Folha de S. Paulo


Dólar ganha força com intervenção de US$ 3,4 bilhões do Banco Central

Após a euforia na semana passada que antecipou a votação do pedido de impeachment da presidente Dilma, o mercado financeiro arrefeceu nesta segunda (18). A Bolsa brasileira recuou, e o dólar teve forte valorização.

A alta da moeda americana ocorreu após o Banco Central mais um leilão de swap cambial reverso, totalizando US$ 3,442 bilhões.

Os juros futuros, no entanto, seguiram em queda e caminharam para o menor patamar desde julho de 2015.

Para analistas, o movimento pode ter sido uma tomada de fôlego. A continuidade da alta do Ibovespa (principal índice da Bolsa brasileira) e da queda do dólar dependerá de notícias sobre o andamento do processo no Senado e também das indicações de formação de um eventual governo Michel Temer.

O Ibovespa fechou o dia em baixa de 0,63%, mas no ano ainda registra alta de 22,02%.

"Eu vejo o movimento como momentâneo, uma realização de lucros moderada e rápida. E, à medida que entram fatos novos, como aumento da probabilidade de aprovação do impeachment no Senado, o mercado retoma a alta", diz Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global.

Para Raphael Figueiredo, analista da corretora Clear, o mercado negocia com base na percepção sobre a saída da presidente, mas não necessariamente sobre como seria um novo governo.

O otimismo, dizem os analistas, dependerá da formação da equipe econômica e da capacidade de propor reformas.

"A gente trabalha com um grande ponto de interrogação. O fato é que não sabemos se os principais ministros serão políticos ou técnicos. Também não se sabe se reformas serão feitas", diz Roberto Indech, da Rico Corretora.

DÓLAR

A moeda norte-americana abriu o dia em queda, mas com a intervenção do Banco Central passou a subir. Na cotação à vista, fechou em alta de 0,62%, a R$ 3,5685, enquanto dólar comercial avançou 2,04%, a R$ 3,598.

O BC realizou, ainda durante a manhã, mais um leilão de swap cambial reverso. A operação equivale à compra futura da moeda americana pelo BC. Dos 80.000 contratos ofertados, foram aceitos 68.840, totalizando US$ 3,442 bilhões.

Ao fazer essas operações, o BC aumenta a demanda pela moeda norte-americana e contribui para conter a queda nas cotações.

Nos últimos 30 dias, o BC realizou operações que tiraram do mercado cerca de US$ 35 bilhões, o equivalente a um terço dos contratos de swap cambial, papéis usados pela instituição para "vender" dólares no mercado futuro.

Há cerca de um mês, o dólar estava cotado a R$ 3,61. Na semana passada, chegou a ficar abaixo de R$ 3,50.

A desvalorização do dólar pode prosseguir, na avaliação dos analistas consultados. Figueiredo estima que, durante o ano, a moeda pode cair para R$ 3,20.

Economistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus apostam que o dólar deva terminar o ano em R$ 3,80, abaixo dos R$ 4 estimados há uma semana.

"O dólar está caindo pela menor percepção de risco, de saída da presidente. Mas os preços estão oscilando apartados da vida real. Mais pra frente o mercado vai ter que se ajustar", projeta o analista da Clear.

Por enquanto, a baixa do dólar ajuda a acomodar a inflação e tem reflexo direto sobre os juros futuros.

Ontem, os juros futuros encerram no menor patamar desde julho de 2015. Naquele mês, o governo reduziu a meta fiscal de 2015 e anunciou deficit inédito de R$ 1,6 bilhões no primeiro semestre do ano. Desde então, os juros iniciaram trajetória de alta.

O contrato de DI para janeiro de 2017 recuou de 13,600% para 13,480%, e o DI para janeiro de 2021 caiu de 13,040% para 12,860%.

Analistas dizem que isso não significa redução na taxa básica de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da próxima semana. As apostas seguem de corte a partir de julho.


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