Folha de S. Paulo


Negócios sociais vão de salada na favela a fralda feita de pano

O que têm em comum um trio que vende salada em favela, um casal que produz minhocários e uma dupla que negocia camisetas? A pretensão de gerar lucros e mudar a realidade com seus negócios de impacto social.

Empreendimentos com apelo social têm os mesmos desafios de outros, diz Edgard Barki, professor de administração da FGV (Fundação Getulio Vargas): burocracia, taxas, impostos. "Superar isso é essencial para qualquer empresa. A diferença está no propósito, que dá mais afinco a quem se junta à ideia. Fazer o bem é bom negócio."

A constatação de que não havia delivery de comida saudável em São Gonçalo (RJ) levou Hamilton Henrique, 27, a criar o Saladorama. A rede de entrega de saladas hoje funciona na favela Santa Marta (que entrega na cidade do Rio de Janeiro), em Sorocaba (SP), Florianópolis (SC), Recife (PE) e São Luís (MA).

Em 2014, Henrique criou o projeto com a designer Isabela Ribeiro, 26, e a nutricionista Mariana Fernandes, 25.

Em seu primeiro ano, 2015, o faturamento do Saladorama foi de R$ 350 mil. A meta é chegar a R$ 1,5 milhão neste ano. As saladas, personalizadas, custam de R$ 8,50 a R$ 20, com taxa de entrega de R$ 3. São feitas em um programa de capacitação em nutrição criado por Fernandes.

"A capacitação é parte do negócio. Quem passa por ela ganha 30% do que produz. Nossa ideia é que a pessoa que vive na localidade onde está o Saladorama seja um multiplicador do conhecimento nutricional e possa empreender nessa área também", explica Ribeiro.

MINHOCA E FRALDA

O casal Cláudio Spínola, 40, e Ana Paula Silva, 33, moram em São Paulo, onde fica a Morada da Floresta, que produz composteiras domésticas e fraldas de pano.

Eles também prestam serviços de consultoria para compostagem empresarial e têm a Universidade Mackenzie (na capital paulista) e o Hospital Aliança (Salvador, BA) entre os clientes.

O negócio surgiu da experiência do casal. "Em 2009, nossa composteira e a fralda de pano que usávamos na nossa filha viraram um negócio porque decidimos fazer um site e vender o que já confeccionávamos em casa", diz Spínola. Ele investiu R$ 10 mil na loja virtual.

A maioria (90%) das vendas é feita on-line. O faturamento de 2015 foi de R$ 1 milhão. Todos os produtos são feitos artesanalmente, pelos dez funcionários diretos, um estagiário, três indiretos e os sócios. As fraldas ecológicas custam, em média, R$ 38.

CAMISETAS DO MUNDO

Lucas Emmanuel Rodrigues, 28, era estudante de administração em Maringá (PR), quando percebeu que só conhecia pontos turísticos dos países que visitou. Então começou uma série de viagens para ver como vivem de verdade os povos.

Voltou com a ideia de fazer camisetas com fotos de lugares como Mianmar, Bolívia, Nepal e Irã, vendê-las e doar uma peça à comunidade visitada para cada roupa vendida. Para isso chamou o amigo Juriel Meneguetti, 28, advogado.

"Escolhemos fazer a primeira doação em Porto Príncipe, capital do Haiti. Mas percebemos que dar camisetas em um país tão pobre não modificava a vida das pessoas. Agora doamos uniforme escolar", diz Rodrigues. Em 2015, a Hevp faturou R$ 200 mil. A meta para este ano é R$ 500 mil, sendo que atingiu R$ 150 mil até agosto.


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