Folha de S. Paulo


Governo estima agora que deficit deste ano pode chegar a R$ 180 bilhões

Apesar de reconhecer que há várias incógnitas para calcular o tamanho do rombo nas contas públicas deste ano, a equipe econômica do governo Temer passou a considerar um deficit de cerca de R$ 180 bilhões, quase o dobro dos R$ 96,7 bilhões projetados pela presidente afastada Dilma Rousseff.

O número final deve ser definido nesta sexta-feira (20) pelos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Romero Jucá (Planejamento) –o governo publicará o relatório de reavaliação do Orçamento, que trará as novas previsões de arrecadação e de gastos para este ano.

Essas estimativas dependem da previsão de receita com a regularização de dinheiro de brasileiros no exterior. Até agora, a chamada repatriação rendeu cerca de R$ 4 bilhões, mas a expectativa é que gere pelo menos R$ 20 bilhões para a União. Mas alguns técnicos avaliam que o montante pode ser maior.

O mercado financeiro faz previsões bastante díspares sobre esse valor. "Com toda a mudança de governo e a demanda acima do esperado, com os advogados tributaristas e criminalistas aconselhando seus clientes a repatriarem, achamos que pode chegar a R$ 170 bilhões ou R$ 180 bilhões", diz Tarcisio Rodrigues Joaquim diretor de câmbio do Banco Paulista.

No vermelho - Deficit nas contas do governo vem aumentando desde 2014; em R$ bilhões

ESCALADA DE NÚMEROS

Nesta quinta, o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) chegou a citar um deficit de R$ 200 bilhões. Ele disse que o governo Temer foi surpreendido com as novas previsões de rombo nas contas públicas.

No início desta semana, o governo chegou a estimar um deficit ao redor de R$ 120 bilhões. Depois, apontou para algo entre R$ 150 bilhões e R$ 160 bilhões e, agora, trabalha com o número de R$ 180 bi.

Economistas consultados pela Fazenda, por sua vez, estimam que o deficit nas contas públicas irá recuar de R$ 104 bilhões neste ano para R$ 92,1 bilhões em 2017, de acordo com a pesquisa Prisma Fiscal divulgada ontem.

A estimativa dos analistas fica mais próxima do tamanho do deficit registrado pelo governo nos últimos 12 meses, se descontadas as despesas extraordinárias feitas no ano passado com o pagamento das pedaladas.

DIVERGÊNCIA

Uma explicação para números tão divergentes são os parâmetros para projetar a arrecadação neste ano. Segundo a Receita, é muito cedo para fazer previsões.

Quando fez a última projeção, em março, o governo colocou no projeto um mecanismo que previa uma frustração de receita de mais de R$ 80 bilhões em relação à sua nova estimativa, uma perda de 10% do total previsto.

As despesas, por outro lado, estariam subestimadas. Nesse ponto, a equipe antecessora, colocou no projeto encaminhado ao Congresso um pedido para gastar quase R$ 20 bilhões a mais.

Nestes últimos dois meses, apareceram outras surpresas. Estados foram autorizados a suspender o pagamento das dívidas com a União e a presidente Dilma anunciou novas despesas em seus últimos dias antes de ser afastada.

O governo anterior também contava com R$ 10 bilhões que viriam da recriação da CPMF neste ano, algo com que a nova gestão não conta.

Segundo o ministro Romero Jucá a nova meta fiscal, que será entregue na segunda-feira (23) pelo governo ao Congresso, vai desconsiderar prejuízos com a Eletrobras, mas contemplar a "carência" de um ano que será dada aos Estados no pagamento de suas dívidas com a União.

O cálculo da equipe econômica deverá incluir ainda o aumento dado aos servidores do Judiciário.


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