro, revisou sua projeção para redução de 0,25 ponto, acompanhando a sinalização do Banco Central.

SUSTO

Para Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor do Modal Asset, o BC assustou o mercado, ao colocar uma amarra bem mais alta para cortar os juros. "Antes, o BC colocava como condições principais para reduzir os juros a desaceleração dos preços dos alimentos e do IPCA, que está caminhando para a meta. Agora, a amarra é a inflação de serviços", diz.

De acordo com Portella, a postura rígida do Copom traz incertezas ao mercado. "Seria hora de o BC passar confiança, e ele não fez isso."

Patrícia Pereira, gestora de Renda Fixa da Mongeral Aegon Investimentos, afirma que, na ata, ficou claro que os membros do Copom nem sequer discutiram a possibilidade de corte de 0,50 ponto na semana passada.

"Mas, diante do cenário de recessão e de juros reais altos, haveria espaço para uma flexibilização maior. O BC deixou bem claro que seu compromisso é com a inflação e sinalizou que os próximos cortes de juros também serão bem graduais", diz a gestora.


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