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'Efeito Cinderela' faz gasto com filha ser até 30% maior que com filho

Diego Padgurschi/Folhapress
Pais Ivan Jazzar e Daniella com os filhos Isabella, 10, e Enrico, 7, em São Paulo
Pais Ivan Jazzar e Daniella com os filhos Isabella, 10, e Enrico, 7, em São Paulo

Ser mãe é padecer no paraíso por uma série de razões —uma delas é a financeira. Ser mãe de uma menina, então, pode ser ainda mais custoso para o orçamento doméstico.

Consultores de finanças ouvidos pela Folha afirmam que os gastos da família com uma filha são de 20% a 30% maiores que os despendidos com um filho, considerando especialmente a faixa etária dos 9 anos aos 12 anos.

"É nessa idade que as meninas começam a se interessar mais por roupas", diz Ceres de Araujo, psicóloga especializada em desenvolvimento humano e professora da pós-graduação da PUC-SP.

A afirmação se alinha às opiniões de especialistas financeiros no que diz respeito ao vilão das contas das garotas: o segmento de moda e beleza, associado aos caprichos com acessórios e com material escolar.

"Os apetrechos feitos para as meninas têm um número muito maior de opções, e isso vai desde os modelos de sapato até cadernos escolares e mesmo produtos de beleza e maquiagem", afirma Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (associação de educadores financeiros) e da Dsop Educação Financeira. São itens que, em sua percepção, encarecem a criação delas em cerca de 30%.

Efeito Cinderela - Gastos médios mensais de uma família com uma criança de 5 a 10 anos

"As garotas gastam mais com produtos de beleza em geral", afirma Gabriela Vale, assessora financeira da consultoria Libratta.

Em um cabeleireiro em São Paulo, onde o corte de cabelo masculino custa R$ 70, o feminino, com escova, chega a R$ 200. As garotas ainda podem gastar mais R$ 60 com manicure e pedicure.

A advogada Daniella Bellini Fortino Jazzar, 41, diz perceber o "efeito Cinderela" em sua filha Isabella, de dez anos. "Desde bebê, as meninas são direcionadas ao mundo mágico das mulheres, com brincos e faixas no cabelo."

Segundo Jazzar, quando a menina cresce, ela fica mais vaidosa e os acessórios vão aumentando: pulseiras, colares, brincos e bolsas.

A avaliação da advogada tem uma base de comparação bastante fidedigna: o irmão de Isabella, Enrico, de 7 anos. "Ele solicita apenas o essencial, um par de óculos escuros e um boné. Experimente arrumar a mala de viagem para uma menina e um menino, a diferença é grande."

Jazzar também vê nos brinquedos discrepâncias entre os gastos. "Os brinquedos direcionados às meninas possuem inúmeros detalhes, a boneca tem desde a casinha até a lancha de passeio."

Enquanto um skate de controle remoto do Ben 10, que sai por R$ 200 (boneco incluso), fará a festa do menino, elas pagarão R$ 230 pelo kit do quarto da princesa Elsa, do "Frozen" —sem a boneca.

EXEMPLOS - Em R$

PIDONAS

Pedir é uma estratégia usada muito pelas meninas, segundo a psicóloga Araujo. "As meninas são mais sedutoras. Quando não conseguem algo com a mãe, conseguem com o pai."

A secretária Camila Silva, 27, mãe do Kevyn, 7, e da Ketlyn, 11, diz que "ela é muito mais pidona" do que ele. "A Ketlyn é muito mais exigente e detalhista com tudo, especialmente com as roupas, desde pequena. Ela quer escolher, tem opinião. Para ele, o que damos, está bom."

A situação se torna ainda mais dispendiosa, na percepção de Silva, pelas roupas femininas serem em geral mais caras que as masculinas, mesmo na moda infantil.

CUSTOS MENSAIS

Independentemente do sexo, uma criança de 9 a 12 anos custa, para uma família de classe média, entre R$ 2.500 e R$ 5.000 por mês, segundo cálculos de Myrian Lund, professora de finanças dos MBAs da FGV, do Invent (instituto de vendas e trade marketing) e de João Matta, professor de publicidade da ESPM.

Para a classe média alta, esse valor pula para a faixa de R$ 6.000 a R$ 10.000, segundo os consultores. Na conta entram gastos com educação, saúde, vestuário, lazer e alimentação.

"O caro está na parte de educação e de transporte escolar, que equivalem a cerca de 60% do total", diz Lund.


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