Folha de S. Paulo


Dólar cai 1,53%, a R$ 3,21, após decisão do BC dos EUA; Bolsa sobe mais de 1%

A projeção do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) de que deverá ser menos agressivo ao elevar os juros no país no futuro animou os investidores nesta quarta-feira (21).

No Brasil, o dólar caiu mais de 1,5%, e o Ibovespa subiu 1,14%. Os juros futuros e o CDS (credit default swap) brasileiro, indicador de percepção de risco, caíram.

Conforme amplamente esperado, o Fed manteve nesta quarta-feira os juros inalterados numa faixa entre 0,25% e 0,50%. Mas o que realmente impulsionou os mercados foram as medianas das projeções apresentadas após a decisão de política monetária.

Os integrantes do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) do Fed reduziram o número de altas de juros que esperam para este ano de duas para uma. Analistas esperam que esse aumento ocorra em dezembro.

Três membros disseram que os juros devem permanecer estáveis pelo resto do ano. Para 2017, o comitê prevê dois aumentos, ante estimativa anterior de três altas.

"O mercado gostou da indicação de que o aumento dos juros nos EUA será mais lento do que o vinha sendo projetado pelo próprio Fed", avalia Roberto Indech, analista da corretora Rico.

No comunicado divulgado após o anúncio da decisão sobre os juros, o Fed ponderou que o cenário para um aumento nas taxas tem se fortalecido, com melhora da atividade econômica e ganhos "sólidos" no mercado de trabalho. O BC americano disse ainda que decidiu manter os juros inalterados "até que haja mais evidências de progresso de seus objetivos de emprego e inflação".

Três integrantes do Fomc votaram por uma alta dos juros na reunião terminada nesta quarta-feira: a presidente do Fed de Kansas, Esther George; a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester; e o presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren.

A presidente do Fed, Janet Yellen, disse esperar uma alta dos juros neste ano "se o mercado de trabalho continuar a melhorar e novos riscos não surjam".

CÂMBIO E JUROS

O dólar comercial fechou em queda de 1,53%, a R$ 3,2110. A moeda americana à vista, que encerrou o pregão antes da decisão do Fed, perdeu 0,74%, a R$ 3,2397.

Pela manhã, como tem ocorrido nos últimos dias, o Banco Central leiloou 5 mil contratos de swap cambial reverso, equivalentes à compra futura de dólares, no montante de US$ 250 milhões.

Contribuiu para a queda mundial do dólar a forte alta do petróleo no mercado internacional com a inesperada queda dos estoques semanais da commodity nos EUA. O petróleo Brent, negociado em Londres, subia 2,53%, a US$ 47,05 o barril, e o WTI, negociado em Nova York, avançava 4,83%, a US$ 45,54 o barril.

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NOTAS DE DÓLAR

Os mercados também reagiram positivamente à decisão do BC japonês (BOJ, na sigla em inglês) de adotar uma meta para a taxa de juros de longo prazo.

"O BOJ tomou decisão inédita, que busca o controle dos juros do título de 10 anos em 0%. Assim, se o juro deste título subir, o BOJ entrará comprando o papel. E, se o juro do título ficar negativo, o BOJ fará empréstimo a taxa fixa", explica José Faria Júnior, diretor-técnico da Wagner Investimentos, em relatório.

Segundo o analista, desta forma, o BC japonês pretende deixar uma curva de juros negativa no curto prazo, zero em 10 anos e positiva nos títulos longos. "O fato é benéfico para as seguradoras, as grandes compradoras dos títulos de longo prazo e para os bancos, que podem captar recursos no curto prazo a uma taxa negativa e emprestar no longo prazo, obtendo lucro."

Faria Júnior diz ainda que, até então, os juros de longo prazo estavam mais baixos que os juros de curto prazo.

O mercado de juros futuros seguiu a forte baixa do dólar. O contrato de DI para janeiro de 2017 caiu de 13,930% para 13,885%; o contrato de DI para janeiro de 2018 recuou de 12,470% para 12,360%; e o DI para janeiro de 2021 cedeu de 12,070% para 11,880%.

O CDS brasileiro de cinco anos, espécie de seguro contra calote, perdia 3,68%, aos 272,093 pontos.

BOLSA

Após mudar de direção várias vezes durante a sessão, o Ibovespa se firmou em alta após a divulgação das projeções do Fed e encerrou com ganho de 1,14%, aos 58.393,92 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7,3 bilhões.

As ações da Vale ganharam 6,33%, a R$ 15,27 (PNA), e 5,68%, a R$ 17,65 (ON). Segundo analistas, os papéis foram impulsionados por notícias de que o conselho de administração da Vale proporia a venda de dois terços da área de fertilizantes da companhia para a empresa americana Mosaic, numa transação de US$ 3 bilhões. Os recursos terão impacto positivo no caixa da companhia, caso a operação seja confirmada, dizem os profissionais.

Entre as siderúrgicas, Usiminas PNA subiu 7,35%; Gerdau PN, +5,66%; Metalúrgica Gerdau, +5,42%; e CSN ON, +4,35%.

As ações da Petrobras subiram 1,18%, a 13,66 (PN), e 1,92%, a R$ 15,34 (ON). O presidente da Petrobras, Pedro Parente, frisou nesta quarta-feira que a companhia não tomou qualquer decisão com relação a mudanças nos preços dos combustíveis. O executivo respondeu a informações na imprensa sobre redução no preço da gasolina até o final do ano, quando a companhia deverá divulgar sua nova política de preços.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN avançou 0,96%; Bradesco PN, +1,96%; Bradesco ON, +1,67%; Banco do Brasil ON, +3,22%; Santander unit, +0,73%; e BM&FBovespa ON, +0,82%.

EXTERIOR

Em Nova York, o índice S&P 500 avançou 1,09%; o Dow Jones, +0,90%; e o Nasdaq, +1,03%, reagindo ao BC americano.

As Bolsas europeias. que terminaram a sessão antes da decisão do Fed, também subiram. A Bolsa de Londres ganhou 0,06%. Paris, +0,48%; Frankfurt, +0,41%; Madri, +0,83%; e Milão, +0,88%.

O índice japonês Nikkei avançou 1,91% e impulsionou o restante da Ásia depois da decisão de política monetária do BC japonês.

Na China, o índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve alta de 0,28%. O índice de Xangai ganhou 0,08%.


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