Folha de S. Paulo


Temer diz que não é 'idiota' de eliminar direitos trabalhistas

Irritado com os ataques da oposição, o presidente Michel Temer endureceu o tom do discurso, disse que seu governo não é "idiota" de retirar direitos de trabalhadores e resolveu deixar para 2017 a apresentação de seu projeto de reforma das leis trabalhistas.

A nova estratégia foi definida em reunião de sua equipe na terça-feira (13), quando se decidiu dar um freio de arrumação na comunicação dos ministros diante da análise de que algumas entrevistas foram desastradas e serviram para dar munição para a oposição atacar Temer.

O governo decidiu concentrar esforços para a aprovação da proposta de teto dos gastos públicos e da reforma da Previdência, deixando as mudanças nas regras trabalhistas para o próximo ano.

Segundo um assessor, Temer não pode comprar "várias brigas" ao mesmo tempo, o que pode acabar inviabilizando a aprovação das duas reformas consideradas essenciais neste momento.

A avaliação é que, para recuperar a economia, gerar renda e emprego, seria muito mais importante agora aprovar o teto dos gastos e a reforma da Previdência.

A intenção do governo com a reforma trabalhista é permitir que acordos negociados por sindicatos e empresas prevaleçam sobre a legislação em alguns casos, o que pode abrir caminho para reduzir garantias que a lei oferece aos trabalhadores hoje.

Ao falar sobre o tema na semana passada, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, criou controvérsia ao admitir que a reforma permitiria a adoção de jornadas de trabalho de até 12 horas por dia para algumas profissões, desde que limitadas às 48 horas semanais previstas atualmente, incluindo horas extras.

Durante cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (14), Temer subiu o tom quando falou sobre o imbróglio e salientou que a carga horária só aumentaria para categorias que aceitassem a mudança em convenção coletiva e folgas estabelecidas.

"O que bombou nas redes foi que o governo estava exigindo 12h por dia", afirmou o presidente. "Mas isso é o que interessou aos jornais, é o que se alardeia, ou que se divulga, e se deixa de reproduzir a verdade dos fatos. É desagradável imaginar que nós somos um governo cidadão que, com perdão da palavra, tão estupidificado, tão idiota que chega ao poder para restringir os direitos dos trabalhadores, para acabar com saúde, para acabar com educação."

'O MAL DO PAÍS'

Temer pediu ainda que os deputados e senadores de sua base usem as tribunas da Câmara e do Senado para rebater as acusações de que a proposta enviada ao Congresso para estabelecer um teto para os gastos públicos afetará o montante dos recursos destinados à saúde e educação.

A reação do presidente demonstra a preocupação do governo com o possível crescimento dos protestos contra ele no momento em que as reformas da Previdência e trabalhista forem enviadas ao Congresso. A estratégia é tentar convencer a população de que elas são imprescindíveis para o equilíbrio econômico.

Após observar que as informações correm em velocidade maior hoje em dia por causa das redes sociais, Temer afirmou: "É preciso combatê-los e eu vou combatê-los. Não vamos permitir que se faça isso. Nós queremos, por acaso, o mal do país? Ao contrário."

O presidente também divulgou na internet um vídeo em que diz que o governo não impedirá saques do FGTS em caso de demissão. "Não há nenhum pensamento sobre esta matéria no governo", disse.


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