Folha de S. Paulo


Crise pesa, e número de inscrições do Brasil em Cannes cai 10%

A crise econômica e a desvalorização do real frente ao euro fizeram a participação do Brasil no Cannes Lions Festival Internacional de Criatividade cair 10%. A premiação mais tradicional e de maior visibilidade no meio publicitário começa neste sábado (18) e vai até sábado (25) na França.

As agências brasileiras foram responsáveis por 2.804 inscrições, 10% menos do que no ano anterior —e a menor participação desde 2011.

Mas o festival, que cobra de € 499 a € 1500 por inscrição, vai muito bem: no total, houve aumento de 7% em relação ao ano anterior, totalizando 43 mil. As inscrições representam cerca de 80% das receitas do festival, que no ano passado faturou US$ 61,5 milhões.

"A crise repercute em todas as área e atingiu em cheio o nosso mercado", diz o presidente da Publicis Brasil, Hugo Rodrigues, que neste ano é jurado na categoria Impresso (Print & Publishing) e não inscreveu nenhuma peça da sua agência. "Mas não é só Cannes. A baixa participação do Brasil tem sido percebida em todos os grandes festivais e feiras internacionais. Vivemos um problema econômico que impede até o desenvolvimento de nossos profissionais, pois frequentamos menos eventos que nos enriquecem profissionalmente."

Para aumentar as chances de conversões em prêmios, as agências costumam inscrever uma mesma peça em diferentes categorias e subcategorias. Há agências que chegam a gastar mais de R$ 600 mil para ampliar as chances de receber uma cobiçada estatueta em forma de leão. Soma-se a isso os custos com o envio de delegados, com inscrição, passagem, alimentação e hospedagem. E também da compra da própria estatueta em caso de vitória.

A Ogilvy & Mather Brasil, que em 2013 foi agência do ano em Cannes, reduziu as inscrições em 30% neste ano. "Fazemos a conta do dinheiro investido e a chance de conversão [em prêmio]. Mas não se pode banalizar o festival como evento puro e simples que premia a criatividade. Já não é isso faz tempo. É um lugar onde você recicla, entende o que está acontecendo e encontra a indústria", diz o presidente da Ogilvy Brasil, Luiz Fernando Musa.

Para ele, se o Brasil não levar tantas estatuetas neste ano terá menos a ver com crise do que com falta de ambição das agências nacionais. "Precisamos ambicionar campanhas de impacto global. Ser mais crítico e exigente e jogar a régua pra cima."

Copresidente da Leo Burnett, Marcelo Reis acredita que a crise não afeta a capacidade de criação e inovação do país. "As agências estão sendo mais conservadoras nos investimentos, não nas ideias. O prêmio é consequência do trabalho, não pode ser o objetivo final. Tecnicamente não precisa de prêmio pra viver."

Para Reis, que cortou em 20% as inscrições de sua agência em Cannes, as grandes campanhas hoje não precisam ser necessariamente caras. "Mais do que ser criativo com um filme genial, o que as agências e as marcas estão buscando hoje é engajar o consumidor", diz ele. "Criatividade é dar início a um movimento que engaje as pessoas em torno de uma causa, criando uma conexão do consumidor com a marca."

Jurado na categoria Relações Públicas (PR), Edson Giusti, da Giusti Comunicação Integrada, aposta no aumento das inscrições na sua categoria, que envolve ações mais baratas de comunicação do que a propaganda. "O meio digital abriu muitos caminhos para nós. As agências de RP não fazem mais só release, mas conteúdo para mídia digital", diz ele. Para Giusti, mesmo que de forma mais tímida, as agências brasileiras não podem abrir mão de uma presença na Riviera Francesa. "Cannes se tornou um grande congresso de comunicação, um lugar onde você encontra os anunciantes, as grandes marcas."

MARCELLO SERPA

Apesar da presença reduzida neste ano, o festival presta uma grande homenagem a um publicitário brasileiro pelo "conjunto da obra." Marcello Serpa, ex-sócio da AlmapdBBDO e vencedor de inúmeros prêmios no festival, vai receber o Lion of St Mark 2016. A premiação foi lançada em 2011 e Serpa é o primeiro publicitário brasileiro a ser agraciado. Antes dele, foram homenageados com o St Mark os publicitários Bob Greenberg, Joe Pytka, Lee Clow, Dan Wieden e John Hegarty.

2015

Na última edição, o Brasil, apesar da queda de 9% no número de inscrições, voltou para casa com 108 estatuetas, uma a mais do que em 2014.

Foram 18 Leões de Ouro, 34 de Prata e 55 de Bronze, além de um Gran Prix em Filme.

YOUTUBE

O Youtube divulgou uma lista das campanhas publicitárias de maior audiência na plataforma nos últimos meses..


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