Folha de S. Paulo


Companhia aérea Gol segue receita 'premium' da sócia Delta

Sócia da Gol com 9% de participação, a americana Delta Airlines tem ajudado a companhia brasileira a atravessar as turbulências do mercado nacional (teve prejuízo de R$ 4,3 bilhões em 2015), com injeção de capital e garantia de liquidez.

Mas a parceria vai muito além do suporte financeiro. A Delta, que hoje detém um assento no conselho da empresa da família Constantino, está ajudando a Gol a deixar de ser percebida como empresa "low cost" (baixo custo) para se transformar em uma companhia aérea "premium".

A receita do bolo vem da própria Delta, que há uma década estava a beira da falência e conseguiu dar a volta por cima e se transformar na maior aérea do mundo em passageiros transportados e uma das mais rentáveis.

Desde 2013, a empresa já distribuiu US$ 5 bilhões aos acionistas. Só no ano passado, os cerca de 80 mil funcionários receberam US$ 1,5 bilhão em participação nos lucros –a maior distribuição já realizada por uma companhia aérea nos EUA.

A PARCERIA GOL E DELTA - Raio-X das empresas

"Em 2005, tínhamos um deficit em termos de marca com relação à concorrência", diz Ed Bastian, novo presidente-executivo da Delta. "Nossas tarifas estavam 10% abaixo da média do mercado. Hoje estão 10% acima. Essa diferença de 20 pontos percentuais representou US$ 8 bilhões. As pessoas estão pagando mais para voar de Delta."

Entre a série de fatores que levaram a Delta a elevar sua receita, está a recusa em tratar a viagem aérea como commodity, diz Bastian. "Estamos competindo em qualidade de serviço, e não em preço. E isso é bom para o consumidor."

GOL 'PREMIUM'

Na avaliação da vice-presidente de Relações com Investidores da Delta, Jill Sullivan Greer, a Gol já possui um nível de performance operacional característico de um serviço "premium", como uma frota jovem e altos índices de pontualidade –no primeiro trimestre, 95% dos voos da Gol saíram no horário (menos de 30 minutos de atraso), melhor desempenho no setor.

Ela também possui a maior oferta de assentos do mercado doméstico na categoria A de conforto na classificação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), que mede a distância entre poltronas.

A questão é fazer o mercado corporativo perceber essas mudanças e pagar mais por isso. Atualmente, a Gol detém 31,6% de participação dentro do segmento corporativo.

"Estamos ajudando a Gol a reposicionar sua marca para atrair uma maior receita pois eles têm um produto que é 'premium'", diz Greer.

"Eles possuem os melhores slots [horários de pouso e decolagem] em Congonhas e no Santos Dumont. É hora de reduzir um pouco a presença em hubs como Brasília e focar em São Paulo e Rio, que é onde está o passageiro premium. E, claro, assegurar que o consumidor perceba isso."

Dentre as medidas já implementadas, está a criação da classe Gol + Conforto (inspirada na Comfort + da Delta), que oferece, na frota doméstica, mais distância entre os assentos e maior reclinação do encosto. Recentemente, a Gol deu um upgrade na sua classe executiva em voos internacionais, que agora passa a se chamar Premium.

No caso da Delta, além de reduzir atrasos, cancelamentos e índices de perda de bagagem, ela investiu na reforma dos interiores, com cadeira que vira cama na executiva, wi-fi em todos os aviões e amenidades como cerveja artesanal e café Starbucks.

ALÉM DO BRASIL

A fórmula da Delta de incrementar as receitas oferecendo um produto voltado para o viajante de negócios está sendo aplicada não apenas na Gol, mas também na Aeroméxico. Lá, contudo, as coisas estão avançando mais rapidamente pois o momento da economia é melhor.

Com a perspectiva de aprovação de um acordo de céus abertos (abertura de mercado) entre os Estados Unidos e México, a Delta vai aumentar a sua participação na Aeroméxico para 49%.

No Brasil, rumores de que o governo poderia aprovar o aumento de capital estrangeiro no setor costumam elevar as ações da Gol.

"Não temos planos de aumentar a participação na Gol neste momento", disse Ed Bastian, ressaltando que não se arrepende do investimento, apesar dos problemas no mercado brasileiro.

"O Brasil é muito importante para nós do ponto de vista estratégico e esse é um investimento de longo prazo. Mas é um país difícil e estamos vendo que é também muito volátil e cíclico. Estamos, porém, confiantes de que a tempestade vai passar e que a Gol sairá muito bem."

Em 2015, a Delta investiu US$ 90 milhões na Gol e ofereceu garantias para um empréstimo de quase US$ 300 milhões. Em 2011, a empresa já tinha investido US$ 100 milhões, assegurando 3% do capital da aérea brasileira.

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MEDIDAS ADOTADAS PELA GOL PARA ATRAIR O PASSAGEIRO PREMIUM

Milhas
Parcerias com companhias estrangeiras para venda de passagem em voos da empresa parceira, permitindo acumular e resgatar milhas Smiles nos voos internacionais destas empresas: Delta, Air France-KLM, Qatar, Etihad, Air Canada, entre outras

Mais espaço
Assentos mais espaçosos localizados nas sete primeiras fileiras do avião, com distância de 34 polegadas (86,3 cm) e reclinação do encosto 50% maior. Foi lançado na ponte aérea RJ-São Paulo em novembro de 2013 e, desde o final de 2014, em toda a frota

Classe executiva
Nova classe executiva em voos internacionais, lançada em março deste ano. Oferece prioridade no check-in e no embarque, poltrona do meio bloqueada, kit composto por manta e travesseiro, refeição quente ou lanches e sobremesa, entre outros


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