Folha de S. Paulo


Dólar cai a R$ 3,19, menor cotação em 1 ano; Bolsa tem máxima em 15 meses

Em uma sucessão de fatores favoráveis, o dólar comercial encerrou a sessão abaixo de R$ 3,20 nesta quinta-feira (4), na menor cotação em mais de um ano, e o Ibovespa atingiu a pontuação mais alta em mais de 15 meses.

O principal fator a impulsionar o mercado doméstico foi a decisão do banco central britânico (BoE, na sigla em inglês) de cortar os juros pela primeira vez desde 2009. O banco central britânico também vai comprar mais 60 bilhões de libras em títulos públicos para aliviar o impacto do plebiscito de 23 de junho para o Reino Unido deixar a União Europeia.

A medida aumenta ainda a mais os recursos disponíveis no mundo para investir, e o Brasil, com seus juros altos, segue sendo um mercado atrativo, atraindo fluxo estrangeiro.

Contribuiu para animar ainda mais o mercado o fato de a Comissão Especial do Impeachment ter aprovado o relatório final do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) favorável à saída definitiva da presidente afastada, Dilma Rousseff, do cargo. Foram 14 votos a favor do parecer e apenas cinco contrários.

"A votação do relatório foi por ampla margem de votos, e a expectativa é de que ocorra o mesmo no plenário do Senado", comenta Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos. "O mercado se anima porque o processo de impeachment caminha para o seu final. A leitura é de que, ao sair da interinidade, o presidente Michel Temer não precisará fazer concessões e terá mais condições de implementar o ajuste fiscal"

Além disso, os investidores voltaram a dar um voto de confiança ao governo interino após as declarações do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, nesta quarta-feira. Meirelles indicou que, com os sinais de melhora da economia, não deve ser necessário aumentar impostos. Como consequência, os juros futuros e o CDS (credit default swap), indicador de percepção de risco, recuaram.

A forte alta do petróleo no mercado internacional, pelo segundo dia seguido, também impulsionou os mercados.

As Bolsas europeias fecharam com altas expressivas, impulsionadas pela decisão do BoE. Na Bolsa de Nova York, porém, os índices fecharam perto da estabilidade, refletindo cautela antes da divulgação, nesta sexta-feira (5), dos dados americanos de emprego em julho.

CÂMBIO E JUROS

O dólar comercial fechou em queda de 1,41%, a R$ 3,1960, no menor patamar desde 21 de julho de 2015 (R$ 3,1740).

A moeda americana à vista caiu 1,16%, a R$ 3,2098, na cotação mais baixa desde 30 de junho deste ano (R$ 3,1849).

A desvalorização do dólar diante do real ocorreu mesmo com mais uma ação do Banco Central no câmbio. O BC leiloou pela manhã mais 10.000 contratos de swap cambial reverso, no montante de US$ 500 milhões.

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NOTAS DE DÓLAR

"Os investidores ainda reagem às declarações de Meirelles na véspera. O ministro foi enfático ao se colocar como âncora do ajuste fiscal, que estava sendo alvo de incertezas do mercado", comenta Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. "A credibilidade do governo Temer é sustentada pela equipe econômica."

Antes das declarações de Meirelles, pairava entre investidores um certo mal-estar depois que o governo Temer desistiu de impor um novo limite para gastos com pessoal nos Estados na renegociação das dívidas estaduais.

Galhardo cita ainda como motivo para o aumento do fluxo para o país a perspectiva de entrada de US$ 1 bilhão captados pela mineradora Vale na emissão externa de bônus realizada nesta quarta-feira. "Além disso, os juros altos no país continuam a ser um grande atrativo para investidores."

Dólar atinge o menor patamar em mais de um ano - Moeda americana comercial, em R$

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 caiu de 13,990% para 13,980%; o contrato de DI para janeiro de 2018 recuou de 12,830% para 12,780%; o DI para janeiro de 2021 passou de 12,080% para 11,970%.

O CDS (credit default swap) brasileiro de cinco anos, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, perdia 2,18%, aos 279,277 pontos. É a menor pontuação desde 22 de julho do ano passado (271,245 pontos).

BOLSA

O Ibovespa fechou em alta de 0,91%, aos 57.593,90 pontos. É a maior pontuação desde 5 de maio do ano passado, quando encerrou aos 58.051.61 pontos. O giro financeiro foi de R$ 8 bilhões.

As ações da Petrobras ganharam 0,92%, a R$ 12,01 (PN), e 0,14%, a R$ 13,57 (ON), impulsionadas pela alta dos preços do petróleo.

Os papéis da Vale PNA subiram 0,06%, a R$ 15,48 (PNA), mas as ON recuaram 0,31%, a R$ 18,76, pressionados pela queda de mais de 3% do minério de ferro na China.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN subiu 0,57%; Bradesco PN, +1,08%; Bradesco ON, +1,98%; Banco do Brasil ON, +2,68%; Santander unit, +2,11%; e BM&FBovespa ON, +4,40%
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As ações PNA da Braskem lideraram os ganhos do Ibovespa, com alta de 10,80%, a R$ 20,31, após divulgar o balanço do segundo trimestre. A petroquímica teve lucro líquido consolidado de R$ 281 milhões no segundo trimestre, queda de 73% sobre o resultado obtido um ano antes. O resultado, porém, ficou acima das projeções de analistas.

Bolsa atinge maior pontuação em 15 meses - Ibovespa, em pontos

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 subiu 0,02%; o Dow Jones, -0,02%; e o Nasdaq, +0,13%.

Bolsa de Londres fechou em alta de 1,59%; Paris, +0,57%; Frankfurt, +0,57%; Madri, +1,48%; e Milão, +0,66%.

Na China, o índice CSI 300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve alta de 0,24%, enquanto o índice de Xangai ganhou 0,14%.

O banco central da China disse na quarta-feira que o governo vai usar múltiplas ferramentas de política monetária e manter ampla liquidez e crescimento razoável do crédito no segundo semestre do ano.

O índice japonês Nikkei terminou com alta de 1,07%, impulsionado pelo enfraquecimento do iene, que beneficiou ações de exportadoras.


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