Folha de S. Paulo


Monsanto rejeita oferta da Bayer, mas deixa as portas abertas

Jeff Roberson/Associated Press
FILE - In this Tuesday, June 28, 2011, file photo, bottles of Roundup herbicide, a product of Monsanto, are displayed on a store shelf in St. Louis. German drug and chemicals company Bayer AG announced Monday, May 23, 2016, that it has made a $62 billion offer to buy U.S.-based crops and seeds specialist Monsanto. A merger between Bayer and Monsanto would put together two giant makers of chemicals, one that focuses on people and animals, and another that focuses on plants. (AP Photo/Jeff Roberson, File) ORG XMIT: NYBZ103
Embalagens do agrotóxico Roundup, da Monsanto

A Monsanto está aberta a discussões sobre um acordo com a alemã Bayer, anunciou a gigante norte-americana das sementes pela primeira vez na terça-feira, ainda que tenha rejeitado a oferta recorde de US$ 62 bilhões apresentada pelo conglomerado alemão cujos produtos vão da aspirina a substâncias de combate a ervas daninhas, definindo-a como "incompleta e financeiramente inadequada".

Hugh Grant, presidente-executivo e do conselho da Monsanto, afirmou em comunicado que a empresa norte-americana acreditava em "benefícios substanciais" com a criação de um grupo que abarcaria das sementes a produtos químicos de uso agrícola.

A rejeição causada pelo valor da oferta e a disposição da Monsanto em negociar com a Bayer são a mais forte indicação até o momento de que a companhia norte-americana está disposta a aceitar um acordo, nos termos que considere certos. Isso representa uma virada significativa em seu raciocínio: até março, ela parecia completamente oposta a aceitar uma tomada de controle pelo grupo alemão.

Grant argumentou, porém, que a proposta de US$ 122 por ação da Bayer "subvaloriza significativamente a nossa empresa" e não tratava adequadamente de "alguns dos potenciais riscos financeiros e regulatórios relacionados à aquisição".

NEGÓCIO DA CHINA - Proposta da Bayer pela Monsanto pode se tornar maior do mundo

As ações da Monsanto não foram muito afetadas pelo comunicado, e estavam sendo negociadas a US$ 108,60, com alta de 2,3%, na metade do pregão em Nova York. Os investidores continuam a ver substanciais obstáculos a um acordo e sua aprovação pelas autoridades regulatórias, e Grant disse que a Bayer ainda não havia tratado de forma abrangente "os potenciais riscos de financiamento e execução regulatória".

A Bayer agora estará sob pressão para melhorar sua oferta, uma atitude que pode antagonizar ainda mais os seus acionistas, preocupados com a possibilidade de que a tomada de controle da Monsanto sobrecarregue o balanço da empresa.

Ao explicar sua decisão de tentar a aquisição da Monsanto, a Bayer declarou que corria o risco de ficar de fora da onda final de consolidação no setor mundial de agroquímicos, caso a transação não seja concluída.

"As empresas que restam precisam decidir agora o que desejam ser nesse setor... porque [a consolidação] está indo adiante com sua própria dinâmica", disse Werner Baumann, o novo presidente-executivo da Bayer, durante uma visita a Londres. Ele afirmou que o negócio de fornecer sementes e produtos químicos de uso agrícola aos produtores rurais já estava sob o controle de seis grandes empresas que controlam quase dois terços do mercado. A consolidação, ele afirmou, resultaria em empresas ainda maiores e mais poderosas.

A visita dele a Londres era parte de uma manobra de relações públicas promovida pela Bayer a fim de conquistar o apoio dos acionistas, em busca de uma transação que agora deve atingir custo superior a US$ 62 bilhões, incluídas as dívidas da Monsanto. O preços das ações da companhia alemã caiu em mais de 10% desde a semana passada, porque os investidores rejeitam o potencial custo da transação.

Enquanto a Monsanto pressiona por uma oferta mais alta, Baumann disse vir mantendo "diálogo constante" com Grant desde que enviou uma carta com uma oferta formal de aquisição à Monsanto, em 10 de maio.

Baumann se reuniu com Grant e Brett Begemann, o presidente da Monsanto, em St. Louis, na metade de abril. Ele disse que os dois quadros executivos estavam "completamente alinhados" em como enfrentar as mudanças no setor. Baumann disse que: "o processo vem sendo muito aberto, e conversamos com facilidade ao telefone... Só posso falar por mim, mas seria perceptível se houvesse tensão".

O setor de agronegócio vem sendo varrido por uma onda de aquisições desde que a Monsanto, líder no segmento de sementes geneticamente modificadas, fracassou em seu esforço de adquirir a Syngenta, rival suíça no ramo dos agroquímicos. A tentativa de aquisição frustrada deflagrou uma reação em cadeia - a ChemChina anunciou a aquisição da Syngenta por US$ 43 bilhões, e a Dow Chemical e Dupont fecharam acordo para uma megafusão de US$ 130 bilhões.

A Bayer enfrentou críticas agudas de alguns investidores por sua tentativa de tomar o controle da Monsanto, causadas pelo volume de dívidas que ela terá de acumular para financiar a transação. Um investidor londrino disse que "o encaixe estratégico é convincente, mas quando o assunto é a alocação de capital, acho que os gestores perderam a cabeça".

O investidor disse não ver pressa. "Os resultados mais recentes da Monsanto dificilmente podem ser considerados espetaculares. Haverá muito tempo para que a arrogância corporativa [das transações da Syngenta, Dupont e Dow] se acalme".

Ele disse que na área de produtos de saúde ao consumidor, a Bayer ainda estava digerindo algumas das aquisições que realizou nos últimos anos. No ramo farmacêutico, ele disse que o fim da validade das patentes sobre os dois principais medicamentos da companhia ainda estava a alguns anos de distância.

Baumann disse que muitos dos acionistas viam a lógica estratégica da transação, mas reconheceu que alguns deles haviam demonstrado oposição. Alguns acionistas cujo foco são os produtos de saúde disseram à empresa que não tinham interesse em investir em um negócio cíclico como a agricultura, ele acrescentou.

"O que é importante é que nossa área farmacêutica... tenha acesso a despesas operacionais, verbas suficientes de pesquisa e desenvolvimento e verbas suficientes de marketing e desenvolvimento para se manter no negócio", ele disse.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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