Folha de S. Paulo


Dólar avança a R$ 3,34, maior cotação em mais de 2 meses, mas Bolsa sobe

Fernanda Carvalho/Fotos Públicas
Moeda americana deve ficar volátil até a reunião do BC dos EUA sobre juros, no dia 21

O dólar teve comportamento misto frente às principais moedas nesta quarta-feira (14), após a alta generalizada na véspera, mas continuou a subir ante o real. O câmbio doméstico refletiu as incertezas nos cenários externo e interno.

A queda de quase 3% do petróleo no mercado internacional pela segunda sessão consecutiva também pressionou o real, e a moeda americana terminou o pregão na maior cotação em mais de dois meses, na casa dos R$ 3,34, no caso do dólar comercial.

A maior parte das Bolsas recuou, em compasso de espera pelas reuniões de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e do BC do Japão, na semana que vem.

Ajudado principalmente pelas ações da Vale, o Ibovespa, porém, terminou no terreno positivo, recuperando-se em parte do tombo de 3,01% da sessão anterior.

O mercado financeiro segue cauteloso em relação ao cenário doméstico. Analistas destacam a pressão de governadores sobre o Ministério da Fazenda.

Reunidos nesta terça-feira (13) em Brasília, governadores de 17 Estados avisaram ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que decretarão estado de emergência na segunda-feira (19). Eles reivindicaram a liberação de pelo menos R$ 7 bilhões para cobertura de perdas provocadas por incentivos concedidos pela União.

"Isso traz incertezas para os investidores, que ainda aguardam do governo medidas concretas para o Brasil sair da crise", comenta Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

Os investidores também acompanhavam o detalhamento da denúncia da força-tarefa da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e suas implicações. Lula foi denunciado sob acusação de comandar o esquema de corrupção na Petrobras investigado pela operação.

"São mais ruídos políticos, que também mexem com os mercados locais", escreve a equipe de análise da Guide Investimentos, em relatório.

CÂMBIO E JUROS

Após uma sessão volátil, o dólar comercial encerrou com ganho 0,81%, a R$ 3,3440, valor mais alto desde 7 de julho deste ano (R$ 3,3670).

A moeda americana à vista fechou em alta de 0,23%, a R$ 3,3299, também a maior cotação desde 7 de julho deste ano (R$ 3,3512).

Pelo segundo dia seguido, o real liderou as perdas entre as principais moedas globais.

Para Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, o mercado aproveita para realizar lucros, embolsando os ganhos recentes, e também busca proteção antes da reunião de política monetária do Fed, que anunciará sua decisão sobre os juros americanos no dia 21. "A probabilidade de alta dos juros nos EUA neste mês é baixa, mas o Fed pode surpreender", afirma.

DÓLAR
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NOTAS DE DÓLAR

Alessie ressalta que a forte queda do petróleo pressiona moedas de países emergentes, ligadas a commodities, como o Brasil. "Em relação ao cenário interno, o que realmente importa neste momento para o mercado é a aprovação da PEC dos gastos públicos, avalia.

Diante da escalada do dólar, o Banco Central reduziu pela metade a oferta diária de swap cambial reverso, equivalentes à compra futura de dólares, nesta quarta-feira. Foram leiloados 5 mil contratos, no montante de US$ 250 milhões.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 recuou de 14,000% para 13,995%; o contrato de DI para janeiro de 2018 caiu de 12,680% para 12,650%; e o DI para janeiro de 2021 recuou de 12,260% para 12,200%. O mercado passou por uma correção, após a forte alta da véspera.

O CDS (credit default swap) brasileiro, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco subia 2,83%, aos 277,070 pontos, no maior nível em mais de um mês.

BOLSA

O Ibovespa fechou em alta de 0,42%, aos 57.059,46 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,8 bilhões. O índice acabou se descolando da Bolsa de Nova York, que terminou em queda.

Apesar do recuo do petróleo no mercado internacional, por causa das preocupações com o excesso de oferta, as ações da Petrobras avançaram 0,76%, a R$ 13,11 (PN), e 0,87%, a R$ 14,94 (ON).

Os papéis da Vale terminaram com ganho de 2,24%, a R$ 14,13 (PNA), e de 2,27%, a R$ 16,64 (ON), mesmo com o recuo do minério de ferro na China.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN subiu 0,08%; Bradesco PN, +0,83%; Bradesco ON, -0,07%; Banco do Brasil ON, -0,36%; Santander unit, +0,36%; e BM&FBovespa ON, +1,03%.

EXTERIOR

Em Nova York, pressionados pelo tombo do petróleo, o índice S&P 500 encerrou o pregão em baixa de 0,06%, e o Dow Jones, -0,18%. O índice da Bolsa eletrônica Nasdaq ganhou 0,36%.

O petróleo Brent, negociado em Londres, caía 2,42%, para US$ 45,96 o barril, e o WTI, dos EUA, perdia 2,76%, a US$ 43,66 o barril.

Na Europa, a Bolsa de Londres subiu 0,12%; Paris, -0,39%; Frankfurt, -0,08%; Madri, -0,25%; e Milão, -0,05%.

Na Ásia, as Bolsas reagiram ao tombo dos demais mercados na terça-feira por causa da queda das commodities, dos temores de aumento dos juros americanos e da falta de novos estímulos monetários pelos bancos centrais.

O índice chinês CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve queda de 0,66%. O índice de Xangai caiu 0,69%. Em Tóquio, o índice Nikkei recuou 0,69%.


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