Folha de S. Paulo


Traduzindo o economês: o que é a meta fiscal

Evaristo Sá/AFP
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em coletiva de imprensa em Brasília; o ministro precisou usar dois microfones por causa de falhas no sistema de som
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em coletiva de imprensa em Brasília; o ministro precisou usar dois microfones por causa de falhas no sistema de som

Em uma longa e conturbada sessão, o Congresso aprovou na madrugada desta quarta-feira (25), em votação simbólica, a revisão da meta fiscal.

Entenda o que é essa meta, como ela afeta a sua vida e por que a votação movimentou tanto os políticos.

O QUE É A META?

É uma estimativa, feita pelo governo, de qual será a diferença entre o que ele vai arrecadar —com tributos, por exemplo– e gastar –com obras, educação, saúde, salários do funcionalismo etc.

A META PODE SER NEGATIVA?

Em geral, em países emergentes como o Brasil, a meta é positiva, ou seja, o governo promete gastar menos do que arrecada, para que sobre dinheiro e, com isso, ele consiga evitar que sua dívida cresça.

Se a dívida do governo está sob controle, os investidores e instituições dispostas a emprestar dinheiro aceitam financiar o governo com juros mais baixos.

Nesta quarta, no entanto, o Congresso aprovou uma meta negativa, ou seja, deu licença ao governo para gastar R$ 170,5 bilhões acima do que vai arrecadar neste ano.

POR QUE A META ATUAL É NEGATIVA?

Porque estima-se que o governo gastará mais do que vai arrecadar. Há três principais fatores para isso:

a) com a crise econômica, a arrecadação de tributos está caindo. No primeiro quadrimestre deste ano, a queda foi de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

b) regras constitucionais fazem com que os gastos públicos cresçam acima da inflação em áreas como saúde, educação e previdência.

c) a baixa eficiência do gasto público no país faz com que os governos gastem mais do que precisariam para oferecer um serviço insuficiente

No vermelho - Deficit nas contas do governo vem aumentando desde 2014; em R$ bilhões

COMO O GOVERNO VAI CONTER O ROMBO?

A equipe econômica anunciou medidas, ainda não totalmente detalhadas, para reduzir gastos e elevar receitas.

POR QUE O GOVERNO COMEMOROU A APROVAÇÃO DO DEFICIT?

Fundos, bancos e empresários estãoadiando decisões de investimento porque têm dúvidas sobre a capacidade do governo de aprovar as medidas para conter o rombo nas contas públicas.

Se o governo não conseguir segurar esse rombo e o consequente aumento da dívida pública, os juros continuarão subindo e a crise se agravará.

A votação da madrugada desta quarta foi considerada um primeiro teste da capacidade do governo de articular politicamente o apoio dos congressistas —e, por isso, foi comemorada pelo presidente interino, Michel Temer.

E EU COM ISSO?

O desequilíbrio das contas públicas afeta o cidadão comum de várias formas.

Algumas delas:

a) eleva os juros para quem quer pegar empréstimo ou comprar em prestações
b) dificulta investimentos das empresas, o que pode reduzir a oferta de emprego
c) reduz a oferta e a qualidade do serviço público


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