Folha de S. Paulo


Bolsa fica quase estável com dúvidas sobre apoio a medidas; ação do BB cai mais de 5%

O mercado financeiro iniciou a terça-feira (24) bem-humorado, aguardando as primeiras medidas econômicas do governo do presidente interino Michel Temer. No entanto, após uma sessão volátil, o dólar comercial fechou com pequena baixa e o Ibovespa em leve alta, com destaque para a queda de mais de 5% das ações do Banco do Brasil, diante da intenção do governo de vender os papéis do banco público no fundo soberano.

O mercado aguardava a votação da nova meta fiscal no Congresso nesta terça-feira para ter uma ideia da força política do governo Temer.

Analistas avaliam que as medidas anunciadas para controlar o deficit do governo são positivas, mas precisam ser mais detalhadas. Além disso, dúvidas em relação ao sucesso das propostas, principalmente se haverá apoio suficiente para aprová-las no Congresso, tiraram o ímpeto dos investidores, que optaram pela cautela.

Contribuiu para reduzir os negócios no mercado doméstico o fortalecimento da moeda americana no exterior. As vendas de casa novas nos EUA em abril, que cresceram acima das expectativas, para o maior nível em mais de oito anos, reforçaram as apostas de uma alta dos juros americanos em breve.

REPERCUSSÃO

"As medidas anunciadas pelo governo para cortar gastos e organizar as contas públicas estão na direção correta, mas a questão é como elas serão colocadas em prática e como será a tramitação no Congresso, se será fácil ou não", afirma Alvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais. "Por isso, o mercado olhou o anúncio com reservas, esperando os próximos passos do governo."

Segundo Bandeira, é preciso que o governo especifique melhor as medidas, que por enquanto são uma declaração de intenções. Um exemplo é a proposta de emenda constitucional para criar um teto para o crescimento dos gastos do governo. O objetivo é limitar o crescimento da despesa primária, fixando como teto a inflação do ano anterior.

"Tem que ver como isso será feito. Limitar despesas ao crescimento real zero é estruturalmente mais correto, porém com o risco de nova indexação", diz Bandeira. "Haverá corte de despesas para respeitar o teto, incluindo aí saúde e educação, mas existem limitações para isso."

"Qualquer anúncio de contenção de gastos do governo é positivo, mas o mercado aguarda medidas concretas e efetivas, por isso reagiu com cautela", avalia Roberto Indech, analista da corretora Rico.

Raphael Figueiredo, analista da Clear Corretora, comenta que outro ponto que não ficou bem esclarecido é a antecipação do pagamento de parte da dívida do BNDES com o Tesouro. "Tem que ver se isso é permitido, pois, a princípio, pode parecer uma 'pedalada'", afirma o analista, em referência aos empréstimos tomados de bancos públicos que basearam o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Outra questão que precisa ser melhor detalhada, dizem os analistas, é a do fundo soberano. Temer quer extinguir o fundo, com patrimônio de R$ 2 bilhões, para cobrir o endividamento público. A proposta incluiria a venda de papéis do Banco do Brasil no fundo, que somam 105 milhões de ações.

Segundo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a venda de ações do BB vai ser cuidadosamente avaliada para não criar movimentos artificiais ou bruscos nos preços dos papéis.

Mesmo assim, na Bolsa, as ações ordinárias do Banco do Brasil terminaram a sessão em queda de 5,33%, cotadas a R$ 15,98.

"Ninguém sabe ainda como seria essa operação, mas o anúncio criou uma pressão vendedora sobre os papéis do banco. Diante das incertezas, o investidor preferiu se antecipar e se desfazer dos papéis", explica Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.

BOLSA

O Ibovespa fechou em alta de apenas 0,03%, aos 49.345,19 pontos. O volume financeiro foi baixo, de R$ 5,2 bilhões

Ainda no setor financeiro, além das ações do BB —que lideraram as quedas do índice e foram as mais negociadas do pregão—, Itaú Unibanco PN perdeu 0,09%; Bradesco PN subiu 0,28%; Santander unit, -0,38%.

As ações da Vale recuaram 1,30%, a R$ 11,35 (PNA) e 2,90%, a R$ 14,02 (ON), influenciadas pelos baixos preços do minério de ferro no mercado chinês.

Os papéis da Petrobras fecharam em alta de 0,35%, a R$ 8,53 (PN) e de 0,45%, a R$ 11,09 (ON, beneficiadas pela alta do petróleo no mercado internacional.

DÓLAR E JUROS

O dólar comercial, usado em transações de comércio exterior, fechou em baixa de 0,16%, cotado a R$ 3,5760. A moeda americana à vista, referência no mercado financeiro e que encerra os negócios mais cedo, caiu 0,44%, a R$ 3,5596.

O mercado de juros futuros terminou em leve baixa. O contrato de DI para janeiro de 2017 recuou de 13,695% para 13,685%, enquanto o contrato de DI para janeiro de 2021 caiu de 12,620% para 12,610%.

O CDS (credit default swap) caía 0,25%, aos 355,805 pontos.

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 fechou em alta de 1,37%; o Dow Jones, +1,22%; e o Nasdaq, +2,00%. Os índices foram impulsionados pelas ações do setor financeiro e de tecnologia.

Na Europa, as Bolsas também registraram fortes altas, ajudadas por ações de bancos. Na Ásia, a maioria dos principais índices fechou em baixa, com os temores em relação à desaceleração econômica da China.


Endereço da página:

Links no texto: