Folha de S. Paulo


Desemprego adia para 2018 recuo da inadimplência

Joel Silva - 10.nov.15/Folhapress
SAO PAULO, SP BRASIL- 10-11- 2015 : Fila de desempregados em busca de vagas no Vale do Anhagabau.. ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) ***MERCADO *** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
Fila de desempregados em busca de vagas no Vale do Anhangabaú, em São Paulo

O agravamento da crise econômica, com desemprego crescente e inflação corroendo o poder de compra do consumidor, fez com que entidades e consultorias adiassem para 2018 as previsões sobre o início da queda da taxa de inadimplência.

Antes, esperava-se que os calotes começassem a diminuir no ano que vem.

A ANBC (Associação Nacional de Birôs de Crédito) previa que a inadimplência começaria a recuar a partir de 2017, mas revisou a projeção por causa do aumento do desemprego –10,9% no primeiro trimestre do ano, o equivalente a 11 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.

"Diferentemente do que aconteceu em 2012, quando tivemos o último surto de inadimplência –causado por excesso de endividamento da população em cenário de desemprego em queda–, desta vez é o desemprego que está puxando a inadimplência", diz Luiz Rabi, economista da empresa de informações de crédito Serasa Experian.

Pelas projeções de Rabi, o desemprego só para de crescer no primeiro trimestre do próximo ano.

"Na melhor das hipóteses, começa a cair no segundo semestre do ano que vem. O problema é que, assim como é o último indicador a espelhar uma crise econômica, é também o último a recuar", acrescenta.

Para voltar a contratar, os empresários precisam ter confiança de que a economia vai engatar trimestres consecutivos de crescimento, ressalta Rabi. E só com renda novamente esses consumidores poderão pagar suas dívidas e tirar o nome do cadastro de devedores.

Inadimplência - Confira a evolução do calote de pessoa física

RENEGOCIAÇÃO

João Morais, economista da Tendências Consultoria, também projeta a queda do calote para o início de 2018. "O movimento de renegociação de dívidas já está batendo no indicador. A taxa de inadimplência teria sido maior no ano passado se não fosse por isso", diz.

"Mas a própria renegociação tem limites. Parte do crédito renegociado não vai ser paga", alerta.

Dados do Banco Central mostram que a inadimplência na linha de crédito de renegociação de dívidas está aumentando. A taxa média no primeiro trimestre chegou a 17,8%, ante 16,6% no mesmo período do ano passado.

Para Fernando Sampaio, diretor de macroeconomia da LCA Consultores, a queda da taxa básica de juros (Selic) pode ajudar a conter a inadimplência de pessoa física. "O consumidor poderá trocar a dívida mais cara por uma mais barata."

Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, vê a inadimplência caindo a partir do último trimestre de 2017. Mas, diz, se a falência de empresas aumentar, pode elevar ainda mais o desemprego e impactar a taxa de calote.

VIDA REAL

Atualmente, segundo a Serasa, 60 milhões estão com o nome sujo no Brasil.

São pessoas que não conseguem contratar empréstimos e que tinham, no total, R$ 256 bilhões de dívidas em atraso, seja com bancos, financeiras, lojas ou com concessionárias de luz, água e telefonia. Eles representam 41% da população com mais de 18 anos no país.

A empresa que prestou o serviço pode entrar em contato com os birôs de crédito para informar sobre o atraso um dia depois do vencimento da conta.

O birô, então, manda uma notificação da pendência para o consumidor, que terá dez dias, a partir do envio da carta, para quitar a dívida.

Só depois disso ele poderá ser incluído no cadastro de devedores, que é consultado por empresas na hora de conceder crédito ou no pagamento a prazo.

Em média, a chamada negativação ocorre 60 dias após o vencimento da conta.

Além da restrição no crédito, o consumidor com nome sujo pode ter dificuldade para abrir conta em banco, alugar imóveis e contratar um plano de saúde.

Se a dívida for com serviços recorrentes, como contas de luz e gás, poderá ter o serviço cortado.


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