Ainda sem sinais robustos de recuperação, as vendas no varejo ficaram praticamente estáveis em junho, com leve alta de 0,1%, de acordo com dados do IBGE divulgados nesta terça-feira (9).
O resultado veio melhor que o centro das expectativas dos economistas consultados pela agência internacional Bloomberg, que esperavam queda de 0,4% na comparação com maio.
O dado de junho indica que o comércio esboça um movimento, após cair 0,9% em maio, afetado pela queda no número dos trabalhadores com carteira assinada, pela diminuição da renda e pelo aumento dos juros no crédito às famílias.
Na comparação com junho do ano passado, a queda foi de 5,3% –a previsão dos economistas era de recuo de 6,2%. No ano, o varejo acumula queda de 7%.
Para Fabio Bentes, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), o termo "recuperação" ainda é de um otimismo exagerado para descrever o desempenho do setor no ano de 2016. A palavra mais precisa, segundo ele, seria "reação".
Volume de vendas do varejo - Em %
"A queda de 5,3% em junho [em relação ao mesmo mês de 2015] é ruim, mas a queda anterior, de maio, havia sido pior, de 9%. São duas quedas, mas uma é quase o dobro da outra", diz Bentes.
O assessor econômico da FecomercioSP Fabio Pina concorda que ainda não é possível chegar a conclusões muito positivas de que o comércio está melhorando. Para ele, a volatilidade nas vendas tem sido tão forte que dificulta a visão de uma trajetória de melhoria contínua.
A sinalização de um novo crescimento, e ainda com base fraca, deve surgir apenas no final do ano, segundo o economista da FecomercioSP.
"Após mais de dois anos em que as datas comemorativas são piores do que elas mesmas no ano anterior, nossas projeções mostram que o Dia dos Pais será negativo e que provavelmente o Natal vai empatar com o de 2015 ou vai crescer pouco. Será uma data simbólica", diz Pina.
Alencar Burti, presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), atribui ao calendário a recente desaceleração da queda nas vendas. "Junho de 2016 contou com um dia útil a mais, beneficiando o comércio. É só um efeito estatístico", afirma.
Burti diz acreditar que a recuperação será lenta e dependerá da queda dos juros.
SETORES
Houve aumento de vendas em áreas como tecidos, vestuário e calçados (0,7%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,8%).
Os setores foram beneficiados por feriados de junho –como festas juninas e Dia dos Namorados.
Entre os setores que registraram sinais negativos na comparação com maio estão combustíveis (-0,1%), móveis e eletrodomésticos (-0,1%) e artigos farmacêuticos, médicos e de perfumaria (-0,2%).
O comércio foi negativamente pressionado pelo desempenho de hipermercados e supermercados, produtos alimentícios e bebidas, que recuaram 0,4% em junho. Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação caíram 3,6%.
A receita nominal de vendas do varejo cresceu 0,9% em relação a maio e avançou 6% em relação a junho de 2015. A inflação no período foi de 8,84%.
O indicador de comércio ampliado, que inclui veículos e material de construção, teve queda de 0,2% na comparação com maio, reflexo da retração de 1,3% do segmento automotivo.