Folha de S. Paulo


Rival vai comprar operações do Uber na China

Jason Lee/Reuters
Didi Chuxing anuncia acordo para comprar operações do Uber na China
Didi Chuxing anuncia acordo para comprar operações do Uber na China

O Uber fechou acordo para fundir suas operações na China com as do rival Didi Chuxing, abandonando sua dispendiosa batalha pelo mercado chinês de serviços de carros.

Sob os termos do acordo, que será anunciado nos próximos dias, o Didi adquirirá todas as operações do Uber na China e os investidores do Uber China receberão uma participação acionária de 20% no Didi, de acordo com duas pessoas informadas sobre a transação.

O Didi, o maior serviço chinês de carros, também investirá US$ 1 bilhão em uma participação acionária nos negócios internacionais do Uber, em um acordo que representa uma trégua entre duas das mais ferozmente competitivas companhias de serviços de carros no planeta.

Os dois rivais despejaram bilhões de dólares em subsídios a passageiros e motoristas, em um esforço para ganhar participação no mercado da China.

A decisão do Uber se segue a relatos de crescente pressão da parte de investidores, que estavam preocupados por a empresa sediada em San Francisco estar desperdiçando dinheiro em um mercado no qual ela não teria como vencer.

A ideia de uma união foi ventilada inicialmente por Travis Kalanick, o presidente-executivo do Uber, há mais de dois anos, quando conversou com Cheng Wei, o fundador do Didi, em Pequim.

À medida que a disputa por mercado esquentava, tanto o Uber quanto o Didi realizavam diversas rodadas de capitalização. O Didi levantou mais de US$ 7 bilhões em julho, em capital e por meio de títulos de dívida, um mês depois de receber US$ 1 bilhão em investimento da Apple, e o Uber levantou US$ 3,5 bilhões junto ao fundo nacional de investimento da Arábia Saudita, mais ou menos no mesmo momento.

A escala sem precedentes do esforço de arrecadação de fundos também deixou claro o quanto seria dispendioso, para os dois lados, continuar a batalha.

As discussões sobre a transação só se tornaram sérias nas últimas semanas, depois que as manobras de capitalização foram concluídas, de acordo com uma pessoa próxima à transação.

A nova aliança entre o Didi e o Uber pode se provar complicada para o Lyft, o maior rival do Uber nos Estados Unidos. O Didi investiu no Lyft, e as duas companhias interconectaram seus apps, de modo a que viajantes chineses possam chamar carros do Lyft quando estão nos Estados Unidos.

Kalanick também é presidente-executivo do Uber China, e vinha supervisionando pessoalmente o seu crescimento, passando praticamente 20% de seu tempo no país, no ano passado.

A estratégia do Uber na China dependia de um pesado subsídio às corridas, e a companhia estava sofrendo mais de US$ 1 bilhão ao ano em prejuízo no país, com suas bonificações a motoristas e descontos para os passageiros.

Com a alta na participação de mercado do Uber no país, a China se tornou o maior mercado da empresa em termos de corridas diárias, superando os Estados Unidos.

Embora o Uber tenha frequentemente afirmado que controla de 30% a 35% do mercado de serviços de carros na China, os termos da transação parecem refletir os cálculos do Didi, que define sua fatia no mercado do país como de 80%.

O Didi diz que seus motoristas realizam 14 milhões de corridas ao dia, e que tem 300 milhões de usuários, principalmente na China. O Uber não divulgou dados comparativos.

A fusão lembra a consolidação semelhante que resultou na criação do Didi, em fevereiro de 2015, quando a Didi Dache e a Kuaidi Dache —depois de gastarem centenas de milhões de dólares em subsídios para atrair clientes— abruptamente anunciaram uma fusão de US$ 6 bilhões, formando a Didi Quaidi, mais tarde Didi Chuxing.

Um analista bem informado sobre a situação disse que tanto o Uber quanto o Didi estavam sob pressão de seus financiadores para que fizessem alguma coisa quanto aos subsídios que vinham pagando.

O acordo surge na esteira de novos regulamentos promulgados na semana passada que legalizaram os serviços online de carros em toda a China.

As duas empresas talvez estivessem esperando esse desdobramento a fim de levar adiante a fusão, já que a nova estrutura dá ao setor uma posição legal mais sólida na China.

O Uber é o maior acionista do Uber China, cujos outros investidores incluem a companhia chinesa de buscas Baidu e o conglomerado de viagens chinês HNA.

A notícia sobre a transação foi veiculada inicialmente pela Bloomberg News. Rumores quanto a uma união circularam amplamente na mídia social chinesa no final de semana, bem como o suposto rascunho de um post de Kalanick sobre o acordo.

O Uber se recusou a comentar. O Didi não respondeu a diversos pedidos de comentário.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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