Folha de S. Paulo


Grandes empresas buscam parcerias com start-ups para aprimorar serviços

Karime Xavier/Folhapress
Marcelo Tambascia, gerente do laboratório corporativo da 3M do Brasil
Marcelo Tambascia, gerente do laboratório corporativo da 3M do Brasil

Grandes companhias que abriram seus departamentos de pesquisa e se conectaram a start-ups conseguiram agilizar o desenvolvimento de produtos e serviços para atender os consumidores, ter acesso a soluções que permitiram reduzir custos e avançar em seus modelos de negócios.

A experiência rendeu, e as empresas criaram programas internos para se conectarem cada vez mais a essas pequenas empresas com ideias inovadoras.

Há 70 anos no Brasil, a multinacional 3M começou no ano passado a desenvolver projetos de forma mais estruturada com start-ups. Marcelo Tambascia, gerente do laboratório corporativo da 3M do Brasil, avalia que as elas preenchem uma lacuna que existe nas grandes corporações –o desafio de levar uma resposta mais rápida ao mercado e ao cliente.

"Pensar saídas para um produto fora de um departamento interno da empresa permite ser ágil para customizá-lo. E não só no processo mas também na forma de gerar o conhecimento. Costumo dizer que uma start-up não pensa 'fora da caixa', porque ela não está presa a caixa alguma", diz.

O tempo para colocar um novo produto no mercado pode ser encurtado em até dois anos, dependendo do segmento em que será lançado, segundo empresas e analistas que atuam no setor.

Após desafiar as start-ups para buscarem novos materiais nos segmentos industrial e de saúde, levá-las para conhecer 30 projetos internos e se conectar a elas em eventos externos, as parcerias da 3M com as pequenas renderam até situações inusitadas.

"Uma start-up da área de energia solar virou nossa cliente. Fui atrás de um produto, em um evento, e acabei trazendo um serviço de plataforma web para gerenciamento de frota. As oportunidades aparecem assim", diz Tambascia. Outros 20 projetos foram selecionados recentemente pelo potencial de trazer ganhos ao modelo de gestão da companhia.

Para 2017, uma das parcerias da 3M promete mudanças no processo industrial. "Estamos trabalhando na cocriação de um produto, baseado em nano partícula, que trará ganho na velocidade de produção."

O Bradesco, um dos cinco maiores bancos do país, criou há dois anos o InovaBra, programa de inovação aberta para acelerar projetos de start-ups com soluções para o setor financeiro.

Das 553 inscritas na primeira etapa, dez foram selecionadas em 2015 e tiveram projetos, acompanhados por executivos –já implementados ou ainda em desenvolvimento no banco. Na segunda fase do programa, foram 600 inscrições, e 11 novas empresas devem executar seus projetos até o final deste ano.

A Quero Quitar, empresa que criou uma plataforma on-line de renegociação de dívidas, foi uma das start-ups que conseguiu ver seu produto chegar aos clientes do banco. Ele veio a calhar em um momento em que a inadimplência no país aumentou e a solução encontrada permite contato com devedores sem a interferência de pessoas, o que evita constrangimentos e acelera a renegociação.

"De um lado, a start-up ganha porque aprende a trabalhar com escala, a ter gestão do seu negócio e tem o apadrinhamento do banco, o que permite atingir outras companhias de grande porte", diz Maurício Minas, vice-presidente do Bradesco. "Do outro, aprendemos a enxergar o mundo de uma ótica que não é a da grande corporação. Os ganhos de produtividade, eficiência e custo têm impacto no nosso negócio", afirma o executivo, sem detalhar as cifras.

Conectada a mais de 8.000 empresas do tipo no mundo, por meio de seu programa de empreendedorismo, a IBM é uma das empresas que mais investe em parcerias na busca de tecnologia e inovação.

"Trazer essas iniciativas para dentro da empresa significa eliminar burocracia. Muitas vezes um projeto tem de entrar na fila, esperar, e a empresa acaba não tendo a mesma agilidade de uma start-up para criar uma solução", diz Claudio Bessa, executivo da área de Start-ups & Desenvolvedores para a América Latina.

No SmartCamp 2015, maior evento da IBM para start-ups e que faz parte de seu programa global de empreendedorismo, duas das vencedoras na final brasileira usaram a tecnologia da empresa para desenvolver soluções ligadas à mobilidade urbana. Elas ficaram entre as 20 melhores do mundo na etapa internacional neste ano.

No setor de tecnologia da informação e comunicação, a Algar Telecom, de Minas Gerais, criou um programa para ajudar as start-ups a crescerem, em parceria com a Aceleratech uma das maiores aceleradoras da América Latina.

Três empresas, entre 174 inscritas, foram escolhidas e estão com projetos em andamento na área de internet das coisas (para segurança e para equipamentos industriais e agrícolas) e uma desenvolve um aplicativo para gestão de controle de despesas de viagem.

"São projetos que, em seis meses, serão avaliados para ver se faz sentido serem absorvidos pela empresa ou se será feita parceria com as start-ups em outro modelo de negócios", diz Rodolfo Ribeiro, especialista em inovação da Algar Telecom.


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