Folha de S. Paulo


Juros futuros avançam em ajuste pós-Copom; dólar sobe com exterior e BC

Marcos Santos/USP Imagens
Boletim Focus reduz projeção para inflação para 7,57% em 2016
Analistas esperam redução da taxa básica de juros somente a partir de outubro

Os juros futuros subiram nesta quinta-feira (21), após o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central ter reiterado que não há espaço para flexibilização da política monetária.

Esse foi o teor do comunicado divulgado nesta quarta-feira (20) pelo comitê, logo após a esperada decisão de manter da taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. Foi a primeira reunião do Copom sob a nova diretoria do BC.

A inflação acima do esperado no curto prazo, decorrente, principalmente, de preços de alimentos, foi um dos riscos econômicos apontados pelo BC para justificar a manutenção da Selic. O IPCA-15 de julho acima das estimativas, anunciado pelo IBGE na manhã desta quinta-feira, corroborou essa visão.

Com pressão dos preços de alimentos e bebidas, o IPCA-15 foi de 0,54% em julho, acima do registrado em junho (0,40%), mas abaixo do mesmo mês do ano passado (0,59%). Economistas consultados pela agência Bloomberg esperavam índice de 0,45% para julho.

No acumulado em 12 meses, o índice ficou em 8,93%, próximo dos 8,98% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.

Desta forma, o contrato de DI para janeiro de 2017 subiu de 13,845% para 13,945%; o DI para janeiro de 2018 passou de 12,620% para 12,780%. O contrato de DI para janeiro de 2021 avançou de 11,920% para 11,970%.

"O que houve no mercado de juros futuros foi um ajuste pós-Copom, ampliado pelo IPCA-15 pior do que o esperado", avalia Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez. "O problema é que a inflação em 12 meses ainda está muito alta e longe do centro da meta, que é de 4,5%", afirma.

Diante desse quadro, analistas reforçaram as estimativas de corte da taxa básica de juros (Selic) somente a partir de outubro deste ano.

"O BC foi mais detalhista; traçou riscos domésticos que poderiam comprometer o seu cenário-base. Em suma, não mudou a nossa expectativa, e o ciclo de queda de Selic não deve começar antes do quarto trimestre", afirma a equipe de análise da Guide Investimentos, em relatório.

"Não descartamos a possibilidade de corte nos juros na reunião do Copom em 30 e 31 de agosto, dada a gama de novas informações que podem ser conhecidas até lá. Mas a probabilidade de tal ocorrência cai de modo importante com a divulgação do dado de hoje [quinta-feira] e a esperada influência negativa dos alimentos no IPCA de julho", escrevem os economistas José Francisco de Lima Gonçalves e Julia Araújo, do Banco Fator.

"Certamente ficará mais cômodo para o Copom iniciar a queda da taxa de juros a partir da dissipação da alta dos preços de alimentos. Na reunião de outubro, já serão conhecidos os IPCAs de julho a setembro, bem como será possível avaliar de modo mais objetivo o andamento dos ajustes necessários apontados no comunicado da decisão do Copom ontem [quarta-feira], acrescentam.

CÂMBIO

No mercado de câmbio, o dólar à vista fechou em alta de 0,75%, a R$ 3,2798, enquanto o dólar comercial ganhou 1,01%, a R$ 3,2830.

O BC leiloou pela manhã mais 10.000 contratos de swap cambial reverso, no montante de US$ 500 milhões. Com isso, a autoridade monetária reduziu seu estoque de swap cambial tradicional (equivalente à venda futura de dólares) para US$ 55,635 bilhões.

"O dólar subiu mais hoje por causa da queda do petróleo no mercado internacional e da frustração de investidores com a falta de estímulos monetários mais agressivos pelo banco central japonês", avalia Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor.

O CDS (credit default swap) brasileiro de cinco anos, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, ganhava 0,56%, aos 288,815 pontos, refletindo o avanço do dólar.

BOLSA

O Ibovespa fechou em leve alta de 0,11%, aos 56.641,49 pontos, sustentado pelos papéis da Vale e de siderúrgicas. O giro financeiro foi de R$ 6,6 bilhões.

As ações da Vale subiram 3,00%, a R$ 14,04 (PNA), e 5,39%, a R$ 17,40 (ON), seguindo a alta de mais de 2% do minério de ferro na China.

A mineradora divulgou nesta quarta-feira seu relatório de produção do segundo trimestre. A Vale produziu 86,8 milhões de toneladas de minério de ferro no período, queda de 2,8% na comparação anual. O dado ficou acima das projeções do mercado, que eram de 86 milhões de toneladas.

Entre as siderúrgicas, CSN ON subia 5,36%; Gerdau PN, +1,31%; e Usiminas PNA, +10,04%.

Os papéis da Petrobras ganharam 0,25%, a R$ 11,85 (PN), e 1,09%, a R$ 13,80 (PN), apesar da queda do preço do petróleo no mercado internacional.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN perdeu 1,33%; Bradesco PN, -0,75%; Banco do Brasil ON, -1,87%; Santander unit, -0,71%; e BM&FBovespa ON, estável.

EXTERIOR

As Bolsas globais operaram sem direção única nesta quinta-feira (21). Os investidores reagiram a resultados corporativos, à ausência de estímulos monetários pelos bancos centrais e à queda do petróleo.

Declarações do presidente do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, descartando medidas de estímulo mais agressivas no Japão contrariaram as expectativas de investidores.

O BCE (Banco Central Europeu) manteve inalteradas suas taxas de juros, conforme esperado. O presidente do BCE, Mario Draghi, afirmou ainda ser muito cedo para determinar o impacto total da decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia na economia do bloco. Ele ressaltou que a autoridade monetária lançará novos estímulos, se necessário.

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 fechou em queda de 0,36%; o Dow Jones recuou 0,42%; e o Nasdaq, -0,31%. Os índices reagiram a resultados corporativos relativos ao segundo trimestre.

As ações da Intel recuaram 3,98% depois de a empresa de tecnologia reportar crescimento mais lento em sua divisão de chips para servidores. As ações da Southwest Airlines perderam 11,21% por causa do balanço considerado decepcionante por analistas.

Na Europa, a Bolsa de Londres recuou 0,43%; Paris, -0,08%; Frankfurt, +0,14%; Madri, +0,09%; e Milão, +0,25%.

A Bolsa de Tóquio subiu 0,77% nesta quinta-feira, antes das declarações de Kuroda. As Bolsas chinesas também avançaram.

Preocupações em relação ao excesso de oferta mundial pesaram sobre os preços do petróleo. O petróleo Brent, negociado em Londres, perdia 2,33%, a US$ 46,07 o barril; o petróleo tipo WTI, negociado em Nova York, caía 0,85%, a US$ 44,56 o barril.


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