Folha de S. Paulo


Temor de saída do Reino Unido da UE faz Bolsa cair mais de 2%

Daniel Sorabji/AFP
Capa do jornal britânico
Capa do jornal britânico "The Sun" desta terça (14) defendendo a saída do Reino Unido da União Europeia; manchete brinca com as palavras "beleave" (acreditar) e "leave" (sair)

A possibilidade de saída do Reino Unido da União Europeia, chamada de "brexit", manteve o mau humor global nesta terça-feira (14). Bolsas e commodities caíram, e o dólar avançou frente à maior parte das moedas.

O Ibovespa perdeu 2,04%, e o dólar à vista subiu para R$ 3,49. O dólar comercial, porém, fechou em leve baixa. Os juros futuros e o CDS (credit default swap), indicador de percepção de risco do país, fecham em alta.

Novas pesquisas mostram que a maioria dos britânicos tende a votar favoravelmente à saída do Reino Unido da União Europeia, no referendo do próximo dia 23. "Enquanto essa questão do referendo não se definir, ficará uma espada sobre a cabeça do mercado", comenta o economista Alfredo Barbutti, da corretora BGC Liquidez.

"Se ocorrer mesmo, o 'brexit' será bem ruim para os mercados. A economia europeia vai se ressentir muito, o que vai dificultar a recuperação global", avalia Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos.

A aversão global ao risco aumentou de tal forma que os yields (rentabilidade) dos títulos alemães de 10 anos chegaram a ficar abaixo de zero pela primeira vez, e a libra caiu ante o dólar para o nível mais baixo desde abril.

O clima de cautela também foi ampliado com as expectativas em relação ao resultado das reuniões de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), nesta quarta-feira (15) e do BoJ (banco central japonês), na quinta-feira (16).

BOLSA

O principal índice da Bolsa paulista chegou a subir pela manhã, mas inverteu o sinal e fechou em baixa de 2,04%, aos 48.648,29 pontos. O giro financeiro foi de R$ 6,1 bilhões.

Segundo operadores, além do cenário externo negativo, o vencimento de opções sobre o índice, nesta quarta-feira (15), acrescentou volatilidade aos negócios.

Nos pregões que antecedem o vencimento de opções, investidores que apostam na alta ("comprados") ou na queda ("vendidos") do índice "brigam" para prevalecerem suas posições.

As ações da Petrobras recuaram 3,71%, a R$ 8,30 (PN) e 3,14%, a R$ 10,48 (ON). Os papéis da Vale tiveram queda de 2,47%, a R 11,81 (PNA) e 3,75%, a R$ 14,63 (ON).

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN caiu 1,44%; Bradesco PN, -1,96%; Banco do Brasil ON, -2,77%; Santander unit, -4,06% e BM&FBovespa ON, -0,50%.

CÂMBIO E JUROS

A moeda americana à vista fechou em alta de 0,88%, a R$ 3,4914. Segundo operadores, o movimento da moeda segue o cenário internacional. Além disso, persistem dúvidas quanto aos próximos passos do Banco Central para reduzir sua exposição cambial.

O novo presidente do BC, Ilan Goldfajn, reafimou nesta segunda-feira (13) que o câmbio é flutuante, mas que o BC "poderá reduzir sua exposição cambial em determinado instrumento em ritmo compatível com o normal funcionamento do mercado, quando e se estiverem presentes as adequadas condições".

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Para analistas, Ilan deixou espaço para a volta dos leilões de swap cambial reverso, equivalente à compra futura de dólares pela autoridade monetária. "Mas acredito que o BC não será tão intervencionista e essas operações vão acontecer a conta-gotas", afirma Alexandre Espírito Santo, da Órama.

"Avalio que a nova diretoria do BC vai trabalhar para manter a previsibilidade e estabilidade para os diversos ativos, inclusive o câmbio", diz Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest. "Pode haver alguma intervenção no câmbio em um cenário de estresse muito elevado, mas isso não é possível prever", acrescenta.

O dólar comercial, no entanto, terminou em queda de 0,20%, a R$ 3,4800. Segundo operadores, a moeda americana "devolveu" uma parte da forte alta da véspera.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 subiu de 13,705% para 13,740%, enquanto o DI para janeiro de 2021 avançou de 12,590% para 12,630%.

O CDS brasileiro, espécie de seguro contra calote, avançava 1,57%, para 359,054 pontos.

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 fechou em queda de 0,18%; o Dow Jones, -0,33% e o Nasdaq, -0,10%.

Na Europa, a Bolsa de Londres caiu 2,01%; Paris, -2,29%; Frankfurt, -1,43%; Madri, -2,13%; e Milão, -2,11%.

Na Ásia, O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, teve alta de 0,31%; em Tóquio, o índice Nikkei recuou 1%.


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