Folha de S. Paulo


Bolsa atinge maior pontuação em 9 meses; BC tenta conter queda do dólar

Evaristo Sá/AFP
 Brazilian President Dilma Rousseff waves during the event Women in Defense of Democracy at the Planalto Palace in Brasilia, on April 7, 2016. The impeachment of President Rousseff should go ahead, said Wednesday the rapporteur for a lower house special commission of the impeachment, bringing the country's political crisis a step closer to a showdown. / AFP PHOTO / EVARISTO SA ORG XMIT: ESA445
Presidente Dilma Rousseff durante evento no Palácio do Planalto

Novos reveses para o governo aumentaram a confiança de investidores de que haverá o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O noticiário político, aliado ao cenário externo positivo, levou o Ibovespa a fechar em alta de mais de 3,6% nesta terça-feira (12), acima dos 52.000 pontos e no maior patamar em quase nove meses.

Apesar da atuação agressiva do Banco Central nesta sessão, com cinco leilões de swap cambial reverso, somando cerca de US$ 8 bilhões, o dólar comercial acabou fechando em leve baixa, a R$ 3,49, ainda no menor nível em quase oito meses. O dólar à vista reduziu a alta ante o real ocorrida ao longo do dia, terminando cotado no patamar de R$ 3,53.

Os juros futuros e o CDS (credit default swap), espécie de seguro contra calote do país, recuaram.

BOLSA

O Ibovespa abriu o pregão em alta, com os investidores repercutindo o resultado da votação do relatório favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff na Comissão Especial da Câmara. O placar de 38 a 27 foi um pouco pior do que o governo esperava.

Além disso, segundo analistas, a prisão do ex-senador Gim Argello (PTB) na 28ª fase da Operação Lava Jato foi vista como mais um ponto negativo para o governo. Isso porque Argello, que foi o vice-presidente da CPI da Petrobras, era próximo da presidente Dilma.

O índice, que subia 2% mais cedo, ampliou a alta à tarde, depois da notícia de que a bancada do PP na Câmara decidiu anunciar seu desembarque da base aliada do governo Dilma Rousseff e o apoio à abertura do processo de impeachment da presidente na votação marcada para o domingo (17).

O principal índice da Bolsa paulista fechou com ganho de 3,66%, para 52.001,86 pontos. É a maior pontuação desde 17 de julho de 2015 (52.341,80 pontos). O giro financeiro foi de R$ 8,835 bilhões.

"O cenário político interno se complicando para o governo vai deixando mais cristalino o cenário de impeachment e o mercado começa a especular, nos próximos dias, os nomes do futuro governo", observam os analistas da Lerosa Investimentos, em relatório.

Operadores lembram que, nesta quarta-feira (13), haverá o vencimento de opções sobre Ibovespa, o que também influenciou as cotações das ações nesta sessão, além da alta das commodities e na Bolsa de Nova York.

No setor financeiro, Itaú Unibanco PN subiu 4,51%; Bradesco PN, +4,10%; Santander unit, +2,46%; e BM&FBovespa ON, +2,22%; Banco do Brasil ON, +2,59%.

As ações preferenciais da Petrobras ganharam 7,62%, a R$ 9,03, e as ordinárias avançaram 8,92%, a R$ 11,35, ajudadas pela alta dos preços do petróleo no mercado internacional.

Os papéis PNA da Vale subiram 10,93%, a R$ 14,20, e os ON da mineradora, +10,43%, a R$ 18,74. O preço do minério de ferro em Qingdao, na China subiu 4,59%, a US$ 59,22 a tonelada.

Entre as siderúrgicas, CSN ON ganhou 20,62%; Gerdau PN, +7,39% e Usiminas PNA, +11,17%.

DÓLAR

O Banco Central agiu pesadamente para conter a queda do dólar nesta terça-feira. Nesta segunda-feira (11), a moeda americana já havia atingido a menor cotação em quase oito meses, com o noticiário desfavorável ao governo e o cenário externo positivo. A queda da moeda americana ocorreu naquele pregão apesar de autoridade monetária ter realizado três leilões de swap cambial reverso, equivalente à compra futura de dólares pelo BC, totalizando 20.000 contratos (US$ 1 bilhão).

Nesta terça-feira, o BC leiloou logo cedo 40.000 contratos de swap cambial reverso, o dobro do que vinha sendo ofertado nas sessões anteriores. Todas as propostas foram aceitas, somando US$ 2 bilhões. Com a estratégia mais agressiva do BC, o dólar à vista chegou a subir quase 5% ante o real, atingindo a máxima de R$ 3,7014.

DÓLAR
Saiba mais sobre a moeda americana
NOTAS DE DÓLAR

A moeda americana, no entanto, começou a perder fôlego ante o real. O BC realizou, ainda pela manhã, um segundo leilão de 40.000 contratos de swap cambial reverso. Destes, foram aceitas apenas 7.100 propostas.

À tarde, mais três leilões de swap cambial reverso foram realizados. O primeiro com 32.900 contratos (os que restaram do novo leilão da manhã), o segundo com 40.000 contratos e o terceiro com outros 40.000 contratos. Todas as propostas foram aceitas.

Ao todo, foram leiloados 160.000 contratos de swap cambial reverso, totalizando aproximadamente US$ 8 bilhões.

Além disso, o BC não anunciou rolagem de swap cambial tradicional para esta sessão. A instituição vinha rolando diariamente cerca de 50% os contratos que vencem em maio. O swap cambial tradicional equivale à venda futura de dólar pela autoridade monetária.

O dólar à vista fechou em alta de 0,36%, a R$ 3,5389. O dólar comercial, que atingiu a máxima de R$ 3,5630 nesta sessão, terminou o pregão com leve baixa de 0,02%, a R$ 3,4940.

Segundo analistas, se não fosse a ação mais agressiva do BC nesta terça-feira, a moeda americana já poderia estar na casa dos R$ 3,40, em função do aumento das apostas do mercado em relação ao impeachment.

Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, vê a ação da autoridade monetária como positiva. "O BC aproveita esse momento de baixa do dólar para reduzir sua posição vendida em swaps cambiais, o que ajuda no resultado primário do governo, ao mesmo tempo em que controla o excesso de volatilidade no câmbio", explica.

No mercado de juros futuros, o contrato de DI para janeiro de 2017 caiu de 13,760% na véspera para 13,750%; o contrato de DI para janeiro de 2021 recuou de 13,570% para 13,480%.

O CDS, indicador da percepção de risco do país, caiu 4,52%, para 358,989 pontos.

EXTERIOR

Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones fechou em alta de 0,94%; o S&P 500, +0,97% e o Nasdaq, +0,80%, impulsionados pela alta do petróleo.

Em Londres, o petróleo Brent subia 4,16%, a US$ 44,61 o barril, e, em Nova York, o WTI ganhava 4,39%, a US$ 42,13, com notícias de que a Rússia e a Arábia Saudita teriam alcançado um acordo para congelar a produção de petróleo. Os principais produtores se reunirão no próximo domingo (17) para discutir o tema.

As Bolsas europeias fecharam no terreno positivo, com exceção de Milão, que caiu 1,57%. Londres (+0,68%); Paris (+0,77%); Frankfurt (+0,81%); Madri (+0,57%).

Na Ásia, os principais índices acionários chineses caíram, com investidores realizando os lucros da alta de mais de 1% da sessão anterior. As ações do restante da região asiática subiram, lideradas pela recuperação das ações japonesas.


Endereço da página:

Links no texto: