Folha de S. Paulo


Análise

Montadoras mudam discurso e pedem medidas de longo prazo

Jorge Araújo/Folhapress
Pátio da montadora Hyundai tomada de veículos no ABC; produção voltou ao nível de 2004
Pátio da montadora Hyundai no ABC paulista

Alinhar-se a governos é praxe no setor; Mesmo nos períodos mais difíceis do segundo governo Dilma, não se ouviam críticas públicas à gestão

A Anfavea (associação nacional das fabricantes de veículos) afina seu novo discurso. Sempre ponderada em seus posicionamentos políticos, quer demonstrar total apoio à gestão Michel Temer na Presidência, vista como "a hora da virada", segundo Antonio Megale, presidente da entidade.

Alinhar-se a governos é praxe no setor. Mesmo nos períodos mais difíceis do segundo governo Dilma Rousseff, quando o estoque de carros era suficiente para quase dois meses de venda (o ideal é ter reserva para 30 dias), não se ouviam críticas públicas à gestão, mas se atribuía culpa à falta de confiança reinante. A novidade é o que a indústria automotiva espera receber agora.

Subsídios ou incenti- vos pontuais, como a sequência de reduções de impos- tos que garantiu recordes de venda e rentabilidade entre 2003 e 2013, estão fora da pauta. A Anfavea sabe que repetir medidas desse tipo atrasaria qualquer rascunho de reforma tributária, fundamental para o fortalecimento do setor.

Autoveículos no Brasil - Números do setor, em mil

As montadoras querem uma política industrial de longo prazo, algo como dez anos, e etapas bem definidas. Seria um desdobramento do programa Inovar-Auto, mas com alguns ajustes nas metas.

Outro ponto em questão é a mudança na legislação trabalhista. A associação não ousa falar em terceirizações em larga escala no chão de fábrica, mas propõe alternativas como os contratos de serviços especializados.

O objetivo é reduzir gastos e também a insegurança jurídica das montadoras no que diz respeito às relações de trabalho em contratos temporários, que não raro terminam na Justiça.

As conversas com o governo incluem ainda novos incentivos às exportações por meio de acordos comerciais. O ministro José Serra (Relações Exteriores) foi um dos primeiros a receber representantes das montadoras.

Os próximos passos são sentar à mesa com Michel Temer e se aproximar de parlamentares na tentativa de aprovar medidas polêmicas, como as que mexem nas relações de trabalho.

*

DESEMPENHO DAS MONTADORAS

Produção de veículos -24,7%

Venda de veículos leves -24,4%

Venda de caminhões -30,9%

Emprego no setor -6,6%

Exportações (em unidades) +20%

(jan. a jul/16 ante jan. a jul/15)


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