Folha de S. Paulo


Brexit indica caminho acidentado pela frente para a economia britânica

Xinhua
(160624) -- LONDRES, junio 24, 2016 (Xinhua) -- Simpatizantes de la salida de Reino Unido de la Unión Europea (UE), festejan después del anuncio de los resultados a favor del
Simpatizantes à saída do Reino Unido da União Europeia festejam resultado do plebiscito

O pesadelo dos economistas virou realidade: o Reino Unido votou para sair da União Europeia. Os muitos avisos de economistas sobre os custos do Brexit ficaram no passado; o Reino Unido está embarcando agora exatamente no caminho que praticamente nenhum especialista respeitado recomendou.

A decisão tomada pela população levanta dúvidas importantes em relação à estabilidade financeira, gastos e empregos nos próximos 12 meses, além da difícil transição para um novo acordo de relacionamentos comerciais com nossos parceiros econômicos mais próximos e com o resto do mundo.

A queda imediata e vertiginosa da libra esterlina quando o voto pela saída da UE se delineou claramente assinala a turbulência que vem pela frente nos mercados financeiros. Ninguém deve subestimar as potenciais dificuldades, em vista da forte dependência britânica de crédito do exterior do financiar seus gastos.

Caberá ao presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, tão difamado pela campanha pela saída da UE, fazer o papel de salvador. Podemos esperar que ele dê uma declaração dizendo que o Banco fará tudo que está ao seu alcance para garantir que os bancos tenham dinheiro suficiente para funcionar e para manter as engrenagens financeiras funcionando nos próximos dias.

Podemos prever que empresas e consumidores deixem de fazer gastos grandes nas próximas semanas, enquanto esperam que se dissipe um pouco do nevoeiro causado pela turbulência do mercado e o novo status do Reino Unido no mundo. A demanda será mais fraca que o esperado, talvez significativamente menor, e, somada à queda forte da libra, resultará em preços mais altos, arrochando as rendas familiares ainda mais, graças ao aumento do preço dos produtos importados.

O Banco da Inglaterra não poderá fazer grande coisa para mitigar esse sofrimento. Um corte nas taxas de juros, que provavelmente será anunciado em agosto, em relação ao índice atual de 0,5%, será pequeno demais e levará tempo demais até ter qualquer efeito. O Reino Unido tem poucas defesas contra uma recessão; o país só pode torcer para que a população continue a gastar, mesmo assim.

A campanha vitoriosa do Brexit, que lutou sem traçar um plano para o lugar do Reino Unido no mundo depois de sair da UE, será a dona do resultado. Como George Osborne acha que a saída da UE é um ato "economicamente analfabeto", ele não terá credibilidade alguma se tentar conservar seu cargo.

A economia britânica será menos prejudicada se o Reino Unido conservar o maior número possível de laços com a União Europeia, de preferência continuando a fazer parte do bloco econômico. Mas, como a chamada opção "Noruega" requer a liberdade de movimento de pessoas e contribuições para o orçamento da UE, não é um resultado provável: isso iria contra toda a estratégia vencedora da campanha pela saída.

O novo ministro das Finanças terá que encontrar o "trade-off" mais aceitável entre seus instintos populistas e o preço em termos de crescimento perdido. Não se deve subestimar a dificuldade disso. Qualquer queda para abaixo de 0,6% no crescimento econômico deixará as finanças públicas em situação pior, mesmo depois da economia representada pelo não pagamento da taxa de membro da UE. O novo ministro das Finanças terá que explicar que o mundo é pior do que o que foi prometido.

Tudo isso terá que ser realizado contra o pano de fundo de uma ameaça existencial à integridade do Reino Unido, na medida em que a Escócia votou majoritariamente pela permanência na UE e que será impossível recusar os pedidos por um novo plebiscito escocês.

Embora o prometido "orçamento punitivo" não seja remotamente provável no curto prazo, é quase certo que os impostos terão que subir, em última análise, e os gastos públicos a diminuir, para pagar pela economia mais fraca trazida pelo Brexit.

Não existe almoço gratuito. Ninguém tem a obrigação de facilitar as coisas para o Reino Unido. O resto do mundo não olhará favoravelmente para o país se a decisão desestabilizar suas economias. Este é um momento perigoso para investir na economia britânica.


Tradução de Clara Allain


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