Folha de S. Paulo


A fita cassete é o novo vinil

Fernanda Ezabella/Folhapress
Fotos da loja da Burger Records, em Los Angeles, que vende fitas cassete ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Loja em Los Angeles, nos EUA, que vende fitas cassete

Vinis, legais de novo? Talvez na semana passada. Descolada mesmo (até agora) é a fita cassete. Abreviada para K7 no Brasil, a mídia magnética embarcou na mesma onda retrô que deu status cult aos LPs anos atrás.

Kanye West e Eminem estão entre os artistas que vêm lançando suas músicas na relíquia. As lojas da Urban Outfitters, satélites da geração milênio para as últimas tendências, vendem a preço médio de US$ 13 (R$ 41) essas e outras novidades não tão contemporâneas assim.

Uma delas é a trilha do filme "De Volta para o Futuro", de 1985. Justin Bieber, outro que aderiu à mídia anciã, nasceu nove anos depois.

Lançado oficialmente em 1963, pela holandesa Philips, o K7 viveu seu auge nos anos 1980 e atravessou as últimas décadas no modo zumbi.

Sucateado pelas novas tecnologias, sobreviveu se agarrando a rincões do mercado –fitas com mensagens religiosas, por exemplo, continuaram populares, sobretudo no interior.

Fita cassete

O livro "Retromania", sobre cultura pop, tem uma tese para explicar por que os cassetes voltaram à moda: se nos anos 2000 o barato era revisitar gêneros musicais, o fetiche atual é por mídias antiquadas.

"Todo o mundo quer bancar o arqueólogo", diz Marcelo Conter, autor de "Lo-Fi - Música Pop em Baixa Definição".

Para Conter, dois motivos justificam o retorno da fita: 1) Elas são mais baratas –na Urban Outfitters, um LP custa em média duas vezes mais; 2) Em termos de qualidade, há quem veja diferencial.

"Ela tem textura sonora diferente, mais quente, e o fato de dificultar pular as faixas privilegia a audição contínua, o que favorece álbuns conceituais", afirma Conter.

Enquanto continuar apostando num nichos, o cassete deve passar bem. No mercado desde 1969, a americana National Audio Company fabrica anualmente cerca de 20 milhões de fitas, virgens (sem nenhum áudio) ou pré-gravadas.

Após anos de sufoco, as vendas da companhia aumentaram 31% em 2015. Até junho deste ano, "estão muito além da primeira metade do ano passado", diz Steve Stepp, presidente da empresa (que não divulga o lucro).

O QUE É?

Se você tem de 20 anos de idade ou menos, pode estar pensando: "Tá, mas do que estamos falando mesmo?". Houve um tempo pré-internet, anterior até mesmo ao CD, em que as pessoas saíam pelas ruas com um aparelho chamado walkman.

Perto dos 130 gramas do iPhone 6, parecia uma bigorna de quase meio quilo. Mas dava para escutar a música que desse na telha, sem ficar refém do rádio, nessa novidade portátil introduzida em 1979 pela japonesa Sony.

Dentro ia um dos últimos hits da mídia analógica: a fita magnética, que vinha enrolada dentro de um retângulo plástico e onde dava para capturar novos sons e reproduzir áudios pré-gravados.

Quem curtiria uma tecnologia tão obsoleta hoje? Jed Shepherd, dono da gravadora independente Post/Pop, de Londres, questiona a ideia de que, no universo das vendas físicas, CD é a melhor pedida.

À Folha ele repete a frase que mais ouviu ao abrir o selo: "Que isso, Jed? Não vai funcionar nem em 1 milhão de anos". Em 24 meses, lançou fitas de 50 bandas, de veteranas (The Prodigy) a calouras, como a Gunship.

Em geral, são lotes pequenos, de 50 exemplares, alguns customizados –no lado B da Gunship, por exemplo, o britânico gravou a trilha de "Ataque dos Camelos Mutantes", jogo do videogame Commodore 64 (1982-1994).

*

O QUE É UMA FITA CASSETE?

Magnética
A fita cassete, também conhecida como K7, é uma fita magnética para gravação e reprodução de áudios. Foi lançada oficialmente em 1963, por invenção da empresa holandesa Philips

Caixa plástica
É constituída por dois carretéis, pela fita magnética e pelo mecanismo de movimento da fita –tudo alojado em uma caixa plástica

Lado A, Lado B
É possível gravar dos dois lados da fita. Dependendo do comprimento, permite diversas durações de gravação. A mais comum é de 60 minutos, sendo 30 minutos de cada lado

Fita virgem
É possível comprar a fita virgem, em branco (que não tem nenhum áudio gravado), ou com música gravada. Além disso, também é possível regravar em cima da gravação anterior

POR QUE SAIU DE MODA
- Nos anos 1980, as fitas foram consideradas ameaça à indústria musical pelo seu potencial de gravação simplificada e de pirataria
- Com a difusão dos CDs, seguida pela ampliação do acesso à internet, as fitas perderam popularidade

POR QUE ESTÁ VOLTANDO
- A novidade acompanha a onda retrô que recuperou o prestígio dos discos de vinil
- Nos últimos anos, as fitas ganharam status de cult e voltaram a conquistar espaço
- O principal público vem do mercado independente, como bandas de punk e metal


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