Folha de S. Paulo


Na crise, fundos de apoio a empresas inovadoras perdem fôlego

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Luca Cafici e Diego Fischer (a esq.), sócios da empresa InstaCarro
Luca Cafici e Diego Fischer (a dir.), sócios da empresa InstaCarro

O incipiente mercado brasileiro de investimentos em start-ups (companhias iniciantes de tecnologia) teve seu crescimento interrompido pela crise política e econômica pela qual passa o país.

Após quase dobrar de 2012 para 2013, com 150 operações envolvendo fundos de capital de risco, esse mercado perdeu fôlego e somou 135 transações em 2014 e 141 em 2015, segundo a consultoria Transactional Track Record, em parceria com a Merrill Corporation.

No primeiro semestre deste, foram 78 aportes.

E, apesar de sinais de melhora da economia, indicadores mostram que o setor vai continuar desaquecido.

Investimento em novatas - Investimentos feitos por fundos de capital de risco

O potencial de investimento (medido pelo valor que o investidor prevê para o período) caiu de R$ 2,9 bilhões no biênio 2015/2016 para R$ 1,7 bilhão no período 2016/2017, de acordo com a Anjos do Brasil, organização de apoio ao investimento-anjo (feito por pessoas físicas em start-ups).

A instabilidade política e os juros altos são alguns dos fatores apontados por investidores para a queda.

Com o cenário desfavorável, fica mais difícil convencer quem tem dinheiro a optar por esse tipo de investimento, de altíssimo risco (mesmo com promessa de ganhos elevados caso haja sucesso).

Investimento em novatas - Valor aplicado por investidores-anjo

Investimento em novatas - Potencial de investimento-anjo no biênio, em R$ bilhões

Newton Campos, coordenador do Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da Fundação Getulio Vargas, diz que a aposta nesse tipo de empresa inovadora é fundamental para o ganho de competitividade do país.

A situação do Brasil não ficou fora da pauta quando a start-up InstaCarro, que desenvolve sistema de leilão on-line para venda de carros usados de clientes para revendedores, foi buscar investimentos para crescer.

A empresa conseguiu levantar US$ 3,5 milhões em dezembro do ano passado.

Seu presidente, Diego Fischer, 33, afirma que a companhia está perto de fechar outra injeção de capital, agora de US$ 7 milhões.

Fischer diz que o maior valor do segundo aporte e as reviravoltas políticas do país fizeram a busca ser mais difícil neste ano. "O investidor externo não entende todo o contexto, ele quer saber se o Brasil pode mergulhar em uma situação ainda pior."

OPORTUNIDADES

Porém, há quem também veja este momento com otimismo. Anderson Thees, cofundador do fundo Redpoint eventures, afirma que a crise se tornou uma oportunidade para encontrar bons projetos.

Segundo ele, há vantagens como maiores chances de conseguir mão de obra qualificada e preços mais atrativos nas negociações.

"Você tem grandes chances de ter sucesso na crise com empresas que trabalham com inovação e oferecem serviços que proporcionam eficiência", diz Pedro Sirotsky Melzer, diretor do fundo e.Bricks Ventures.


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