Folha de S. Paulo


Autora de estudo crítico ao teto de gastos, técnica do Ipea deixa o cargo

FIOCRUZ
Fabiola Sulpino Vieira, do Departamento de Assistência Farmaceutica da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estrategicos do Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/MS) Foto:FIOCRUZ ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Fabíola Sulpino Vieira deixou o cargo de coordenadora de estudos de saúde do Ipea

Autora de um estudo crítico ao teto proposto pelo governo para os gastos públicos, a economista Fabíola Sulpino Vieira deixou o cargo de coordenadora de estudos de saúde do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em meio a queixas de pesquisadores contra o que consideram intimidação da presidência do órgão, vinculado ao Ministério do Planejamento.

Vieira é autora, com Rodrigo Pucci Benevides, de uma nota técnica com projeções negativas para o gasto público em saúde durante os 20 anos de vigência do teto.

A proposta é a principal agenda legislativa do governo Temer, foi aprovada em primeiro turno na Câmara e ainda tramita no Congresso.

No estudo de Vieira e Benevides, um dos cenários projetados é que a saúde perderia, em vinte anos, R$ 743 bilhões do que poderia receber se mantida a atual regra, que destina uma fatia fixa das receitas federais para a saúde.

O cálculo leva em consideração uma taxa média de crescimento de 3% ao ano entre 2017 e 2036 que, segundo os autores, consta de projeções da Previdência na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Há cenários com perdas menores caso o país cresça menos.

O estudo ganhou repercussão em sites de oposição ao governo pelo conteúdo crítico ao teto. Na última semana, consultado pela reportagem da Folha, o Ipea informou que os cálculos tinham premissas que desconsideravam alterações no texto aprovado na Câmara e que seriam refeitos. Por isso, os pesquisadores não dariam entrevista.

Na terça (11), com a repercussão do estudo, o presidente do Ipea, Ernesto Lozardo, divulgou nota apontando problemas no cálculo e ressaltando que o Ipea é a favor do teto. Uma das críticas é que o estudo desconsidera que a volta do crescimento depende do ajuste das contas públicas.

A nota de Lozardo provocou mal-estar dentro do Ipea. Vieira decidiu afastar-se do cargo após ser comunicada pelo presidente de que a nota seria divulgada. Ela antecipou as férias e disse a colegas que prepara resposta aos dez problemas apontados pela nota da presidência do instituto.

Pesquisadores se dizem inconformados e afirmam que nunca a direção do instituto se manifestou assim sobre estudos do seu corpo técnico.

Vieira é funcionária pública do Ministério do Planejamento, atuou por nove anos no Ministério da Saúde e há um desenvolve pesquisas de economia da saúde no Ipea. Procurada pela Folha, ela não quis dar entrevista.

O Ipea informou que não houve cerceamento ou intimidação, que o estudo foi divulgado no site do instituto e que a nota da presidência tinha como objetivo esclarecer a posição oficial do Ipea.


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