Folha de S. Paulo


Programa mudará panorama de concessões, diz novo embaixador do Brasil nos EUA

O programa de concessões do governo de Michel Temer, uma de suas principais apostas para retomar o investimento e criar empregos, incluirá inovações que mudarão o panorama, disse nesta terça (13) o novo embaixador do Brasil nos EUA, Sérgio Amaral.

O diplomata participou de seu primeiro debate público desde que chegou à capital americana para assumir o posto, há pouco mais de uma semana. Em evento do Brazil Institute, do Wilson Center, Amaral indicou que Moreira Franco, secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, apresentará detalhes das mudanças a investidores quando estiver em Nova York na próxima semana, na delegação do presidente Temer.

"O ministro Moreira Franco, que virá a Nova York na semana que vem, tem ideias, eu diria, muito inovadoras em relações às concessões. E é preciso que as pessoas aqui escutem isso. Porque vai mudar o panorama do programa de concessões. Quando você diz que quer definir com as empresas o marco regulatório, porque eu quero que ele seja friendly (amigável), é uma mudança", disse.

Além de dar mais tempo para as empresas se prepararem, explicou o embaixador, há ideias como fazer as licenças ambientais antes das licitações, "o que é inteiramente correto".

Ele aposta numa nova era nas relações entre Brasil e EUA, com ênfase no comércio. Amaral não soube dizer se Temer terá um encontro na próxima semana com o presidente dos EUA, Barack Obama, durante a Assembleia Geral da ONU. Mas enfatizou que isso "seria muito positivo", porque "é um momento novo da relação". Segundo o diplomata, há uma "convergência" de interesses.

"Infraestrutura e energia vão ser duas áreas muito importantes na relação, porque existe uma disposição muito favorável", disse Amaral, citando como exemplo o etanol de segunda geração, o gás de xisto e projetos de infraestrutura. "Isso abre um espaço enorme para o investimento americano. As empresas americanas estão no Brasil há cem anos, então você não sente o movimento como o de novos parceiros, como os chineses, que estão chegando com apetite."

IMPEACHMENT

Amaral defendeu a legitimidade do impeachment de Dilma Rousseff, que considerou "uma lição de democracia". Também considerou um avanço a cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. "Do ponto de vista da percepção do Brasil e do processo de impeachment, o impacto é certamente positivo", disse.

Segundo ele, a efetivação do governo Temer abre uma nova era na diplomacia brasileira, que volta a refletir "os interesses e valores" do país, e não de um partido político.

"Isso é uma enorme mudança", afirmou. Para Amaral, a reorientação da diplomacia brasileira também permite um recomeço nas relações com os EUA.

"Podemos ter uma relação madura, onde pode haver diálogo. Isso não quer dizer concordância. A relação com os EUA sempre foi contaminada por uma ideia falsa, de que só pode ser de adesão ou de resitência. Mas a Guerra Fria acabou", disse.

Embaixador aposentado, Amaral voltou à ativa na carreira diplomática por nomeação do governo Temer, de cujo núcleo principal ele participou desde o início. Foi também porta-voz e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo de Fernando Henrique Cardoso e presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

Amaral reconheceu que a ambição do governo de agilizar acordos comerciais deve esbarrar na onda de protecionismo que atinge várias partes do mundo, incluindo a Europa e os EUA. Isso se reflete na vitória do "sim" à saída do Reino Unido da União Europeia e no discurso dos candidatos presidenciais americanos, ambos reticentes a acordos comerciais.

"É uma ironia da história. Na hora em que a gente está pronto para sentar à mesa, os nossos parceiros não estão. É preciso reconhecer que isso é uma realidade. E tem que correr para recuperar o tempo perdido", disse o embaixador, observando que o Mercosul só fez três acordos comerciais em duas décadas. "Outros países fizeram muito. O México tem 30 ou 40 acordos".

Segundo ele, o Mercosul já foi o destino de 17% das exportações brasileiras, hoje representa 9%, "porque nós fomos tolerantes com um processo de inclusão de restrições cada vez maiores ao comércio".


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