Folha de S. Paulo


Jovem procura líderes, diz reitor de escola de negócios dos Estados Unidos

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O professor William Boulding, reitor da Fuqua School of Business, escola de negócios da Duke University (EUA) Foto: Divulgacao ORG XMIT: 37365 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O professor William Boulding, reitor da Fuqua School of Business

O professor William Boulding, reitor da Fuqua School of Business, escola de negócios da Duke University (EUA), diz que a carência de modelos de grandes líderes empresariais e políticos tem sido um desafio na formação dos jovens.

Na opinião do reitor, que está no Brasil nesta quinta-feira (25) para participar de palestras com empresários, escândalos de corrupção como os recentes casos brasileiros aprofundam essa lacuna de confiança e elevam a percepção da opinião pública de que os chefes das empresas são orientados mais por lucro e poder do que por transformações sociais.

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Folha - O sr. está familiarizado com a crise política e econômica no Brasil? Como avalia os casos de lideranças empresariais pegas em corrupção?

William Boulding - Não conheço em detalhes, mas sei do problema brasileiro. Fica muito difícil para as pessoas procurarem lideranças quando a confiança está violada. E isso é muito prejudicial.

Sob o ponto de vista dos líderes empresariais, acho que há um cenário de quebra de confiança que, infelizmente, cresceu a um alto grau, e com evidências de mau comportamento dos líderes.

É lamentável, porque os negócios podem ter o poder de transformar as vidas das pessoas para melhor e realmente ser uma força para o bem. No Brasil é possível ver os benefícios que ocorrem quando os negócios exercem sua força positiva, como foi o caso dos milhões de pessoas que saíram da pobreza em uma década.

Qual é o impacto?

Algumas atitudes dos presidentes de empresas que perturbam as pessoas não são necessariamente ilegais, mas são egoístas.

É desmotivante para as pessoas acreditarem que os líderes de empresas só querem fazer dinheiro para eles próprios e não querem pensar no impacto sustentável e nas consequências que os seus negócios podem ter sobre as comunidades onde atuam para melhorar a vida de seus clientes, para devolver benefícios à comunidade onde atuam.

É possível mover o Brasil em uma direção mais positiva?

Absolutamente. Isso requer uma intenção real por parte da comunidade empresarial para fazer as pessoas entenderem o que motiva as lideranças nas empresas.

Não tenho estatísticas do Brasil, mas nos Estados Unidos, se você questiona o público geral sobre o que eles acham que motiva os CEOs, a principal resposta, para 60% das pessoas, é dinheiro e poder. Apenas 10% das pessoas acham que eles são motivados pela melhoria de vida de seus clientes e por fazer diferença em suas comunidades. Então, os líderes precisam ter muita clareza de seus propósitos, do que os motiva, e com o que eles se preocupam.

O que é preciso?

Esforços para mostrar às pessoas o que realmente importa em termos de atividade empresarial. Acho que isso faz as pessoas assumirem aquilo que eu acabei de dizer.

Qual a sua opinião sobre Donald Trump, reconhecido como uma liderança nos negócios, poder se tornar uma liderança política?

Podemos colocar Trump em um contexto mais amplo. Os EUA têm Trump, mas o que ele representa, ou o medo que ele explora, acontece em muitos outros países. O que estão explorando é uma crença de que a globalização não produziu os benefícios esperados.

A interdependência é vista como a possibilidade de outras pessoas exercerem mudanças na minha vida, mas também pode ser interpretada de outra maneira, como perda de controle. E as pessoas não gostam de perda de controle. Daí resulta, com Trump ou outros ao redor do mundo, a versão de recuar da globalização e pensar em uma perspectiva mais nacionalista. Você vê isso no Brexit, por exemplo.

Isso é uma tentativa de voltar a um tempo que não existe mais, porque hoje nós somos interdependentes.

É possível ensinar jovens a se tornarem líderes éticos no futuro?

Acho que, em geral, as pessoas querem ser boas para o mundo e fazer uma diferença, fazer algo com significado. De certa forma, nosso papel é mostrar às pessoas como elas podem fazer isso e é importante mostrar modelos para que os jovens possam se espelhar. Esse é um dos desafios no cenário que estamos vivendo hoje com uma geração jovem, não só no Brasil, procurando políticos e líderes empresarias que possam ser respeitados e receber confiança.

Precisamos ter melhores exemplos e mostrar caminhos.

O sr. tem alguma referência de grandes nomes do empresariado brasileiro que poderiam assumir papel político de importância?

Não tenho condição de listar nomes, mas penso que certamente é possível, se houver pessoas que têm credibilidade e que realmente se preocupem em fazer diferença na vida das outras pessoas.


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