Folha de S. Paulo


'Buzz' e espera ajudam a divulgar 'Pokémon Go', mas podem prejudicá-lo

A dificuldade da Nintendo de "segurar" seus servidores para levar o game "Pokémon Go" a mais países, incluindo o Brasil, acabou funcionando como uma ferramenta acidental de marketing —o buzz em torno da espera estimula as pessoas a comentar o tema. Mas isso também pode ser prejudicial para o jogo.

Na última segunda-feira (25), quando foi anunciado no Twitter que o game havia chegado a Hong Kong, dezenas de usuários brasileiros responderam, vários em tom jocoso, pedindo a chegada do jogo.

"Pokémon Go" teve 206,6 mil menções na rede social no Brasil entre os dias 20 e 27 de julho, a terceira semana desde seu lançamento. O número é alto, mas representa uma queda 23% em relação aos sete dias anteriores.

Pokémon Go

"Os gamers são um público muito conectado, que quer logo as novidades de outros países. A fragmentação no lançamento faz com que a empresa perca uma força de marketing importante", diz Mitikazu Lisboa, presidente da desenvolvedora de jogos brasileira Hive. Ele já trabalhou com a Pokémon Company, uma das responsáveis pelo jogo, no passado.

"A coisa está desaquecendo, voltando à normalidade. Se tivesse saído aqui há duas semanas com certeza o barulho seria maior."

QUEDA

Nesta semana, a Nintendo parece estar passando por uma espécie de "ressaca", depois de duas semanas de euforia. Depois de terem praticamente dobrado de valor desde o lançamento do produto, as ações da companhia caíram 23,8% nesta semana.

Os motivos: ao divulgar seu balanço trimestral, a empresa disse que o impacto financeiro do jogo seria "limitado" e depois atrasou o lançamento do Pokémon Go Plus, um acessório de US$ 35 que alerta os jogadores sobre a proximidade de Pokémons para que eles não tenham que ficar olhando para o celular o tempo todo.

Desde o lançamento, "Pokémon Go" foi baixado em mais de 75 milhões de vezes nas lojas on-line da Apple e do Google, de acordo com a consultoria Sensor Tower, um recorde para um game móvel lançado há menos de um mês.

Caçada urbana

A Niantic, produtora do game, se encontra em uma situação um tanto desafiadora causada pelo próprio sucesso do produto: ter que em breve atualizá-lo para manter o interesse dos usuários onde o produto já foi lançado e, ao mesmo tempo, chegar a novos mercados. Hoje, "Pokémon Go" está disponível em 37 países, dos cerca de 100 mercados disponíveis nas lojas on-line de Apple e Google.

MUDANÇAS

Atualizações, com a inclusão de novos recursos e desafios, são cruciais para jogos em plataformas móveis, que em geral são gratuitos e dependem de manter estimulada uma boa base de usuários intensos, que paguem para usar determinados recursos ou avançar nas partidas.

POKÉMON GO
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"Não é só criar um jogo que estoure, é manter o jogo 'estourado', a febre. Acho que 'Pokémon Go' vai pegar, mas por quanto tempo?", questiona Gustavo Teles, diretor da Nevaly, agência especializada em promoção de games.

Aos poucos, jogadores mais aficionados vão chegando a fases mais avançadas do jogo e precisarão de novos incentivos para permanecer. O arquiteto Pedro Crescenti Gonzalez, 27, um fanático por Pokémons e que já capturou as 142 criaturas disponíveis nos Estados Unidos, ficou por dias imbuído da missão no jogo. Agora, o uso diminiu.

Ele considera a versão para celular "muito crua" em relação às anteriores, como a do Game Boy. "O jogo é só isso: capturar os Pokémons e fazê-los evoluir. Eu ainda não posso lutar contra outra pessoa, por exemplo. A gente está acreditando que vai ter alguma pontuação, algum ranking", afirma ele.

Nesta semana, durante a feira Comic-Con, em San Diego (EUA), o presidente da Niantic disse que havia planos de adicionar novos personagens e também mudar um pouco a formatação das "Pokestops", onde os usuários podem recolher itens virtuais no jogo.

Para isso, os servidores têm de ser estabilizados.


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