Folha de S. Paulo


Comissão adia sabatina de Goldfajn e inviabiliza sua participação no Copom

Gabo Morales - 15.mar.2012/Folhapress
Economista Ilan Goldfajn é o novo presidente do Banco Central
Economista Ilan Goldfajn é o novo presidente do Banco Central

Senadores da oposição ao presidente interino Michel Temer conseguiram impor uma derrota ao peemedebista nesta terça-feira (31) ao adiar a sabatina do economista Ilan Goldfajn, indicado para presidir o Banco Central no novo governo. Ela acabou sendo marcada para a próxima terça-feira (7), às 10h. Senadores da base aliada prometem recorrer da decisão.

Havia a expectativa de que a arguição pudesse acontecer nesta quarta (1º) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos do Senado), o que viabilizaria a posse de Goldfajn no cargo antes da realização da primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) —responsável por definir a taxa básica de juros (Selic), em junho. Ela ocorrerá na próxima terça (7) e quarta-feira (8) e, com a decisão da CAE, terá a participação do atual presidente do BC, Alexandre Tombini.

Para que a sabatina acontecesse ainda nesta semana, era preciso que todos os senadores do colegiado concordassem com a supressão de um prazo de cinco dias úteis concedido entre a apresentação do relatório e a sabatina em si.

O parecer favorável à indicação foi apresentado nesta terça pelo relator do caso na comissão, senador Raimundo Lira (PMDB-PB). Os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) se posicionaram contra à realização da sabatina nesta semana sob o argumento de que o regimento precisa ser respeitado.

Senadores da base aliada chegaram a pedir que a presidente da comissão, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), colocasse o assunto em questão, mas ela também afirmou, com base no regimento, que não poderia fazer isso e indicou que os parlamentares podem recorrer da decisão no plenário do Senado.

"Estamos amparados pelo regimento. Na próxima terça vamos fazer uma bela sabatina. A maioria não pode passar por cima da comissão", disse Lindbergh Farias (PT-RJ) durante a discussão.

"Dizem que não querem atrapalhar. Imagina se quisessem. De agora em diante, sempre que se quiser quebrar interstício, vai haver essa questão de não aceitar. Espero que o país esteja vendo o que está acontecendo", protestou o senador Waldemir Moka (PMDB-MS).

Lira havia pedido a realização da sabatina nesta quarta, e Gleisi declarou nos últimos dias que acataria o pedido, mas que a decisão final seria da comissão.

De acordo com o senador, o pedido de antecipação foi peito por ele não por motivos pessoais, mas porque assessores de Tombini o comunicaram que ele não se sentia confortável para presidir a reunião do Copom na próxima semana.

Durante a discussão, os senadores do PT e do PCdoB também criticaram o fato de Goldfajn ser sócio do Itaú Unibanco. Para eles, a legislação do país é omissa ao não exigir uma quarentena de entrada para cargos públicos. A lei exige apenas que funcionários e autoridades que tenham informações privilegiadas não podem assumir funções privadas antes de cumprir uma quarentena.

Lira então afirmou aos parlamentares que obteve a informação de que o economista havia vendido nesta terça todas as suas ações junto ao banco para encerrar sua sociedade e poder assumir o cargo no Banco Central.

RECURSO

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) informou que irá recorrer da decisão da CAE à Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Para ele, o prazo deveria ter começado a contar desde a última sexta-feira (27), quando Lira publicou seu relatório.

Ele argumenta que a sabatina pode acontecer na próxima quinta (2), o que respeitaria o prazo de cinco dias entre a publicação e a arguição do indicado. A CCJ se reúne nesta quarta (1º) e pode já analisar o recurso.

BIOGRAFIA

Aos 50 anos, Goldfajn foi escolhido pelo presidente interino Michel Temer para comandar o Banco Central em sua gestão.

À frente da pesquisa econômica do Itaú até então, Goldfajn volta ao BC pela segunda vez. Entre 2000 e 2003 comandou a poderosa diretoria de política econômica do banco. Primeiro com Armínio Fraga como chefe, depois com Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda e com quem conviveu por sete meses no período de transição do governo FHC para Lula.

Sua especialidade é política monetária, mas os economistas que o conhecem dizem que seus conhecimentos contemplam também a política fiscal, calcanhar de Aquiles da economia neste momento.


Endereço da página:

Links no texto: