Folha de S. Paulo


Aversão global ao risco após 'Brexit' faz Bolsa cair 1,72% e dólar avançar

Os mercados globais continuaram reagindo negativamente à inesperada saída do Reino Unido da União Europeia, chamada de "Brexit". As Bolsas e o petróleo recuaram, e o dólar se valorizou frente à maior parte das moedas nesta segunda-feira (27).

O Ibovespa recuou 1,72%, pressionado principalmente pelas ações de bancos e da Petrobras. Segundo analistas, no mercado doméstico, a Bolsa tem sido a mais afetada pela aversão ao risco.

O dólar avançou ante o real, porém com menor intensidade na comparação com outras moedas. Uma das razões é a expectativa mais positiva de investidores em relação à recuperação da economia brasileira.

Outro fator é a percepção de que os juros americanos não aumentarão no curto prazo, o que favorece o fluxo de recursos para o Brasil.

Também por esse motivo, os juros futuros recuaram, mas o CDS (credit default swap), indicador de percepção de risco, subiu.

"A aversão ao risco por causa do 'Brexit' deverá persistir por mais algum tempo, mas o mercado brasileiro, como está menos exposto ao Reino Unido e tem perspectivas melhores, deverá ficar menos vulnerável em um segundo momento", avalia Ignacio Crespo Rey, economista da Guide Investimentos.

BOLSA

Depois de recuar mais de 2% durante o pregão, o principal índice da Bolsa paulista fechou em baixa de 1,72%, aos 49.245,53 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,3 bilhões.

As ações da Petrobras perderam 5,08%, a R$ 8,78 (PN), e 6,38%, a 5,51%, a R$ 10,80 (ON), reagindo também à queda dos preços do petróleo no mercado internacional.

As ações da Vale tiveram baixa de 1,72%, a R$ 11,99 (PNA), e 2,59%, a R$ 14,80 (ON), apesar da alta do minério de ferro na China.

O setor financeiro acompanhou a forte queda das ações de bancos na Europa. Itaú Unibanco PN caiu 3,35%; Bradesco PN, -3,94%; Bradesco ON, -2,62%; Banco do Brasil ON, -1,46%; Santander unit, -2,38%; e BM&FBovespa ON, -1,12%.

DÓLAR E JUROS

No mercado de câmbio, a moeda americana à vista, referência no mercado brasileiro, encerrou o pregão em alta de 0,68%, a R$ 3,4119.

O dólar comercial, usado em contratos de comércio exterior, avançou 0,44%, a R$ 3,3950.

Apesar do clima de incerteza global, os juros futuros recuaram. O contrato de DI para janeiro de 2017 passou de 13,690% para 13,650%; o contrato de DI para janeiro de 2021 caiu de 12,440% para 12,230%.

Para a equipe de análise da Lerosa Investimentos, para fazer frente a uma possível desaceleração global como consequência do 'Brexit', os bancos centrais deverão aumentar os estímulos monetários, e os juros americanos não deverão subir no curto prazo.

"Este cenário, do ponto de vista monetário, possivelmente beneficiaria o fluxo de capitais para o Brasil, propiciando a redução de juros", escreve a Lerosa.

Os investidores aguardam a divulgação do RTI (Relatório Trimestral de Inflação) nesta terça-feira (28), com participação do novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, para ter novas sinalizações sobre o rumo da política monetária.

Entretanto, as projeções de economistas para a taxa básica de juros subiu de 13% para 13,25% neste ano, conforme o Boletim Focus, do Banco Central, divulgado nesta manhã. As previsões de inflação para 2016 também subiram.

O CDS brasileiro, espécie de seguro contra calote e indicador de percepção de risco, subia 1,58%, aos 347,141 pontos.

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 terminou a segunda-feira em baixa de 1,81%; o Dow Jones, -1,50%, e o Nasdaq, -2,41%.

A Bolsa de Londres fechou em queda de 2,55%; Paris, -2,97%; Frankfurt, -3,02%; Madri, -1,83%; e Milão, -3,94%. O índice Stoxx 600 do setor bancário recuou 7,67%, depois de despencar 14,46% na sessão anterior.

Na Ásia, porém, a maior parte das Bolsas subiu, impulsionada por expectativas de novos estímulos dos BCs locais. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, ganhou 1,41%, enquanto o índice de Xangai teve alta de 1,44%. Em Tóquio, o índice Nikkei avançou 2,39%.

A libra liderou o ranking de desvalorizações ante o dólar, com -3,95%, atingindo o menor patamar em 31 anos; o euro caiu 1,15%.

Os bônus britânicos de dez anos perderam 13,93%, após tombarem 20,94% na sexta-feira (24).


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