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Limitar gasto público exigirá medidas complementares, diz Meirelles

Alan Marques/Folhapress
Ministro Henrique Meirelles (Fazenda) concede entrevista para falar sobre projeto de teto para gastos públicos, nesta quarta, no Planalto
Ministro Henrique Meirelles (Fazenda) fala sobre projeto de teto para gastos públicos, no Planalto

O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) afirmou que o governo terá de tomar medidas adicionais para conter o aumento do gasto público que vão além da proposta apresentada nesta quarta-feira (15) para limitar as despesas totais à correção da inflação.

O presidente interino, Michel Temer, entregou aos líderes de partidos aliados no Congresso a proposta de emenda constitucional que limita os gastos federais à variação da inflação por até 20 anos (entenda o que é o teto fiscal). A partir do décimo ano, no entanto, a regra de correção das despesas totais pela inflação poderá ser revista.

Meirelles afirmou que nos próximos meses o governo vai apresentar uma proposta de reforma da Previdência. Disse ainda que estão em avaliação outros benefícios, como o abono salarial.

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"Decidimos neste momento tomar as medidas mais importantes. Estamos propondo aquilo que são as medidas mais duras, o teto e a mudança nos índices de correção de saúde e educação. Se aprovadas, abrem espaço para medidas complementares", afirmou. "O importante é ter o teto. O resto é consequência do teto."

O ministro afirmou que a reforma da Previdência é importante para evitar que esse item ganhe cada vez mais participação no gasto total e force a redução de outras despesas. Ao falar sobre o tema, Meirelles citou indiretamente a questão da indexação do piso previdenciário ao salário mínimo.

"Estamos discutindo como evitar que se crie desequilíbrios futuros no orçamento, com crescimento maior de uma despesa em relação a outras por estarem indexadas a outro tipo de indexador", afirmou Meirelles.

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EDUCAÇÃO E SAÚDE

Sobre as afirmações do presidente interino Michel Temer de que não haveria perda de recursos para a saúde e a educação, Meirelles afirmou que esse é exatamente o objetivo da proposta apresentada hoje.

"Pode ter havido um mal entendido. Em nenhum momento parece que ele [Temer] tenha discordado da ideia de que a inflação é o índice que deve corrigir [essas despesas]. O que houve foi a declaração de que se preserva os montantes. Se preserva em termos reais. Não quer dizer que preserva o índice ao qual está hoje indexado", afirmou o ministro.

Pela nova proposta, o teto dos gastos federais será corrigido pela inflação do ano anterior a partir de 2017. Os valores mínimos dos gastos com saúde e educação também seguem essa regra e deixam de ter como referência um percentual da receita, como determina hoje a Constituição.

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Meirelles disse ainda que a nova regra vale por nove anos. A partir do décimo, o presidente da República terá a opção de enviar ao Congresso um projeto de lei propondo a criação de uma nova metodologia para o ano seguinte. Essa alteração vigoraria por mais 11 anos.

O ministro disse que o governo optou por um prazo que acredita ser suficientemente longo para que a dívida pública volte a ficar sob controle.

Disse ainda esperar uma aprovação não muito demorada da proposta, mas que poderá enviar antes ao Congresso outras medidas complementares.

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GOVERNO LIMITA GASTOS

Proposta:
A partir de 2017, o aumento do valor total das despesas da União fica limitados à correção da inflação (IPCA) do ano anterior. A medida vale até 2025, por nove anos, quando poderá ser revista ou mantida até 2036, mais 11 anos. Desde 2008, o gasto total subiu 50% além da inflação.

Haverá um limite para cada um dos Poderes: Executivo, Legislativo (incluindo o TCU) e Judiciário e também para o Ministério Público da União e para a Defensoria Pública da União.

Tramitação:
O governo entregou ao Congresso uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional), que precisa ser aprovada por três quintos da Câmara e do Senado, em duas votações em cada Casa.

Saúde e educação:
Os valores mínimos dos gastos com saúde e educação da União passarão a ser corrigidos pela variação da inflação do ano anterior e não mais por um percentual da receita. O Congresso pode destinar mais recursos para essas áreas, mas terá de cortar outras despesas.
 
Exceções:
Ficam fora do alcance da PEC as transferências constitucionais a Estados, municípios e Distrito Federal e os créditos extraordinários, além das complementações ao Fundeb, as despesas da Justiça Eleitoral com as eleições e despesas de capitalização de estatais não dependentes.
 
Descumprimento:
O Poder que gastar mais que o limite fica, no ano seguinte, proibido de:
- conceder reajuste ou qualquer benefícios extra aos seus servidores, exceto em caso de sentença judicial ou lei aprovada antes da publicação da PEC
- criar cargos, reestruturar carreiras e realizar concursos
- o Executivo terá ainda a punição adicional de congelar a despesa com subsídios e fica proibido de conceder ou ampliar incentivos ou benefícios tributários

Fonte: Ministério da Fazenda.


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