Folha de S. Paulo


EUA revisam para cima e PIB cresce 0,8% no primeiro trimestre do ano

Susan Walsh/Associated Press
Economia americana cresceu mais do que o estimado anteriormente no primeiro trimestre
Economia americana cresceu mais do que o estimado anteriormente no primeiro trimestre

A economia dos Estados Unidos cresceu em ritmo anualizado de 0,8% no primeiro trimestre de 2016, um pouco acima do que o ritmo calculado originalmente mas ainda abaixo do que muitos especialistas - para não mencionar os trabalhadores - gostariam de ver, no oitavo ano de recuperação.

A nova estimativa divulgada pelo Departamento do Comércio na sexta-feira ecoa outros indicadores de que o crescimento deve continuar a melhorar, com um setor imobiliário saudável e o consumo firme liderando o avanço.

No entanto, outras áreas da economia, especialmente a indústria e o ramo petroleiro, continuam a enfrentar dificuldades, o que expõe as contradições que as autoridades econômicas e os políticos têm a enfrentar.

A iniciativa inicial do governo sobre a atividade econômica do primeiro trimestre, divulgada no final de abril, mostrava crescimento anualizado de 0,5%, mas dados atualizados sobre o consumo pessoal e o investimento em habitação conduziram à revisão para mais anunciada na sexta-feira.

"Isso confirma que o ano começou devagar mas não tão ruim quando imaginávamos", disse Ethan Harris, diretor de economia mundial no Bank of America Merrill Lynch, na sexta-feira. "O investimento empresarial foi muito fraco, e o único aspecto positivo das notícias foi a alta na construção de moradias. Ainda estamos em estágio de recuperação no mercado imobiliário, especialmente nas edificações para habitação de múltiplas famílias".

PIB dos EUA - Variação trimestral

A terceira e última estimativa quanto ao crescimento do período será divulgada em 28 de junho.

Para o segundo trimestre, a maioria dos especialistas prevê que o ritmo anualizado de crescimento voltará aos 2,5%.

O relatório da sexta-feira sugere que a trajetória econômica de 2016 seguirá um desenho que intriga os especialistas há anos: um primeiro trimestre fraco seguido por súbita recuperação, ainda que as condições subjacentes continuem a ser as mesmas ao longo do período.

"Existe mais ímpeto agora, mas ainda há confusões de interpretação", disse Diane Swonk, economista independente radicada em Chicago, antes da divulgação dos dados.

Em 11 dos últimos 15 anos, um período trimestre tépido se viu sucedido por uma súbita retomada da expansão econômica mais vigorosa no período seguinte, tendência que Swonk diz não poder ser explicada por "vórtices polares e outros fatores extraordinários".

O padrão existe provavelmente por conta de alguns dos desvios sazonais nos dados que os analistas do governo ainda não foram capazes de determinar, mas Swonk afirma que as sucessivas instâncias de recuperação mais forte podem criar "uma falsa sensação de segurança", obscurecendo a falta de ganhos econômicos reais para muitos norte-americanos, ao longo do tempo.

Ainda que revisões e idiossincrasias estatísticas não sejam novidade para os economistas, Swonk explicou que elas parecem muito maiores hoje em dia porque o nível geral de crescimento econômico é baixo, como ponto de partida. "Você percebe esse tipo de coisa muito mais quando está patinando perto do gelo fino", ela disse.

Determinar se o gelo é realmente fino gerou debate considerável dentro do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e em Wall Street. Os dirigentes do banco central estão considerando a possibilidade de nova alta dos juros, na reunião do comitê de política monetária da instituição em junho.

Até recentemente, a maioria dos especialistas não acreditava que o Fed fosse mexer na política monetária até setembro, ou ainda mais tarde. Mas o relatório oficial sobre a mais recente reunião do comitê de política monetária da instituição, divulgado em 18 de maio, mostrou que os integrantes do conselho estavam dispostos a apertar a política monetária em junho, se sentissem que a economia estava ganhando força.

Ian Shepherdson, economista chefe da Pantheon Macroeconomics, disse que os indicadores positivos recentes, como os números do varejo e os preços firmes das casas em abril, haviam fortalecido a posição da ala dura do Fed, ainda que esta possa decidir esperar porque os mercados continuam ansiosos, por conta do referendo sobre a possível saída britânica da União Europeia, em 23 de junho.

Com a votação sobre a saída britânica se aproximando, uma possibilidade seria que o Fed optasse por não agir em junho mas telegrafasse sua intenção de fazê-lo no mês seguinte, disse Shepherdson.

A semana que vem oferecerá mais clareza sobre o rumo do banco central e o verdadeiro ímpeto da economia. Na terça-feira, o Departamento do Comércio divulgará seu relatório sobre a renda e consumo dos consumidores em abril, e a sexta-feira verá o relatório do Departamento do Trabalho sobre o desemprego e as contratações em maio, um indicador importante para o Fed.

"Estamos mantendo nossa hipótese de um aumento em setembro", afirmou Shepherdson em nota aos clientes de sua empresa, na quinta-feira, "mas aceitamos plenamente que junho e julho também são possibilidades".

Ocultos entre os detalhes do relatório sobre o Produto Interno Bruto (PIB) estavam sinais de que a inflação estava retornando a níveis mais normais, depois de anos de dormência, disse Harris. Ele afirmou que o indicador central de preços ao consumidor, especialmente, havia subido em 2,1% no primeiro trimestre, pouco acima da meta de 2% do Fed.

"Isso aproxima o Fed de aumentar os juros, ainda que não se possa afirmar que isso acontecerá em junho", disse Harris. "Eles querem ver provas firmes de que o segundo trimestre está sendo mais forte que o primeiro".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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