Folha de S. Paulo


Bom desempenho de bolsistas ajuda a convencer doadores

Karime Xavier / Folhapress
Luisa Moraes Abreu Ferreira, ex-aluna que criou fundo da FGV Direito em São Paulo

Os gestores das instituições de ensino que buscam contribuições do setor privado dizem que, embora a prática de doar tenha crescido, ainda não é fácil convencer empresários e profissionais liberais a patrocinar projetos.

"Sem uma boa história, fica difícil atrair doadores", afirma o professor Caio Pereira Neto, presidente do fundo de bolsas da FGV Direito SP.

Para financiar bolsas, o desempenho dos alunos beneficiados é um ponto importante no convencimento.

Os bolsistas do Insper têm coeficiente de rendimento médio de 7,15, superior aos 6,68 dos demais alunos. Na FGV Direito, os bolsistas tiveram em 2015 nota 7,63, ante 7,23 da média de todos os alunos.

A atração de estudantes de baixa renda, dizem as instituições, ajuda a aumentar a diversidade e fortalecer a cultura meritocrática das escolas. "Intensificamos o esforço tanto para atrair doadores como bons alunos", diz Marcos Lisboa, presidente do Insper.

A faculdade fez parceria com instituições que apoiam estudantes talentosos do ensino básico, como o instituto Ismart e a ONG Primeira Chance, que identificam jovens de baixa renda com alto desempenho acadêmico.

Foi assim que encontrou Kassiopeya Cristina Nascimento Costa, 19, que vem de família de baixa renda de Fortaleza e hoje cursa o sexto semestre de administração. Sempre entre os melhores alunos, ela recebeu bolsa especial da Fundação Brava.

"É muito bom ter essa oportunidade e não me sinto tratada diferente pelos demais alunos por ser bolsista."

A FGV Direito adotou estratégia parecida para atrair bons alunos de baixa renda. Fez ajustes também em seu vestibular. "Foram mudanças para evitar que esses jovens ficassem de fora por falta de um nível de erudição mais típico de classes de renda alta, de jovens que viajaram muito", diz Pereira Neto.

NOMES

Outra estratégia usada para atrair novas contribuições é convencer doadores de peso a divulgar seus nomes.

"No início, os doadores mais antigos não queriam que seus nomes aparecessem. Convencemos a maioria de que essa divulgação era importante para ajudar a disseminar a cultura de doação", afirma Camila Du Plessis, gerente de relacionamento institucional do Insper.

O fundo Amigos da Poli, da Politécnica da USP, divulga os nomes dos doadores, mas ainda depende de contribuições de ex-alunos que têm laços emocionais com a escola.

Antonio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da RaiaDrogasil, maior rede de farmácias do país, se formou pela instituição no fim dos anos 70 e vê no investimento uma forma de retribuição.

"Não paguei um centavo quando cursei a universidade, embora tivesse condições de pagar", diz o empresário, que é herdeiro de uma das famílias fundadoras do grupo.

Além de doar, o empresário atua no conselho do fundo. Para ele, a escola forma bem as habilidades técnicas dos alunos, mas é preciso estimular o espírito de liderança e empreendedorismo.

Os gestores das instituições que têm procurado doações ressaltam a importância da transparência e de boas práticas de governança.

Apesar de as escolas relatarem um maior interesse, a prática de doação do brasileiro ainda é limitada se comparada com à de outros países.

O Brasil aparece em 105º lugar, numa lista de 145 países, na edição de 2015 do ranking de generosidade da ONG Charities Aid Foundation.

Fátima Zorzato, sócia da consultoria INWI Consulting e doadora do fundo de bolsas do Insper e de outros projetos, diz ainda não sentir uma "cultura de generosidade".

"Falo muito com empresários e o que ouço com frequência é: 'Faço cestinhas de Natal'."

Doações para o fundo de bolsas


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