Folha de S. Paulo


Multinacionais faturam mais em paraísos fiscais do que na China

As multinacionais obtiveram em 2014 maiores receitas nas ilhas Bermudas do que na China, apontou nessa terça-feira (3) um relatório da ONU publicado em meio à polêmica sobre a falta de transparência das finanças de grandes empresas.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), com sede em Genebra, aponta receitas desproporcionais registradas por corporações internacionais em "jurisdições com baixos impostos, frequentemente offshore".

O relatório reforça as suspeitas sobre as técnicas reveladas pelos Panama Papers, sobre multinacionais que instalam suas sedes em países com impostos muito inferiores aos que pagariam onde desenvolvem suas atividades.

O estudo tem como amostragem multinacionais de 26 países desenvolvidos que obtiveram receitas de US$ 43,7 bilhões em 2014 de suas atividades no paraíso fiscal das Bermudas, um valor equivalente a 779% do PIB desse exíguo território antilhano.

As atividades na China geraram receitas de US$ 36,4 bilhões, equivalentes a 0,3% do PIB do gigante asiático.

"Como é possível obter mais lucros declarados em Bermudas do que na China?", questionou Astrit Sulstarova, diretor da unidade de investimentos da UNCTAD.

"Parece que há algo suspeito aí", apontou.

O relatório da UNCTAD afirma que as multinacionais registraram receitas superiores a US$ 30 bilhões nas ilhas Cayman, o equivalente a 875% do PIB desse país.

As multinacionais registraram receitas superiores a US$ 74 bilhões em Luxemburgo, maior receptor de investimentos de "entidades com fins especiais" (special purpose entities, SPEs), grande parte delas empresas fictícias.

A quantia corresponde a 114% do PIB do ducado, membro da zona do euro.


Endereço da página:

Links no texto: