Folha de S. Paulo


Agressões e cusparadas só agravam a crise, diz presidente do Habib´s

Gabo Morales/Folhapress
O fundador do Habibs, Alberto Saraiva, e a herdeira da rede Bruna Saraiva
O fundador do Habibs, Alberto Saraiva, e a herdeira da rede Bruna Saraiva

Um dos primeiros empresários a levantar publicamente a bandeira da troca de governo (inclusive municiando manifestantes com cartazes de "fome de mudança"), o fundador e presidente do Habib's, Alberto Saraiva, diz que "o país está agonizando".

Segundo ele, a campanha publicitária em que o Habib's mostra brasileiros vibrando com a exclamação "caiu" e cartazes distribuídos aos manifestantes pró-impeachment são "apartidários".

Ele diz que, se pode dar algum exemplo a seus colegas, "é que reduzam preços e sacrifiquem margens de lucro". Leia trechos da entrevista concedida por e-mail.

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Folha - Individualmente, nenhum empresário havia apoiado os protestos. O que o motivou?

Alberto Saraiva - A palavra "apoiar" pode gerar interpretação equivocada de que convocamos ou organizamos manifestações. Não temos esse poder. Participamos motivados por sentimento patriótico. O país está agonizando. Pessoas perdendo empregos, empresas fechando, inflação minguando o consumo, o serviço público faliu, não há transporte adequado, o atendimento nos hospitais é desumano. Amo o país, prego a união. Entre nós não pode haver muros, desentendimentos, cusparadas e ofensas. Só agrava a situação. Cada um deve ajudar no que pode. Tento fazer minha parte.

Se Dilma sair, dá esperança?

A esperança é por mudanças. O que se discute é se o atual governo tem condição de fazê-las, já que perdeu a confiança da sociedade e tem menos de um terço dos congressistas na base de apoio. A população não aguenta mais, tem fome de mudança, seja de onde vier. Se não vier pela presidente, que outros tenham a oportunidade.

O sr. apoia o impeachment? Ela diz que é "golpe". O sr. concorda?

Não apoio o impeachment. Apoio mudanças. Não sou contra governos ou partidos. Para mim, o papel do Estado é dar condição para o país prosperar. Apesar de 54 milhões terem votado na presidente, esse apoio popular resultou em frustração.

O volume de pessoas nos protestos e as pesquisas de aprovação do governo indicam que esse apoio não existe mais. Sei que nenhum presidente pode ser deposto com base em índice de popularidade. É preciso que tenha cometido crime. A Câmara considerou que há indícios, e o Senado dará a palavra final.

Pelo que vejo, tudo está sendo conduzido conforme a Constituição e com anuência do STF. Por esses motivos, não acho que seja golpe.

A ação da marca com cartazes no protesto e a campanha publicitária talvez sejam a crítica mais assertiva que uma empresa fez ao governo. O sr. temeu retaliação?

Todos os cartazes que levamos às ruas nas manifestações eram claramente apartidários e continham mensagens positivas. Eram frases que vieram das ruas, que obtivemos pesquisando, sem escolher pessoas vestidas de vermelho ou verde-amarelo.

O que nossos cartazes expressavam não era nossa voz, mas a do brasileiro. Nossa mais recente campanha, sobre a redução do preço da Bib'sfiha de frango, mostra pessoas vestidas de vermelho confraternizando com as de verde-amarelo. Nosso discurso sempre foi de união. Não há o porquê de retaliações.

O sr. foi ponta de lança nesse movimento. Outros empresários seguirão seu exemplo?

Não fui ponta de lança de nada, nem quero ser. Só faço minha parte como cidadão. Se posso dar algum exemplo a outros empresários, é que reduzam preços, sacrifiquem margens de lucro. Assim estarão colaborando para que o país saia desta crise.

Como foi fazer a campanha?

Lancei o desafio aos nossos colaboradores de voltar a praticar preço inferior a R$ 1 no nosso carro-chefe, a Bib'sfiha de frango. A princípio, a ideia se mostrou ilógica, impossível. Após insistir, conseguimos. Na reunião, alguém disse que o slogan deveria ser "caiu o preço da Bib'sfiha". A criatividade dos publicitários resultou no filme que foi para a TV. Deixei claro que só aprovaria se trouxesse sentido de união, sem partidarismo.

Teve resultado?

As vendas das Bib'sfihas de frango aumentaram 400% logo nos primeiros dias.

O sr. esteve em protestos. Encontrou mais empresários lá?

Fui à Paulista com a família, de forma anônima, sem encontros. Foi a maior jornada cívica feita no país. Me orgulho de ter participado.

Um governo Temer tem condição de realizar as mudanças? Por que Dilma não conseguiu?

Ao que parece, a opção que se apresenta passa pelo vice. Vou torcer para que dê certo, por ele e principalmente por todos nós brasileiros. Isso vai ocorrer se houver apoio. Minha experiência no comando de empresas é que um presidente não pode descuidar dos subordinados e do que fazem.

É preciso seriedade e comprometimento da equipe para o bom direcionamento e conquista de resultados. Isso não ocorreu. Os escândalos foram muitos, e a corrupção se alastrou, comprometendo o que foi conquistado nos último anos. Mas continuo acreditando. Sou otimista.

RAIO-X
Alberto Saraiva

Formação
Medicina,
pela Faculdade de
Ciências Médicas da
Santa Casa de São Paulo

Trajetória
Em 1988, montou o primeiro Habib's, na Lapa (SP). Hoje,
a marca tem 430 unidades em mais de 120 cidades

Outras empresas
Ragazzo, Box 30, churrascarias Picanha Grill e Tendall Grill e Road Shopping

Livro
"Os Mandamentos
da Lucratividade"
(editora Campus)


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