Folha de S. Paulo


Saída da recessão pode ameaçar reformas, diz economista

27.09.2013 Karime Xavier/Folhapress
O ex-ministro e sócio da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros

Sinais recentes de reativação da economia parecem indicar que a recessão terminará no segundo semestre deste ano. A recuperação pode se transformar num risco às reformas fiscais, na avaliação do ex-ministro e sócio da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros.

"A economia melhora, [Michel] Temer não será mais vaiado e é aí que mora o perigo, optar por navegar nessa onda de aprovação da opinião pública e não criar atritos. Será necessária uma disciplina grande para que o trabalho seja completado."

Em sua avaliação, mantendo alguma disciplina, a saída da recessão levaria a economia a voltar a crescer forte em 2018. E, com isso, a arrecadação de impostos voltaria a se recompor.

"A recuperação cíclica tem uma dinâmica própria. Não é verdade, que se não mexer no deficit público, a economia não vai crescer em 2018", diz.

A dúvida que fica, para o ex-ministro do governo FHC, é se, nesse contexto, Temer terá disposição de começar um processo de reformas que seria completado apenas no próximo mandato presidencial, eleito em 2018.

Mendonça de Barros afirma acreditar que Temer conseguirá aprovar o teto para os gastos públicos, mas a reforma da Previdência, por envolver um debate com mais resistência, deverá acabar nas mãos do próximo presidente.

"Minha maior preocupação é o governo Temer pisar na bola, começar a 'se achar' e perder a noção do processo de reformas, que é de longo prazo, para recolocar a economia na direção correta."

GANHOS

O potencial de ganho em termos de crescimento econômico sustentado com as reformas é elevado, segundo economistas. Para o Itaú Unibanco, aprovadas as reformas fiscais, o Brasil poderá crescer 4% em 2018.

"Deve ocorrer um crescimento forte em 2018 porque há muita capacidade ociosa. Mas, para continuar crescendo depois, outras reformas serão necessárias", diz o economista do banco, Luiz Gustavo Cherman, referindo-se a mudanças nas leis trabalhistas, privatizações e em medidas que aumentem a abertura da economia.

Diretor da consultoria americana de análise de risco Eurasia, Christopher Garman afirma que a probabilidade de que Temer aprove o teto de gastos em 2017 é de 80%. Já a de que ele consiga endurecer as regras de concessão de aposentadorias e pensões é menor, de 60%.

Garman também antevê dificuldades na aprovação integral das propostas do governo para a área fiscal, o que poderá exigir uma segunda rodada de ajustes após a eleição presidencial de 2018.

"São reformas que reduzem gastos do governo e vão contra a demanda do eleitorado, de uma classe média frustrada com a oferta de serviços públicos."

Garman, porém, mostra-se otimista com o que afirma ser um avanço em reformas microeconômicas, que podem destravar negócios em diferentes setores e que têm despertado a atenção de investidores estrangeiros.

Ele afirma que passou a receber consultas frequentes sobre essas reformas vindas de investidores de ações e de grandes fundos globais.

São exemplos os projetos que mudam do modelo de exploração do pré-sal, o código da mineração, a gestão das agências regulatórias e as novas regras para o setor de telecomunicações.

"Essa agenda setorial também tem repercussões positivas na macroeconomia, no crescimento econômico."

MICRORREFORMAS DE MICHEL TEMER

ESTATAIS
Congresso aprovou em junho lei que aumenta os padrões de governança corporativa nas companhias públicas

EMPRESAS AÉREAS
Novo projeto deve ser apresentado para autorizar companhias estrangeiras a terem maior participação no setor de aviação nacional

PETROBRAS
Após aprovação no Senado, Câmara analisa proposta que retira da Petrobras a obrigação de ser operadora única do pré-sal

AGÊNCIA REGULADORA
Senado discute projeto que fortalece e dá maior autonomia para as agências

Fonte: Eurasia Group


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