Folha de S. Paulo


Veja como poupar para aposentadoria com reforma da Previdência

Marcos Santos/USP Imagens
30/10/2014 – Brasil – Pela primeira vez em seis meses, o Banco Central (BC) alterou os juros básicos da economia. Por 5 votos a 3, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic para 11,25% ao ano. A taxa está no maior nível desde novembro de 2011, quando estava em 11,5% ao ano nota de real | fotos publicas
Notas e moedas de real

"Daqui a seis, sete anos, quando eu, aposentado, for ao governo para receber o meu cartão, o governo não terá dinheiro para pagar".

A frase, dita pelo presidente Michel Temer para defender sua proposta de reforma da Previdência, pode parecer alarmista, mas não está distante do cenário esperado por especialistas em finanças pessoais ouvidos pela Folha.

Para eles, a crise no INSS e os planos para reformá-lo aumentam ainda mais a importância de o trabalhador guardar dinheiro para a aposentadoria, diante da falta de garantia de como o benefício funcionará quando chegar a vez de quem está entrando no mercado agora.

O teto do INSS hoje é de R$ 5.189,82. Pela proposta em discussão apenas os trabalhadores que contribuírem por 50 anos vão receber esse valor. Para quem começa a trabalhar aos 20, isso significa se aposentar aos 70 anos.

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Para encerrar a vida profissional antes disso será necessário ter ao menos 25 anos de contribuição e 65 anos de idade, recebendo 75% do teto mais 1% a cada ano adicional de contribuição, segundo as regras em discussão.

De acordo com a proposta, ainda não enviada ao Congresso, as mudanças vão valer para mulheres com até 45 anos e homens com até 50 anos de idade. Uma regra de transição será criada para trabalhadores mais velhos.

"Analisando o histórico de mudanças no teto do INSS, quem se aposentar daqui a 20 anos vai receber um benefício equivalente a três salários mínimos, se continuar a atual política de correção", afirma Renato Follador, consultor na área e ex-secretário de Previdência do Paraná.

PREPARO

Falar da aposentadoria pode parecer um futuro remoto para quem está na faixa dos 20 anos de idade e uma preocupação menor para quem, entre os 30 e os 40, está pressionado com gastos mais urgentes com casa e filhos.

Mas, quanto mais cedo essa poupança começar, menor será o sacrifício. A reportagem conversou com quatro especialistas para saber quanto e como economizar em cada etapa da vida para se aposentar aos 65 anos mantendo a mesma renda.

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AOS 20 ANOS

O jovem pode guardar por volta de 15% a 20% do salário porque tem um longo tempo para esse dinheiro render. Também é possível escolher investimentos mais arriscados e deixar uma parte menor na renda fixa.

"Quanto mais jovem for a pessoa, mais tempo ela tem para recuperar as perdas [na renda variável] que ocorrerem em momentos de crise", diz Renato Follador, consultor em previdência. Para ele, a economia de 8% da renda é suficiente, desde que apenas para a velhice.

Fundos de ações que invistam em empresas voltadas para o mercado interno e que pagam dividendos (como bancos e elétricas) são uma boa opção de renda variável, segundo Follador, porque essas companhias incluem a inflação em seus custos, protegendo o investidor de ver seu rendimento corroído pela alta de preços.

Na renda fixa, a recomendação são os títulos do Tesouro IPCA, que rendem a inflação e mais uma taxa de juros.

Aproveitar os fundos de previdência da empresa é outra opção, mas é preciso atentar para as regras para retirada do dinheiro –sobretudo com a alta rotatividade entre jovens–e à taxa de administração cobrada.

AOS 30 ANOS

Quem começa a guardar dinheiro aos 30 precisa reservar entre 20% e 25% do salário e investir mais em renda fixa do que em variável.

Ao escolher um plano de previdência, é preciso pesquisar taxas de administração (o ideal é que seja inferior a 1%) e de carregamento (o melhor é um plano que não cobre), afirma a planejadora financeira Letícia Camargo.

A economia para outras preocupações, como a compra da casa própria e as despesas com a criação dos filhos, deve ser separada da poupança para a aposentadoria, diz Follador. Com essa organização, a reserva pode ser de 8% do salário, diz.

AOS 40 ANOS

O trabalhador na faixa dos 40 anos de idade que ainda não tem nenhuma reserva para a aposentadoria vai precisar guardar entre 25% e 30% de sua renda. "É nessa idade que a janela se fecha", diz William Eid Júnior, professor de finanças da FGV.

Já Follador afirma que guardar 16% do salário é suficiente nessa fase, desde que todo esse dinheiro seja destinado à aposentadoria.

Aos 40, a pessoa não pode perder dinheiro, por ter pouco tempo para recuperá-lo. Por isso, a recomendação é que a carteira se concentre em investimentos de renda fixa. Se a opção for pelo título público, é preciso escolher o prazo mais próximo da aposentadoria, para não perder dinheiro na hora de resgatar.

Para quem já vinha poupando, a chegada aos 40 marca o momento de ver o quanto já foi guardado, quanto tempo espera-se viver depois da aposentadoria e mapear o consumo supérfluo. E, com base nisso, estimar quanto ainda é preciso guardar nos próximos anos.

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