Depois de 20 anos de carreira na área de auditoria de empresas, o executivo Leonardo Potengy, 42, foi demitido em outubro de 2014.
Durante um ano, tentou, sem sucesso, conseguir outro trabalho e acabou empurrado para o "empreendedorismo por necessidade".
"Comecei a fazer uma combinação de bolo com pudim que fez sucesso entre amigos e acabei transformando isso em negócio", conta ele, que montou a Flancake.
Mas o empreendimento não tem gerado bom retorno. "O faturamento de maio foi a metade do de abril, que já tinha sido a metade do de março", afirma ele, que voltou a procurar emprego.
A proliferação de microempreendedores em ramos muito parecidos é, segundo Potengy, um freio ao negócio.
Outro problema, segundo ele, é a cultura limitada de empreendedorismo no país.
"O ensino no Brasil prepara os alunos para serem bons funcionários, e não empreendedores. Se isso fosse diferente, talvez os pequenos negócios fossem mais produtivos."
Para o economista Rudi Rocha, da UFRJ, incentivos tributários não são suficientes para estimular o empreendedorismo. Rocha fez uma pesquisa com dois outros economistas sobre os efeitos da legislação que criou os MEIs, analisando dados até 2012, antes do início da recessão.
Eles concluíram que o programa teve algum efeito na atração de trabalhadores informais para a formalidade, mas não foi capaz de induzir o novo empreendedorismo.
"O programa é positivo por facilitar a contribuição previdenciária. Mas, para fomentar o empreendedorismo, são necessárias outras políticas."
Para especialistas, políticas educacionais específicas e incentivos à inovação são necessários para estimular empreendedorismo.
A série "Marcas da Crise" mostra os impactos provocados pela recessão, talvez a mais profunda da história do país. Alguns dos efeitos podem afetar a capacidade de reação da economia. Veja as outras reportagens da série em: folha.com/marcasdacrise