Folha de S. Paulo


Capacidade de expansão do PIB brasileiro recuou para 1%

A severa contração dos investimentos nos últimos anos reduziu a capacidade de crescimento sustentável do Brasil para módicos 1%.

Essa medida é chamada por especialistas de PIB (Produto Interno Bruto) potencial e indica o ritmo no qual um país consegue se expandir sem gerar inflação por pressões de demanda superiores aos limites da oferta.

Para elevar essa capacidade de crescimento para 4%, a taxa de investimento brasileira deveria subir do baixo patamar de 16,9% do PIB para cerca de 28% do PIB.

PIB - Formação Bruta de Capital Fixo - Variação no tri x tri anterior, em %

Essas conclusões são de um relatório do banco Credit Suisse que analisou o comportamento das economias de mais de uma centena de países. Segundo a instituição, nações que conseguem um aumento sustentado de mais de 6 pontos percentuais de sua taxa de investimento elevam seu crescimento em dois pontos percentuais.

O Brasil vai na direção contrária. Os investimentos entraram em queda há dez trimestres. Somado à derrocada mais recente do consumo das famílias, esse movimento gerou a recessão atual.

BURACO INTERNO

Segundo cálculos do economista Fernando Montero, da corretora Tullet Prebon, a demanda interna subtraiu 10,2 pontos percentuais da economia no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2015.

Trata-se da pior contribuição do conjunto dos componentes da demanda doméstica –consumo das famílias, gastos do governo, investimentos e variação dos estoques– para o desempenho do PIB desde o segundo trimestre de 2010.

Esse resultado foi contrabalançado pelo setor externo que, com a expansão das exportações e recuo das importações, adicionou 4,8 pontos ao PIB. Sem isso, a recessão teria sido mais intensa.

REFORMAS NÃO BASTAM

Segundo economistas, as reformas propostas até agora pelo governo interino de Michel Temer, se implementadas, terão um impacto positivo sobre o investimento ao melhorar a situação das contas públicas.

O relatório do Credit Suisse ressalta que a deterioração fiscal dos últimos anos influenciou a queda do investimentos ao aumentar a incerteza sobre a capacidade de solvência do governo, contribuindo para a depreciação cambial e seus efeitos colaterais. Um deles, por exemplo, foi o aumento da dívida externa do setor privado.

Mas economistas têm enfatizado que, embora importantes, essas medidas sozinhas não serão suficientes para elevar significativamente a taxa de investimentos e, portanto, o potencial de crescimento da economia.

Outros passos necessários seriam medidas para tornar o ambiente de negócios menos burocrático e para reduzir a carga tributária. A capacidade de gestão de investimentos pelo setor público seria outra frente importante.

Em relatório recente, o Banco Mundial elogiou políticas sociais que, como o Bolsa Família, têm objetivo claro, projeto baseado em evidências e avaliação constante. Mas afirmou que "há indícios" de que o PAC, por exemplo, tenha falhado nos dois últimos objetivos.


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