Folha de S. Paulo


Dólar fecha em leve alta após ação do BC; cautela faz Bolsa recuar 0,15%

Alan Marques-2.mar.2016/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL 02.03.2016. A presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer participam da assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta entre a União, os estados de Minas Gerais e do Espírito Santo e a Samarco Mineradora S/A(FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER
A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer em evento em Brasília

A melhora no cenário externo, com a recuperação dos preços do petróleo, não impediu a queda do Ibovespa nesta quarta-feira (20). Em véspera de feriado, o índice foi pressionado pelo recuo de papéis de bancos e da Petrobras.

O dólar, que chegou a subir para o patamar de R$ 3,56 com nova intervenção do Banco Central no mercado de câmbio pela manhã, encerrou a sessão em leve alta.

Predominou no mercado doméstico um clima de cautela em relação ao andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado, apesar da expectativa de que os senadores confirmem a decisão da Câmara dos Deputados. Também há incertezas sobre a configuração de um governo sob o comando do atual vice-presidente, Michel Temer.

O Ibovespa fechou em leve baixa de 0,15%, aos 53.630,93 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7,5 bilhões. No jargão do mercado financeiro, o índice operou "de lado" nesta sessão.

O destaque de alta do índice foram as ações da Vale, as mais negociadas no pregão. Vale PNA avançou 5,30%, a R$ 16,68, e Vale ON, +6,35%, a R$ 21,76.

O minério de ferro entregue em Qingdao, na China, subiu pela terceira sessão seguida. A alta no preço da matéria-prima nesta quarta-feira foi de 3,05%, para US$ 64,77 a tonelada.

Além disso, a mineradora divulga nesta quarta-feira, após o fechamento do mercado, seu relatório de produção referente ao primeiro trimestre deste ano. A expectativa de analistas é de recorde na produção de minério.

As siderúrgicas subiram, com o avanço do minério e expectativa de reajustes do preço do aço: CSN ON, +2,70%; Usiminas PNA, +9,60% e Gerdau PN, +0,74%.

Apesar da recuperação dos preços do petróleo no mercado internacional durante a sessão, as ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 1,45%, a R$ 9,48, enquanto as ordinárias caíram 0,16%, a R$ 12,34.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN, -1,85%; Banco do Brasil ON, -0,68%; Bradesco PN, -0,07%; Santander unit, -0,05%; e BM&FBovespa ON; + 2,14%.

Bolsa tem leve queda em meio a cautela - Ibovespa, em pontos

"Há um sentimento de cautela no mercado doméstico, principalmente sobre como deverá ser o novo governo", afirma Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor. "Resolvida a questão do impeachment, o quadro econômico complicado voltará a ter mais peso", acrescenta.

Indicadores negativos divulgados nesta quarta-feira renovaram as preocupações em relação à situação da economia do país.

A taxa de desemprego no Brasil chegou ao patamar de dois dígitos pela primeira vez desde o início da série histórica da pesquisa do IBGE, iniciada no primeiro trimestre de 2012. Conforme o instituto, a taxa de desemprego foi de 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro deste ano, acima dos três meses anteriores (9%) e também do mesmo período do ano passado (7,4%).

Além disso, o IPCA-15 de abril foi de 0,51%, alta em relação aos 0,43% registrados na prévia do mês de março. A prévia da inflação oficial indica, assim, que a tendência é de que a inflação de abril acelere em relação a março.

Tanto a taxa de desemprego quanto o IPCA-15 vieram acima das expectativas do mercado. A mediana das projeções de analistas para o desemprego era de 10,1%, enquanto que para o índice de inflação era de 0,47%.

"Ainda no radar, como motivo de preocupação, está a questão do recálculo da dívida dos Estados, o que pode agravar ainda mais a situação fiscal do País", destaca a corretora Rico, em comentário ao mercado.

"Os sérios problemas econômicos do Brasil não vão desaparecer assim que a presidente Dilma sair do Planalto. Há muitas dúvidas se um governo Temer terá apoio do Congresso para propor medidas duras e rápidas para recuperar a economia", comenta Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest. "Sem falar que a chapa Dilma-Temer pode ser cassada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral)."

Os analistas também destacam que as empresas em geral deverão reportar nos próximos dias resultados bastante ruins referentes ao primeiro trimestre deste ano, o que pesará sobre o Ibovespa.

DÓLAR

A moeda americana à vista fechou em alta de 0,10%, a R$ 3,5472, e o dólar comercial avançou 0,11%, a R$ 3,5330.

Após uma pausa nesta terça-feira (19), o Banco Central realizou nesta quarta-feira mais um leilão de swap cambial reverso, equivalente à compra futura de dólar pela autoridade monetária. Todos os 20.000 contratos propostos foram aceitos, somando US$ 1 bilhão.

"Ainda que em menor escala, o BC volta a atuar no mercado cambial, e investidores continuam discutindo sobre o potencial 'piso' ao redor de R$3,50 que a instituição estaria tentando defender", avaliam os analistas da Guide Investimentos, em relatório.

"Seja como for, no curtíssimo prazo —e contando com a boa e possível evolução de um governo Temer—, acreditamos que o dólar poderia cair ainda mais, independente das atuações do BC", acrescenta a Guide.

Dólar à vista tem leve alta após ação do BC - em R$

Analistas destacam que o BC tem realizado leilões de swap cambial reverso para reduzir sua posição vendida em dólar, ao mesmo tempo em que controla a volatilidade no câmbio. A autoridade monetária também deixou de fazer rolagens de swap cambial tradicional, correspondente à venda futura da moeda americana.

Dólar comercial tem pequena valorização - em R$

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 recuou de 13,520% para 13,495%; o DI para janeiro de 2021 caiu de 12,900% para 12,880%, apesar da aceleração do IPCA-15.

A expectativa do mercado é de que o BC faça um corte na taxa básica de juros (Selic) ainda neste ano.

O CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote e indicador da percepção de risco do país, recuou 0,66%, para 336,074 pontos, no nível mais baixo desde 28 de agosto do ano passado (331.232 pontos).

EXTERIOR

O petróleo iniciou a sessão em queda, com o fim da greve de trabalhadores do setor no Kuwait. Mas notícias de que poderá haver em maio uma nova reunião entre países para discutir o congelamento da produção animaram os investidores.

Outro motivo para a alta da commodity foram dados semanais indicando redução na produção americana do petróleo.

O petróleo Brent, negociado em Londres, subia 3,47%, para US$ 45,56 o barril; em Nova York, o WTI ganhou 3,77%, para US$ 42,63 o barril.

A alta do petróleo impulsionou a alta das Bolsas na Europa e nos EUA, também beneficiadas pela valorização do minério e por resultados corporativos positivos.

Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,24%; o S&P 500, +0,08% e o Nasdaq, +0,16%.

As Bolsas europeias também fecharam no campo positivo: Londres (+0,08%); Paris (+0,56%); Frankfurt (+0,69%); Madri (+1,96%); e Milão (+1,14%).

Na Ásia, as ações chinesas caíram com um movimento de realização de lucros e expectativas de menores de estímulos monetários. No restante do continente, o tombo dos preços do petróleo mais cedo fez a maior parte dos índices acionários cair.


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