Folha de S. Paulo


Produção de equipamento submarino mantém expansão apesar da crise

Em meio a uma das maiores crises da indústria brasileira de petróleo, a fabricante norueguesa de equipamentos submarinos Aker Solutions inaugurou no dia 19, em Curitiba, a segunda fábrica no Brasil.

A empresa atua em um dos poucos segmentos que têm sobrevivido à crise do setor, iniciada com a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e agravada com a queda nos preços do petróleo.

Com a crise, a estatal decidiu focar seus escassos recursos em projetos de produção de petróleo geradores de receitas. E, para isso, precisa manter as compras de equipamentos submarinos, essenciais para levar o petróleo dos poços no fundo do mar às plataformas.

Tecnologia submarina

As encomendas feitas no início da década motivaram uma série de investimentos das fabricantes de equipamento submarino, setor com alto índice de nacionalização. "A Petrobras é um dos maiores investidores globais em águas profundas. Por sorte, a crise afetou mais a área de downstream [refino e distribuição]", diz Luiz Araújo, primeiro brasileiro a ocupar a presidência mundial da Aker.

A nova fábrica da Aker obteve um novo contrato de R$ 435 milhões com a Petrobras, não é caso isolado. Com as novas instalações, resultado de um investimento de cerca de R$ 350 milhões, a empresa duplicará a capacidade de fabricação de árvores de Natal, equipamento que controla o fluxo de fluidos de um poço produtor de petróleo.

A concorrente americana FMC Technologies também ampliou a unidade brasileira para fornecer 130 árvores de Natal e 19 manifolds, estrutura gigantesca que recebe a produção de diversos poços para enviar às plataformas.

Em 2015, já em meio à crise do setor, a empresa bateu recorde de produção no Brasil, entregando mais de 50 árvores de Natal. Ao todo, já entregou mais de 500 unidades.

A estratégia da Petrobras de licitar grandes contratos para fomentar o investimento na produção fez do Brasil um dos principais fabricantes globais de equipamentos submarinos, com tecnologia e produtividade compatível a concorrentes estrangeiros, dizem os executivos.

FALTAM ENCOMENDAS

Mas, se os contratos do início da década garantiram as atividades até o momento, o setor se preocupa agora com a falta de novas encomendas. Araújo admite que a nova fábrica da Aker não atingirá, em um primeiro momento, a capacidade máxima.

"Não existe nenhum lugar do mundo que reúna todos os fabricantes do setor como o Brasil, mas a indústria foi construída com base em uma expectativa de encomendas muito alta", diz o diretor da Abespetro (Associação das Empresas de Serviços de Petróleo), José Mauro Ferreira.

"A Petrobras está reduzindo a demanda gradativamente, e a capacidade utilizada vai começar a cair", completa o executivo, que preside a filial brasileira da FMC.

Houve ainda expansão da produção de dutos flexíveis para o escoamento da produção e de umbilicais, espécie de mangueira com cabos elétricos usada para operar remotamente os equipamentos no fundo do mar.

Embora em ritmo menor do que em outros segmentos como a indústria naval ou as atividades de perfuração, já há no setor notícias de corte de trabalhadores para enfrentar a queda na demanda.

O setor defende uma maior abertura da produção de petróleo a empresas privadas, como forma de reduzir a dependência dos contratos da Petrobras.

Também aguarda a regulamentação de um novo programa do governo para estimular as exportações a outros países produtores em águas profundas. O programa dará bônus para o cálculo dos compromissos contratuais de conteúdo nacional.

"O momento não é propício para o setor. Mas os investimentos não são feitos pensando em um momento. As reservas estão aí, e ainda há muito o que explorar no Brasil", diz Araújo, da Aker.


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