Folha de S. Paulo


Balanços do Bradesco e do Pão de Açúcar pressionam Bolsa; dólar sobe

Paulo Whitaker/Reuters
Lucro do Bradesco teve queda de 7,62% em relação ao mesmo período de 2015
Lucro do Bradesco teve queda de 7,62% em relação ao mesmo período de 2015

Balanços fracos de empresas relativos ao segundo trimestre deste ano pressionaram o Ibovespa nesta quinta-feira (28). O principal índice da Bolsa paulista fechou em baixa de 0,33%, aos 56.667,12 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7,1 bilhões.

Os papéis do Bradesco recuaram 4,44%, a R$ 27,50 (PN), e 2,88%, a R$ 28,66 (ON). O banco registrou lucro líquido recorrente —que exclui efeitos extraordinários— de R$ 4,161 bilhões no segundo trimestre, queda de 7,62% em relação ao mesmo período de 2015.

A inadimplência do banco acima de 90 dias registrou forte alta no segundo trimestre. O índice foi de 4,6%, ante 3,7% no mesmo período de 2015 e 4,2% nos três meses anteriores. Foi o sexto trimestre seguido de elevação do indicador.

"O trimestre foi ruim, o que já esperávamos, contando com elevação na inadimplência, queda na carteira de crédito, queda no lucro e elevação das despesas com PDD [Provisão para Devedores Duvidosos]", escreve o analista Lenon Borges, da Ativa Investimentos, em comentário ao mercado.

"Também chamou atenção a revisão do guidance [projeção] de despesas com PDD para 2016 anunciado pelo banco, que agora estima algo entre R$ 18 bilhões e R$ 20 bilhões —antes estava entre R$ 16,5 bilhões e R$ 18,5 bilhões", acrescenta Borges.

Também pesou sobre as ações do banco o fato de a Justiça Federal em Brasília ter acolhido a denúncia feita pela Procuradoria da República na capital contra o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e mais nove pessoas suspeitas de negociarem pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais).

O Carf é um órgão de recursos contra autuações da Receita Federal. Casos de corrupção nele são investigados pela Operação Zelotes.

Outras ações de bancos também caíram, influenciadas pelo desempenho dos papéis do Bradesco: Banco do Brasil ON, -3,77%; Itaú Unibanco PN, -1,10%; e Santander unit, -1,24%.

VALE E USIMINAS

Apesar da alta do minério de ferro na China, Vale PNA recuou 0,79%, a R$ 14,96, mas Vale ON subiu 0,63%, a R$ 19,04. A mineradora anunciou um lucro líquido de R$ 3,585 bilhões no segundo trimestre de 2016, 30% a menos que no mesmo período do ano anterior.

Segundo a companhia, a queda no resultado deveu-se principalmente à provisão de R$ 3,7 bilhões anunciada na quarta-feira (27) para cobrir os custos de remediação da área atingida pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG).

Usiminas PNA subiu 2,41%; fora do Ibovespa, Usiminas ON caiu 3,84%. A siderúrgica divulgou o oitavo resultado trimestral negativo consecutivo, mas os números mostraram uma redução no prejuízo, em meio à suspensão de obrigações financeiras de empresa junto a bancos credores e esforços de reestruturação de suas operações.

A Usiminas teve prejuízo líquido de R$ 123 milhões no segundo trimestre, ante resultados negativos de R$ 151 milhões no primeiro trimestre e de R$ 781 milhões entre abril e junho de 2015.

PÃO DE AÇÚCAR E NATURA

As ações PN do Pão de Açúcar perderam 10,40%, a R$ 48,20. O grupo teve prejuízo de R$ 583 milhões no segundo trimestre, ampliando resultado negativo de R$ 13 milhões registrado para o mesmo período do ano passado.

Os papéis ON da Natura foram um dos poucos destaques em alta. O papel fechou com ganho de 10,13%, a R$ 30,00, apesar de a companhia ter reportado lucro líquido de R$ 90,9 milhões de reais no segundo trimestre, queda de 22% ante o mesmo período do ano passado.

PETROBRAS

As ações da Petrobras recuaram, influenciadas pela queda do petróleo no mercado internacional. Petrobras PN perdeu 0,60%, a R$ 11,44, e ON, -1,91%, a R$ 13,34.

O petróleo Brent, negociado em Londres, recuava 1,93%, a US$ 42,63; o petróleo tipo WTI, negociado em Nova York, caía 1,98%, a US$ 41,09. A commodity cai por causa das preocupações do mercado em relação ao excesso de oferta global.

CÂMBIO E JUROS

O dólar perdeu força globalmente, depois que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) sinalizou que fará apenas um aumento dos juros neste ano, provavelmente em dezembro.

Entretanto, a moeda americana acabou subindo ante o real. O dólar comercial encerrou a sessão com ganho de 0,70%, a R$ 3,2960. O dólar à vista, que termina o pregão mais cedo, caiu 0,27%, a R$ 3,2792.

Para o superintendente de câmbio da corretora Intercam, Jaime Ferreira, a cotação do real sofreu influência da formação da taxa Ptax desta sexta-feira (29). A taxa, calculada pelo BC, serve de referência a vários contratos cambiais.

"Com a proximidade do fim do mês, há uma 'guerra' entre os que estão 'comprados' e 'vendidos' em contratos de dólar na BM&F", explica Ferreira. Nessa disputa, operadores tentam deslocar as cotações para patamares favoráveis a suas posições.

Além disso, o BC leiloou pela manhã mais 10.000 contratos de swap cambial reverso, equivalentes à compra futura de dólares, no montante de US$ 500 milhões.

A queda do petróleo no mercado internacional foi outro fator de pressão sobre o real, assim como a notícia de que o presidente do Bradesco virou réu na investigação sobre propina no Carf.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 subiu de 13,980% para 13,995%; o contrato de DI para janeiro de 2018 avançou de 12,840% para 12,910%; o DI para janeiro de 2021 passou de 12,050% para 12,080%.

"É um momento de consolidação, após baixas recentes, tanto em dólar quanto nos juros mais longos. Em especial, estamos à espera de detalhes [do Ministério] da Fazenda sobre o ajuste fiscal", escreve a equipe de análise da Guide Investimentos.

O CDS (credit default swap) brasileiro de cinco anos, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, subia 0,99%, aos 295,531 pontos.

EXTERIOR

As Bolsas globais também reagiram a resultados corporativos do segundo trimestre, além do recuo do petróleo. Os mercados aguardam ainda a decisão de política monetária do banco central do Japão, nesta sexta-feira (29), que pode anunciar mais estímulos monetários.

Também nesta sexta-feira, sai a primeira prévia do PIB (Produto Interno Bruto) americano do segundo trimestre. A média das estimativas de economistas ouvidos pela agência Bloomberg são de uma alta anualizada de 2,51%

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 subiu 0,16%; o Dow Jones, -0,09%; e o Nasdaq, +0,30%.

Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em queda de 0,44%; Paris, -0,59%; Frankfurt, -0,43%; Madri, -2,10%; e Milão, -2,02%.

As Bolsas chinesas fecharam em leve alta nesta quinta-feira. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve ganho de 0,09%, enquanto o índice de Xangai subiu 0,1%.

O índice japonês Nikkei terminou com queda de 1,13%, pressionado pelo iene mais forte e pelo nervosismo antes da decisão de política monetária do banco central japonês.


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